A criação de novas Áreas de Reabilitação Urbana (ARU) é uma das medidas que o Governo deve adotar para promover o crescimento do parque habitacional português num quadro em que o número de fogos disponível é claramente insuficiente para a procura. A distorção da curva entre a oferta e a procura é apontada por todos os agentes do mercado como o motivo que mais influencia a formação dos preços da habitação – que se faz sentir com especial impacto nos grandes centro urbanos.
É esta a visão de Carlos Couto, CEO da construtora Gabriel Couto, que, em entrevista ao Novo e numa altura em que o sector ‘ganhou’ um ministério (liderado por Marina Gonçalves), disse que “Um aspeto muito importante é o alargamento das zonas ARU: fazem baixar o IVA à construção para 6%, o que tornará os preços de habitação mais baratos e, como tal, facilitando o acesso à habitação a pessoas cujos atuais preços de construção, tornam o mesmo impossível ou arriscado, em particular para os jovens.
A par desta medida, Carlos Couto pede também “a desburocratização de muitos procedimentos administrativos que permitam uma mais célere aprovação de projetos, sem com isso diminuir as exigências técnicas, urbanísticas e ambientais dos mesmos”.
A adoção de um conjunto de regras que permitam o aumento do parque habitacional teria também como consequência auxiliar o sector a encarar 2023 de uma perspetiva mais otimista: “O ano de 2022 foi uma prova muito dura para o nosso sector, que mostrou mais uma vez a sua resiliência e capacidades criativas para os enormes desafios que teve de enfrentar”.
O empresário recorda que “o Governo, através do PRR, teve uma ambição de construir cerca de 25 mil novos apartamentos para resolver o problema da habitação para a população mais desprotegida, um volume de investimento de cerca de 2,5 mil milhões de euros e, de igual forma, pretende também criar cerca de 20 mil novas camas em residências para estudantes. Ambos os projetos com dinheiro integralmente da União Europeia terão de estar concluídos até final de 2026”. Neste contexto, “se a isto somarmos os cerca de 30 mil fogos que a iniciativa privada colocará no mercado, bem como outros projetos de natureza pública – hospitais, centros de saúde, etc. – vemos o enorme desafio que se apresenta, não apenas ao sector, mas a toda a fileira da construção”.
É uma espécie de ‘tábua de salvação’ depois de um ano particularmente duro: “Quando se estava a recuperar de uma crise provocada pela pandemia, surgiu a guerra na Ucrânia, provocada pela invasão russa. As consequências foram devastadoras, devido ao aumento exponencial do custo energético, à disrupção na logística dos transportes, à falta de matérias-primas e materiais de construção e, claro, a alguma especulação que se faz sentir sempre neste período de crise. Isto provocou um aumento exponencial nos fatores de produção, levando a taxas de inflação que já não conhecíamos há cerca de 30 anos”.
Mesmo assim, na opinião de Carlos Couto, “a natureza familiar da maior parte das empresas do nosso sector que hoje ainda se mantêm, por si só já não é um elemento facilitador de processos de fusão/aquisição”, que permitiram ganhar escala e músculo financeiro para responder melhor à conjuntura de crise”. “Estou convencido que se irá manter” o atual panorama do sector nesta matéria em particular.
Na opinião de Carlos Couto, não há uma bolha imobiliária em Portugal. “Houve um aumento efetivo, real do custo da construção que, obviamente, se ressentiu no preço de venda dos edifícios. À exceção de alguns nichos de mercado para a construção de luxo ou em locais premium, os preços de habitação estão em linha com o aumento do custo da construção e estão também a corrigir em baixa”.
A Gabriel Couto não ficou, “obviamente, imune aos efeitos que a situação da pandemia e da guerra provocaram em todo o sector”. Nesse contexto, a empresa faturou 101,5 milhões de euros, um pouco menos que os 103,8 milhões de 2021. “Em relação ao nosso orçamento inicial para 2022, tivemos uma quebra na parte internacional, devido à ainda paralisação total do projeto da rede de gás no Norte de Moçambique, que a TOTAL está a desenvolver e na qual a nossa empresa estava particularmente envolvida.
Mesmo assim, afirma Carlos Couto, “estamos bastante otimistas com a nossa atividade para 2023. Temos em Portugal uma carteira robusta que, pensamos, durante o mês de janeiro, reforçar. A construção hoteleira, a construção de residências universitárias, a edificação social pública e a construção residencial serão os eixos principais da nossa atividade na área da construção civil”.
Na parte internacional, “a obra que estamos a desenvolver no Ghana, no montante de 95 milhões de euros” e projetos previstos para Angola e Moçambique, dependente “do desaparecimento definitivo do problema do terrorismo”, são o grosso dos projetos em cima da mesa.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com