Apesar dos municípios terem capacidade de gestão, a mobilidade e a sustentabilidade têm de ser pensados ao nível da área metropolitana, como um todo. Os dois temas estiveram em destaque na conferência ‘Zona de Impacto Global – Pensar o ESG’, organizado pelo Jornal Económico em parceria com o Novobanco realizado na Faculdade de Arquitetura de Lisboa e que teve como foco o debate sobre a importância do ESG (ambiental, social e governança) para um mercado mais sustentável e justo.
“Esta é uma conferência onde importa pensar o ESG, partilhar experiências e boas práticas e sobretudo refletir sobre aquilo que são hoje em dia os desafios ao nível do ecossistema da nossa realidade empresarial”, refere Patrícia Fonseca, administradora do Novobanco.
Para José Cardoso Botelho a sustentabilidade é importante para valorizar o património. “Tudo o que não for construído com sustentabilidade vai valer menos e por isso ser sustentável é absolutamente crítico”, afirma referindo-se ao controle térmico, acústica, eficiência energética e materiais que são utilizados.
O CEO da Vanguard Properties considera que os edifícios sustentáveis também são aqueles minimizam o consumo energético, assim como o consumo de água. “Nenhum fundo de investimento investirá, no futuro, em edifícios que não tenham elevada eficiência térmica, acústica e energética e certificações internacionalmente relevantes”, salienta.
O promotor imobiliário assume que há uma pressão muito grande dos bancos, das seguradoras e dos avaliadores para os projetos imobiliários serem sustentáveis.
“Mais dois a três anos e quem não tiver projetos imobiliários sustentáveis, não os vai conseguir financiar e não os vai vender, nem arrendar”, afirma José Cardoso Botelho.
“Quanto mais adiamos, mais pagamos o preço da mudança nas cidades”
Jorge Catarino, arquiteto e senior partner da Saraiva + Associados e ex-diretor municipal de planeamento urbano de Lisboa, defende que as cidades estão em permanente evolução, “são verdadeiros organismos vivos, pulsantes e dinâmicos” e como tal não é possível adiar mais a mudança que as cidades pedem.
“Quanto mais tempo demorarmos a agir, menor será a probabilidade de sucesso na mudança. Não somos um país rico, mas atuamos como tal. Quanto mais adiamos, mais pagamos o preço da mudança”, afirma, relembrando que até 2050, prevê-se que 70% da população mundial resida em áreas urbanas.
Para o arquiteto essa mudança assenta em quatro pilares fundamentais: sustentabilidade, tecnologia, Comunidade e oportunidade. O desenvolvimento urbano em Portugal aponta para uma concentração urbana de Caminha a Setúbal e ao longo da costa Algarvia. Um interior disperso, mas não menos produtivo. Uma grande área metropolitana, percorrendo o litoral centro e norte, com braços a entrarem pelo interior, com a coluna vertebral da Estrada Nacional N2 a unir esse interior.
“As cidades assumirão as centralidades desta mega-urbe e terão de garantir a permanência das suas características mais marcantes e que fizeram delas os polos de atracção principal da sua existência”, salienta.
Já a presidente da Câmara Municipal de Almada considera não ser possível pensar em desenvolvimento sustentável que não seja idealizado, também, em função da comunidade, realçando que o urbanismo “tem de ser pensado não só em termos de lazer, mas também colocando no centro o desafio da mobilidade”.
Inês de Medeiros defende que a sustentabilidade não é uma opção, mas sim uma realidade incontornável e considera que neste “calvário” que é a revisão dos Plano Diretores Municipais (PDM) é importante juntar ambiente ao planeamento urbanístico, já que a sustentabilidade está nestes domínios.
“Na maior parte dos municípios não estamos a fazer uma planificação urbanística, estamos a reordenar um caos urbanístico, e em Almada isso é muito evidente”, afirma.
No entanto, a presidente da Câmara de Almada vê “pouca reflexão relativamente à questão do trabalho ao mesmo nível dos espaços verdes. Como é que respondemos a quem não é nómada digital, à boa velha classe trabalhadora que, muitas vezes, fica de fora destes planos sustentáveis?”
“Ainda estou a desenvolver terrenos do tempo de Caetano”
Quem também se mostra crítico sobre o planeamento do território é o líder da autarquia de Oeiras, Isaltino Morais, recordando que só a partir de meados da década de 1980 é que os municípios começaram a ter competências no planeamento do território.
“Neste momento, ainda estou a desenvolver programas em terrenos que foram urbanizados no tempo do Marcelo Caetano”, afirma, sublinhando que um terreno mesmo que seja urbano demora entre quatro e dez anos para ver aprovado um Plano de Pormenor. Como tal, o autarca defende que “não é possível haver políticas integradas na área metropolitana de Lisboa se, porventura, não houver um governo metropolitano”.
Uma das soluções que tem vindo a ajudar os municípios a desmaterializar processos, tornando-os mais rápidos e transparentes, é a tecnologia. Mas para Nuno Piteira Lopes, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, ainda há um “caminho gigante a percorrer”.
“A tecnologia pode e deve ser um pilar fundamental para resolver os problemas das pessoas se a utilizarmos efetivamente para resolver esses problemas”, diz, dando o exemplo de Cascais, onde, no urbanismo, há nove anos que não é possível entregar qualquer projeto em papel na câmara.
O vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais exemplifica com o trabalho que tem sido feito na autarquia. “Na área do urbanismo há nove anos que não é possível entregar qualquer projeto em papel na câmara”, referiu, notando que a desmaterialização torna os processos “mais transparentes”, uma vez que os munícipes passam a saber exatamente os vários passos dados e quanto tempo demoraram a dar.
Nuno Piteira Lopes considera que há, no entanto, ainda “um caminho gigante por percorrer” ao nível da tecnologia, havendo ainda alguns processos que precisam de ser desmaterializados.
“Hoje para se fazer o registo animal é preciso tirar um dia de trabalho”, uma vez que é preciso ir à junta [de freguesia] fazer isto. “Só se faz em papel. Não conheço nenhuma junta que tenha desmaterializado o boletim animal”, refere, salientando que “a tecnologia vem ajudar a resolver muitos problemas se estiver focada em resolver os problemas das pessoas”.
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