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Consórcio com Exxon Mobil prepara investimento de 102,2 mil milhões de euros no gás natural de Moçambique

A violência provocada pelo grupo armado al-Shabaab, no complexo industrial de Afungi, perto de Palma, causou dezenas de mortos e provocou o pânico nas equipas da petrolífera francesa Total que lideravam as obras em curso no seu projeto de investimento no sector de gás natural, na província de Cabo Delgado, ao norte de Moçambique. O Standard Bank Group sabe que um consórcio da Exxon Mobil prepara um pipeline de investimentos de 102,2 mil milhões de euros para esta zona, até 2026.
  • Estevão Chavisso / Lusa
31 Março 2021, 15h38

A recente ofensiva de violência extrema ocorrida na cidade de Palma, localizada na costa norte de Moçambique – perpetrada num ataque iniciado a 24 de março –, causada por uma milícia terrorista, salda-se em várias dezenas de mortos, tendo bloqueado projetos de gás natural liquefeito, designadamente, os investimentos da petrolífera francesa Total SE, estimados em 20 mil milhões de dólares – levando a sede da Total, em Paris, a ordenar a paragem das obras de construção. Estes ataques foram reivindicados pela célula local do Estado Islâmico.

O Jornal Económico sabe que no “pano de fundo” deste trágico momento vivido na Província moçambicana de Cabo Delgado, está uma das maiores operações de investimento de sempre no sector do gás natural, que, segundo admitiu o Standard Bank Group Ltd, sugirá depois de ser aprovado um pipeline de investimentos até 2026, que inclui a gigante Exxon Mobil, da ordem dos 120 mil milhões de dólares (cerca de 102,22 mil milhões de euros). Note-se que a Total adquiriu uma participação de 26,5% no consórcio do seu projeto de gás natural por 3,9 mil milhões de dólares em 2019 (cerca de 3,32 mil milhões de euros, ao câmbio atual).

O problema atual é que os investimentos que foram concretizados no terreno, entre eles os da francesa Total, não conseguem ter condições de segurança mínimas para manter equipas técnicas no local. As pessoas receiam pela sua integridade física, não têm condições de movimentação em segurança, mal conseguem dormir e impossibilitam o planeamento de atividades e o desenvolvimento de cronogramas detalhados com a evolução previsível das obras em curso.

Por poucas palavras, as ordens que a sede da Total transmitiu de suspenderem os trabalhos locais, são as mais prudentes e as únicas que podem ser tidas em consideração pelas equipas técnicas e pelos grupos de quadros de engenharia que foram destacados para acompanharem e superintenderem as obras neste projeto de gás natural que é considerado o maior do sector a nível mundial.

Não foi por acaso que as yields dos eurobonds moçambicanos dispararam 25 pontos base – para 10,45% – na segunda-feira, o que traduz o nível mais alto desde junho. A tragédia vivida na Província de Cabo Delgado está a devastar Moçambique, que já luta contra os efeitos negativos destas ofensivas conotadas com o Estado Islâmico há quase quatro anos, pois os problemas têm sido recorrentes desde outubro de 2017.

Em 2019, esta situação tornou-se muito complexa, porque as ofensivas armadas “terroristas” passaram a utilizar tecnologias sofisticadas, sendo quase óbvio que o seu alvo foi o “campus” da Total, no complexo industrial de Afungi, instalado numa zona costeira, a oito quilómetros de Palma, no interior da baía de Tungue, ao lado do Cabo Delgado, onde há seis ou sete anos reinava a perfeita calmaria africana, em que a paz e a bonomia dos costumes locais apenas eram alteradas pelos habituais festejos de sexta e sábado à noite.

Nesse mesmo local, a Total deixou de ter condições para equacionar as obras que tinha programado para construir o seu projeto de extração, a sua unidade de processamento no “trem” de liquefação e a restante infraestrutura de exportação de gás natural, captado no offshore costeiro moçambicano.

O grupo armado al-Shabaab – que não é filiado no grupo somali que tem o mesmo nome –, atacou povoações cada vez mais próximas ao “Campus” da Total, ainda em dezembro. Desde então, os franceses interromperam as obras e procederam à retirada das suas principais equipas técnicas.

Note-se que, agora, o último ataque sofrido pela equipa da Total ocorreu precisamente depois da companhia francesa ter anunciado que retomaria as obras – como referido, já interrompidos desde o início do ano, devido à falta de condições de segurança. Neste momento, a Total reduziu o número de colaboradores que tem nesta zona ao mínimo estritamente necessário.

Refira-se igualmente que o “Campus” da Total perto de Palma serve igualmente de infraestrutura para as instalações logísticas de várias outras empresas que estão a trabalhar nos projetos de GNL e que residem nos hotéis locais, sobretudo no “Amarula Palma Hotel”.

A fonte oficial do Ministério da Defesa de Moçambique, Omar Saranga, admitiu que o objetivo dos recentes ataques é desmobilizar as empresas que investem nos projetos de gás natural em Cabo Delgado. Na realidade, as condições de segurança locais são objetivamente más, sabendo-se que o Governo moçambicano tem o apoio de uma empresa militar privada que utiliza helicópteros armados.

Muitos dos trabalhadores estrangeiros foram evacuados por via marítima até Pemba, que fica praticamente a 250 quilómetros ao sul de Palma (as pequenas distâncias em Moçambique são sempre muito grandes). Este problema já provocou cerca de 2.600 mortos e 700 mil desalojados, segundo dados de organizações humanitárias internacionais.

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