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Competências numéricas

É de louvar o esforço desenvolvido por várias instituições nacionais de disponibilização a preço acessível de estudos e ensaios sobre as mais diversas temáticas de interesse para a sociedade, numa linguagem acessível sem excesso de dados numéricos ou linguagem gráfica, mas rigorosos na análise e fortemente ancorados na investigação empírica existente.
8 Março 2019, 07h15

Teci na crónica anterior algumas considerações sobre a necessidade de desenvolver competências de aprendizagem coletiva de forma a ser possível definir uma visão partilhada para o território. Sugeri uma aposta no desenvolvimento de estudos centrados na identificação de tendências em fase embrionária visando a difusão e partilha de conhecimento factual sobre temáticas de interesse pelo maior número possível de operadores e stakeholders. Os estudos em consideração permitirão também ganhar tempo em termos da identificação de desafios e a consequente implementação de medidas adequadas.

Outra área de relevo no âmbito do desenvolvimento das competências e capacidades acima identificadas reside no desenvolvimento alargado de competências numéricas e capacidade de análise de dados estatísticos. Não me refiro ao domínio de conceitos matemáticos complexos, nem a análises econométricas sofisticadas. Refiro-me a exercícios simples de análises de séries temporais, cálculos de percentagens, computo de médias, etc. Julgo ser de incluir neste exercício conhecimentos mínimos sobre as bases de dados (fontes oficiais) disponíveis, procedimentos de acesso às mesmas e download de ficheiros Excel. Incluo ainda a capacidade (e paciência) para identificar e considerar as múltiplas abordagens sobre determinado tema/variável, disponíveis em formato diferenciado nas diferentes bases de dados. Neste âmbito não posso deixar de considerar essencial o acesso a estudos, análises e relatórios produzidos e rubricados por instituições internacionais de relevo. Neste sentido é de louvar o esforço desenvolvido por várias instituições nacionais de disponibilização a preço acessível de estudos e ensaios sobre as mais diversas temáticas de interesse para a sociedade, numa linguagem acessível sem excesso de dados numéricos ou linguagem gráfica, mas rigorosos na análise e fortemente ancorados na investigação empírica existente. Partilhar uma visão de conjunto e assumir e comprometer-se com uma estratégia coletiva para o território implica também consensos mínimos sobre os números disponíveis, e sobre as conclusões que os mesmos encerram. Implica também envolver as gerações mais novas na construção de uma visão coletiva.

Embora as observações vertidas no parágrafo anterior parecem óbvias, a experiência subjacente a uma série de eventos na arena internacional, nomeadamente no que se refere ao impacto das chamadas fake news e às tendências em curso em termos dos métodos de acesso à informação sugerem ser necessário reforçar as capacidades analíticas e soft skills nomeadamente no que concerne à paciência requerida para analisar alguns temas. Dados recentes sugerem que as gerações mais novas retêm níveis de atenção reduzidos quando concentrados na análise de um tema, em linha com a experiência disponibilizada nos mais diversos dispositivos eletrónicos. Os dados sugerem também uma quebra no acesso a fontes de informação tradicionais (ex. jornais). No entanto, a análise de temas exigentes como o desenvolvimento económico nas suas múltiplas vertentes não se compagina com análises sumárias, sintéticas, baseadas em “notícias” veiculadas em redes sociais, etc. Implicam um exercício de cidadania consubstanciado na afetação de tempo para a análise de números e séries temporais, na leitura de análises (eventualmente sintéticas) produzidas por instituições reputadas, e na comparação de fontes diversas. Sei que falta tempo no dia a dia. Mas o tempo constitui uma variável incontornável na materialização do desenvolvimento económico.

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