Os preços das casas à venda em Portugal continuaram a subir mesmo durante a pandemia da Covid-19, mas os rendimentos disponíveis das famílias não acompanharam esta evolução. Depois veio o aumento dos juros no crédito habitação. É neste contexto que os dados do idealista/data informam que comprar uma habitação em Portugal ficou 42% mais caro entre junho de 2019 e junho de 2023, ao mesmo tempo que o salário necessário para garantir uma taxa de esforço de 30% no crédito habitação (a recomendada) mais do que duplicou em apenas quatro anos.
Já em 2019 os preços das casas estavam em alta, refletindo as subidas praticamente contínuas dos anos anteriores. Uma família conseguia comprar uma casa com dois quartos em Portugal pelo valor mediano de 147.604 euros, tendo de ter poupado mais de 44 mil euros para dar 20% de entrada no crédito habitação e pagar outras despesas relativas associadas.
Numa altura em que custo de endividamento das famílias para a aquisição de casa estava em 1,31% em Portugal, segundo os dados do Banco Central Europeu (BCE), uma família que avançasse com um crédito habitação no segundo trimestre de 2019 (com financiamento de 80% e prazo de 30 anos) pagaria uma prestação da casa de 396 euros por mês, o equivalente a 4.757 euros por ano, adianta o Idealista. Portanto, para pagar a prestação da casa de forma que a taxa de esforço não superasse os 30% o agregado familiar teria de auferir 1.133 euros líquidos por mês.
Tudo mudou para pior (dependendo dos pontos de vista). As famílias estão a comprar casas de tipologia T2 pelo valor mediano de 209.689 euros no segundo trimestre de 2023, um preço 42% superior face ao mesmo período de 2019. E as poupanças necessárias para avançar com a aquisição da habitação subiram na mesma medida para 62.907 euros. Além das casas estarem bem mais caras, os custos do financiamento bancário triplicaram para 4,14%. Tudo isto fez aumentar as prestações da casa para 807 euros/mês em 2023, mais do dobro da registada em 2019. Também o salário líquido necessário para que as prestações da casa não pesem mais de 30% no orçamento familiar duplicou entre estes dois momentos para cerca de 2.306 euros/mês.
As casas para comprar em Portugal ficaram mais caras em todas as capitais de distritos portuguesas entre o segundo trimestre de 2019 e igual período de 2023, à exceção de Portalegre (-23%).
Foi em Vila Real onde este aumento foi mais expressivo, segundo o Idealista. Nesta cidade, comprar uma casa com dois quartos custou, em termos medianos, 138 mil euros no segundo trimestre de 2023, mais 98% do que no mesmo período de 2019.
Entre as cidades em que o salário necessário para pagar a prestação da casa – com taxa de esforço de 30% – mais subiu em quatro anos está Ponta Delgada (+175%), Viana do Castelo (+173%), Faro (+153%) e Leiria (+141%), mostram os dados. No fundo da tabela está Portalegre, onde os preços das casas para comprar desceram 23% desde 2019, fixando-se em 54.363 euros no segundo trimestre de 2023. As subidas menos expressivas dos salários necessários para pagar a casa foram observadas ainda na Guarda (+53%), em Beja (+65%), em Bragança (+70%), em Lisboa (+74%), no Porto (+91%) e em Castelo Branco (+92%) – muito embora sejam também elevadas.
Sem surpresa, Lisboa é a cidade onde comprar casa é mais caro: o preço mediano fixou-se em 411.472 euros entre abril e junho de 2023. E, por conseguinte, para viver na capital portuguesa é preciso ter mais poupanças e estar preparado para pagar uma prestação da casa mais elevada, que se fixou em 1.584 euros mensais. Aqui as famílias têm de disponibilizar um salário líquido de 4.525 euros/mês para que a prestação da casa não pese mais de 30% no seu rendimento.
Logo a seguir está o Funchal, onde comprar casa custou 327.879 euros na primavera deste ano. Para viver na capital madeirense, as famílias têm de ter poupanças de quase 100 mil euros para fazer face às despesas iniciais com a compra da casa (20% do valor para a entrada no crédito e mais 10% para outras despesas, como impostos). E têm ainda de auferir 3.605 euros líquidos por mês para conseguir pagar uma prestação da casa de 1.262 euros sem que a taxa de esforço supere os 30%.
Também em Faro e no Porto os agregados familiares têm de ganhar salários líquidos superiores a 3.200 euros mensais para conseguir que a prestação da casa – que é superior a 1.100 euros/mês em ambas as cidades – não represente mais de um terço do rendimento disponível.
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