A atual crise resultante da Covid-19 tem-se revelado um verdadeiro acelerador na transformação da vida do consumidor, tanto a nível externo – social, cultural e económico – como interno – psicológico e pessoal.

Se por um lado, a digitalização massiva do seu quotidiano, devido à imposição de medidas de confinamento, forçou à criação e partilha de novas rotinas familiares e de trabalho num só espaço; por outro, o encerramento das lojas a retalho – bens não essenciais –, a instabilidade dos mercados, a incerteza do futuro das empresas, o aumento do desemprego e a perda de poder económico, diminuiu drasticamente os níveis de consumo.

Embora as alterações que vemos atualmente nos padrões de consumo sejam, em grande parte, resultado de condições extrínsecas, a verdade é que se verifica também uma mudança nos valores, fruto do tempo de introspeção em isolamento – as pessoas passarão agora a valorizar ainda mais a saúde e o bem-estar, e a felicidade transformar-se-á num valor comercial tangível. A crise sanitária veio ainda colocar a tónica na relação desequilibrada entre seres humanos e natureza e na importância das nossas escolhas individuais.

Perante este cenário, a questão que se coloca é qual o futuro do consumo sustentável num mundo pós pandemia?
Na última década vimos surgir um movimento de consumo consciente que despoletou, embora de forma tímida, a transformação dos modelos de negócio de algumas marcas com o intuito de responder às inquietudes destes novos consumidores – aposta num modelo mais circular, produtos mais sustentáveis, maior transparência na cadeia de abastecimento e proximidade com os ‘stakeholders’. Apesar de alguma estagnação nos últimos três anos, as escolhas socialmente responsáveis voltam a ganhar momentum com o impacto da Covid-19. Segundo estudos recentes, os consumidores estão a reavaliar a sua responsabilidade perante a sociedade e a das marcas às quais decidem comprar.

Nesse sentido, haverá um aumento nas expectativas face ao comportamento das empresas e esse será um fator a considerar na hora da decisão. Sendo este um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2030, o consumo e produção sustentáveis será um ponto relevante na transformação dos modelos de negócio e que contribuirá para uma melhoria significativa da qualidade de vida através da redução do uso de recursos naturais e materiais tóxicos.

A verdade é que, não obstante as consequências devastadoras a todos os níveis da sociedade, esta crise é claramente uma oportunidade para uma mudança mais profunda e sistémica, num caminho para uma economia mais sustentável e benéfica para as pessoas e para o planeta. Mais do que nunca, enquanto pessoas e consumidores, estamos conscientes da fronteira que cruzamos com a natureza e esta é a altura ideal para um “build back better”.