Paz social. Muito se fala do dever e da necessidade de se garantir a paz social nas empresas sejam elas públicas ou privadas. Em teoria, as partes outorgantes e os destinatários de uma convenção coletiva de trabalho devem abster-se de comportamentos conflituais. A realidade, porém, demonstra que a tão proclamada, e alegadamente valorizada, paz social, nem sempre parece ser devidamente tida em conta por algumas das partes outorgantes das convenções coletivas.

Isto dito, a juntar à excessiva confiança com que alguns abordam a paz social, outros há que a citam abusivamente, enquanto mero instrumento de retórica, distorcendo-a no seu espírito, com a finalidade de estancar a legítima contestação por parte dos trabalhadores e dos seus representantes sindicais.

A paz social é importante, como é óbvio, mas não deve ser alcançada com o esforço apenas de uma das partes. Não se peça aos trabalhadores, nomeadamente aos bancários, que sacrifiquem os seus legítimos interesses. Os acionistas não precisam da sua generosidade benemérita. Seria, aliás, muito mau sinal se necessitassem.

Estamos em meados de abril. Na Banca, porém, as tabelas salariais e as cláusulas de expressão pecuniária para 2024 permanecem por atualizar. Tabelas e cláusulas que podiam e deveriam estar já fechadas em nome da dita paz social.

As instituições financeiras, contudo, resistem a uma proposta de aumentos justos e razoáveis. Obstaculizam o fecho de um acordo equilibrado que salvaguarde os interesses de trabalhadores e acionistas. Um compromisso, repito, que poderia e deveria estar já fechado, em nome da tão proclamada paz social.

Sentindo a insustentabilidade da sua posição, os bancos têm vindo a avançar com aumentos interinos, cujo valor final será fechado em função do acordo que se vier a alcançar com os sindicatos. Como se esta solução fosse uma solução virtuosa, quando se trata, apenas, de um mero paliativo que não elimina a incompreensão e a insatisfação dos trabalhadores. Ruído desnecessário que consome capital de confiança. A paz social, claro está, sofre inutilmente com isto.

Talvez a Banca dê por garantida a paz social. Não será o caso da Caixa Geral de Depósitos, na qual ocorreu uma expressiva greve geral no final do passado mês de março. A restante Banca, contudo, parece estar confortável, excessivamente confortável, dando por adquirida a paz social.

Trata-se de um cálculo que está a exercer por sua conta e risco.