O turismo é, a nível mundial, um dos sectores mais afetados pela pandemia de covid-19 e aquele que, com grande probabilidade, irá recuperar mais lentamente. Em Portugal, a atividade turística valia, em 2018, 14,6% do PIB, 8% do Valor Acrescentado Bruto e 9% do emprego nacional. O turismo é, de resto, o sector mais exportador do país. Foi responsável, em 2019, por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das exportações totais. Por outro lado, o turismo é um dos principais fatores de desenvolvimento regional e de sustentação das economias locais.

Isto significa que a retração da procura turística, sobretudo internacional, penaliza contundentemente o crescimento e o emprego do país. Entre os 36 países-membros da OCDE, Portugal é, aliás, um dos que apresenta a maior percentagem do PIB resultante do sector do turismo. Situação que, convenhamos, não é a ideal, considerando que a procura turística está dependente de fatores que o país nem sempre controla (como é o caso das pandemias) e a circunstância de o sector criar inevitavelmente muitos empregos pouco qualificados e gerar pressão sobre o ambiente, o património e o parque imobiliário.

Independentemente do sobrepeso do turismo na nossa estrutura económica, importa continuar a apostar nesta atividade em Portugal. Temos de facto uma oferta turística de qualidade, competitiva e diferenciada no contexto internacional. Logo, seria um erro estratégico não apoiar a retoma do turismo português após a atual crise sanitária. O país tem de preservar a reputação internacional que a sua oferta turística ganhou nos últimos anos e que se refletiu não só num constante aumento de hóspedes, dormidas e mercados mas também na conquista dos mais prestigiados prémios mundiais da especialidade.

Estou esperançado de que o turismo internacional regresse em breve ao país. Portugal é apontado internacionalmente como um bom exemplo no combate à pandemia de covid-19 e temos condições objetivas para restabelecer a confiança dos turistas. A saber, infraestruturas turísticas (hotelaria, museus, empresas de animação, alojamentos locais…) preparadas para garantir a segurança sanitária, autoridades de saúde competentes e instituições hospitalares de excelência. Mas são necessários programas públicos de incentivo à retoma do turismo, incluindo projetos de empreendedorismo jovem, que tantas vezes têm sido responsáveis por novos modelos de negócio no sector.

Não temos, felizmente, uma economia planificada, pelo que é em grande medida o mercado a definir a oferta de turismo em Portugal. Mas são muitos os exemplos de que o turismo massificado pode ser contraproducente, na medida em que degrada a qualidade de vida quer dos residentes, quer dos turistas. E também sabemos que as questões ecológicas condicionam cada vez mais as decisões dos turistas, sendo por isso avisado minorar o impacto ambiental da atividade turística. Neste sentido, a crise pandémica pode ser uma oportunidade para reforçarmos o investimento num turismo de maior valor acrescentado, mais sustentável e mais qualificado.

Não sou um especialista do sector, mas parece-me que um dos grandes fatores competitivos do nosso turismo é a autenticidade do país e das suas gentes. Ora, se apostarmos em produtos turísticos indistintos e massificados, estamos certamente a abastardar o caráter genuíno que nos distingue de outros países.