[weglot_switcher]

Conseguem imaginar o COVID sem um Sistema Nacional (e regional) de Saúde?

A contenção deste flagelo e a sua mitigação dependem precisamente da resposta que um sistema de saúde é capaz de dar.
1 Abril 2020, 07h15

A gestão pública do sector da saúde deve ser uma prioridade política em qualquer governação. O Sistema Nacional de Saúde (SNS) foi dos maiores feitos que resultaram do 25 de Abril e para quem o questione que outro sistema garantiria cuidados de saúde universais e gratuitos? Que outro sistema garantiria a todos os cidadãos o acesso à saúde seja qual for a sua condição social e económica? Seja de que região do país for e independentemente da sua situação perante o trabalho? Sim, o SNS foi das mais importantes conquistas da democracia portuguesa!

Conseguem imaginar não dispor de um sistema de saúde universal e gratuito perante a actual pandemia que nos ameaça a todos? Conseguem imaginar se o alvitre arreigado dos adeptos do “Chega” e do neoliberalismo de se privatizar a saúde se concretizasse? (permita-se-me um parêntesis para achacar o caricato que é ver muitos destes adeptos a troar apoios ao Estado, como se de repente fossem todos discípulos de uma escola keynesiana – a tal doutrina que se impôs nos anos 30 quando o capitalismo passou por uma das suas piores crises…). Os tais defensores de que ao Estado não compete disponibilizar serviços de saúde como resolveriam por estes dias o surto exponencial de doença por Coronavírus? Implementando um sistema de saúde privado sustentando pelas grandes seguradoras, como acontece, a exemplo, nos EUA? Sujeitando a população a constrangimentos de acesso no seu direito à saúde? Mais claramente, condenando à morte milhares de pobres por não poderem dispor de seguros ou dispondo-os, estes não terem cobertura suficiente ou tendo-a, as seguradoras criarem subterfúgios, por vezes, ilícitos para não pagarem os exames e tratamentos de saúde requeridos? Um documentário chocante mas bem esclarecedor sobre este sistema de saúde que muitos advogam é “Sicko- SOS saúde” de Michael Moore – sem me estender no mesmo (o melhor é vê-lo), retenho uma das situações: uma mãe viu morrer uma filha bebé após três dias consecutivos de febre alta e convulsões, e quando acorreu ao seu sistema de saúde, mesmo tendo seguro, a empresa a que pagava para lhe cobrir a assistência de cuidados, se negou a fazê-lo… Sim, e isto aconteceu num país “desenvolvido” em pleno século XXI, que se augura progressista, defensor dos direitos humanos e da justiça social.

Agora transponha-se esta realidade para o momento de pandemia que vivemos: é que a contenção deste flagelo e a sua mitigação dependem precisamente da resposta que um sistema de saúde é capaz de dar! Mesmo que a mortalidade por COVID seja baixa (comparando com a SARS ou a MERS) este é altamente contagioso e a facilidade com que se propaga é enorme podendo vitimizar milhares de pessoas de um momento para outro, e cuja recuperação ou sobrevivência dependerá precisamente da assistência médica que tiverem. Por outras palavras, dependerá do retorno e da agilidade do nosso SNS! A par da rapidez resolutiva dos agentes políticos para se evitar precisamente o colapso do sistema que administra a saúde gratuitamente a milhões de portugueses!

Que não se duvide: a saúde só pode ser socialista e humanitária! Não lucrativa! Quem ganha? Toda a população, sem qualquer critério de exclusão, incluindo o socioeconómico.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.