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Como pode a economia portuguesa ser competitiva? O balanço do projeto Porter, 25 anos depois

Diversos atores políticos, incluindo o antigo ministro da Indústria e da Energia, Luís Mira Amaral, reuniram-se no seminário “Crescimento da Economia Portuguesa – o Deve e Haver do Projecto Porter”, organizado pelo Fórum para a Competitividade, em Lisboa, para avaliar o futuro da economia portuguesa.
14 Março 2019, 07h46

Foi há 25 anos que o governo liderado por Cavaco Silva encomendou um dos estudos que estruturou o debate sobre a estratégia da economia portuguesa. O professor de economia norte-americano Michael Porter traçou o diagnóstico das fragilidades e prescreveu as receitas para aumentar a competitividade da economia portuguesa, naquele que ficou conhecido como o projeto Porter.

Esta quarta-feira, diversos atores políticos, incluindo o então ministro da Indústria e da Energia, Luís Mira Amaral, reuniram-se no seminário “Crescimento da Economia Portuguesa – o Deve e Haver do Projecto Porter”, organizado pelo Fórum para a Competitividade, em Lisboa, para analisar o impacto do projeto Porter e avaliar o futuro da economia portuguesa.

“Segundo o modelo, a competitividade de cada nação reside na otimização desse diamante aplicado aos clusters setoriais regionalmente concentrados, em que o país já possui vantagens comparativas, sendo os clusters suportados por políticas públicas horizontais”, explicou Mira Amaral. Neste sentido, para o antigo ministro, se “o país tivesse tido outras condições de competitividade, não tivesse envergado pela via que enveredou, talvez o país não tivesse chegado à crise da divida soberana”.

Na visão do antigo ministro, a aplicação do projeto permitia melhorias nos sectores tradicionais, como o do calçado, têxtil e vestuário. No entanto, foi no setor do vinho, que considerou como tendo tido um “aumento de qualidade é evidente”.

O antigo ministro da Economia, Daniel Bessa, considerou que o “relatório foi uma revelação”.

“Para muita gente não terá sido, mas para mim sim, foi uma abordagem nova, chamando a atenção para uma série de factores que não fossem tão considerados”, como por exemplo, as indústrias co-relacionadas”, acrescentou. Foi também com este diagnóstico em mente que referiu que “o que correu mal a partir de 1995, foi a aposta no mercado interno”.

“A ideia de que o consumo interno é que iria fazer crescer a economia portuguesa, com políticas públicas pró-cíclicas e isso desviou a economia portuguesa com o mercado externo. Isso correu muito mal. A economia portuguesa a partir da viragem do milénio tem um desempenho miserável”, acrescentou. “E depois de 2000 quanto pior as coisas corriam no cenário internacional, cavou-se o défice das contas públicas. Aqueles seis setores tiveram um desempenho excepcional nos primeiros anos da troika, se o desastre não foi maior deveu-se ao vestuário, ao calçado, ao vinho”.

Para o dirigente do CDS-PP Adolfo Mesquita Nunes, que integrou uma das mesas de debate, “quando qualquer setor empresarial fica dependente dos políticos fica condenado”. O centrista considerou que o Estado português “não tem condições” para fazer opções estruturais sobre a economia portuguesa.

“Coisa diferente é os empresários conseguirem impor ao Governo prioridades e aí o do Estado tem um papel de ganhar escala, amplificar”, acrescentou.

Já o presidente do Fórum para a Competitividade, Pedro Ferraz da Costa, defendeu que o país necessita “reconhecer a importância dos objetivos de médio e longo prazo em termos da sua competitividade, evitando erros do passado, e assegurar a sua compatibilização com objetivos macroeconómicos de curto prazo”.

“Quando se procura quantificar os custos da crise, olhar para o potencial de crescimento de 2019 para 2028 dá-nos uma base para estimar quanto o que o desprezo pelas necessidades de modernização da economia, a condução leviana da macroeconomia e a criação de ilusões coletivas e de vantagens pessoais custaram ao país”, referiu.

Foi neste sentido que considerou que a preocupação central deve ser “assegurar que se fazem as reformas certas em tempo útil” e para tal é necessário, diz, “acordos políticos que possam sobreviver às mudanças de legislatura”.

“Temos portanto muito trabalho pela frente, indispensável e urgente para a próxima década”, vincou Ferraz da Costa.

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