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“Continuo muito cético em relação à economia portuguesa”, diz presidente da Jerónimo Martins

Num dos melhores anos de sempre da atividade do Grupo Jerónimo Martins – 2019 – o seu presidente, Pedro Soares dos Santos, considera que há constrangimentos em Portugal que impedem que o desenvolvimento dos projetos empresariais e industriais tenha um sucesso semelhante ao que se comprova em outros mercados, como a Polónia ou a Colômbia.
  • Cristina Bernardo
21 Fevereiro 2020, 15h35

No melhor ano de sempre de atividade da rede Pingo Doce – 2019 – o maior empregador português, o Grupo Jerónimo Martins, com 115.428 trabalhadores, mais 6.868 em em 2018, junto dos quais distribuiu prémios no valor de 137 milhões de euros, reconhece o crescimento económico alcançado no ano passado, mas diz que a economia portuguesa não tem a pujança de outros mercados, continuando a ser penalizada por constrangimentos como o moroso processo de licenciamento industrial. O alerta foi hoje feito pelo presidente do Grupo Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos no dia em que divulgou os resultados do seu grupo relativos a 2019. “Não crescemos como Polónia e a Colômbia”, comenta Soares dos Santos, considerando que “em Portugal falta determinação, precisava de haver menos política e mais vontade de acreditar na economia privada, como grande motor de tudo, tal como é necessária mais estabilidade fiscal e laboral e proteção ao investimento”.

Pedro Soares dos Santos estabelece a comparação com a” Colômbia, que é o país da América Latina que mais cresce, a um rítmo de 3,3% ao ano”. “A Colômbia está com imensos refugiados da Venezuela – já terá cerca de 2 milhões -, regista uma inflação alimentar de 4,9%, e é um país estável do ponto de vista social”, onde os projetos de investimento conseguem crescer com sustentabilidade e solidez, sem sobressaltos, refere o presidente do Grupo JM.

Na Colômbia “têm uma enorme determinação a atingir os objetivo”, diz, comentando que a evolução da rede ARA” tem sido uma agradável surpresa”. “Não aconteceu nada que me tivesse desiludido na Colômbia. As vendas cresceram mais 30,8%, para 784 milhões de euros (mais 37,9% em moeda local), abrimos mais 84 lojas, e em todas praticamos uma estratégia que privilegia o preço, a oferta, a proximidade ao cliente, e tudo isso é comum a todas as nossas cadeias”, refere Pedro Soares dos Santos. Na campanha feita para o mercado colombiano, “Amigos del Bosque” o Grupo JM efetuou 68 lançamentos no sortido permanente, tendo 45% de peso da marca própria nas vendas”, refere. A Colômbia é assim um mercado onde os projetos funcionam e crescem. De certa forma, o mercado português não consegue evoluir com uma determinação semelhante, comenta o presidente da JM.

Por isso diz que quando aterra de avião em Bogotá, já se sente em casa. “Sei que a América Latina não é a Europa. São dois mundos diferentes”, diz. Pedro Soares dos Santos explica que o seu grupo teve um processo de aprendizagem e adaptação ao mercado da Colômbia que decorreu nos últimos cinco anos. Agora diz que o seu grupo vai ver “o fruto desta aprendizagem nos próximos cinco anos. É preciso perceber que há trabalhos na Colômbia que são só para eles. Acho que vamos ter uma história muito bonita para contar na Colômbia. Os primeiros cinco anos ensinaram-nos uma lição que vai ser muito importante para os próximos cinco anos na Colômbia”, refere.

Enquanto isso, apesar dos constrangimentos do mercado em Portugal, o ano de 2019 foi um dos melhores de sempre para o Grupo JM. a rede “Recheio passou os mil milhões de vendas, mais 2,7% em termos homólogos”, refere Pedro Soares dos Santos. A estratégia do preço-oferta continua a ser a base do modelo de negócio do Recheio. “Tem nos vinhos e na hotelaria um pilar da oferta das lojas Recheio”, adianta Soares dos Santos.

Outros projetos também evoluíram em Portugal. “Salmão já cresce nas águas portuguesas”, diz, com evidente satisfação, mas “nem tudo tem sido fácil”, adverte. “Dá para crescimento. E o salmão tem um crescimento sustentável para o consumo. Mas ainda não conseguimos escolher o local certo em alto mar para manter a produção em condições de mar adversas”, explica Soares dos Santos.

Também no sector agroalimentar, o presidente do Grupo JM refere que “continuamos a investir forte na produção de carne. No futuro próximo as pessoas vão consumir menos carne, mas a qualidade tem de ser garantida”, explica, dando como exemplo o projeto Best Farmer, que agrupa produtores de vitelos, onde a rastreabilidade do gado é muito importante. Esta atividade é a origem de 45% do total de vendas de carne da raça Angus, no Pingo Doce. Pedro Soares dos Santos refere que há uma questão que considera muito importante nesta área que é a destas explorações serem certificadas ao nível do bem-estar animal dos efetivos criados. Em relação à produção de leite, Soares dos Santos explicou que esta área do Grupo JM já produz 61 milhões de litros de leite para o Pingo Doce e para o Recheio. “Temos leite fresco, que, por enquanto, ainda é para fornecimento próprio”, refere, Na aquacultura, na Madeira tem produção de douradas (já 894 toneladas) e em Sines produzem robalos.

O presidente do Grupo JM refere que a sua equipa de gestão tem um compromisso em” atingir a rentabilidade com responsabilidade”, por isso considera tão importante que o seu grupo esteja presente em 60 índices internacionais de sustentabilidade. “Nenhuma companhia vai ter futuro se não olhar para estas áreas com muita energia”, considera, admitindo que os “lucros sem terem em atenção estas realidades, vão-se ‘perder’ no tempo, porque o consumidor é cada vez mais sensível a estas questões da sustentabilidade e da responsabilidade corporativa”. “Temos de comprar com responsabilidade. Temos de perceber o que estamos a comprar. E de perceber o impacto que a nossa atividade pode ter na vida da região”, refere Pedro Soares dos Santos. Um bom exemplo é o aproveitamento da fruta e dos legumes não calibrados. Há já 13.600 toneladas de fruta e legumes não calibrados  que são utilizados pelo Grupo Jerónimo Martins na produção de sopas e saladas. “Há sempre soluções para não haver desperdício”, observa Soares dos Santos. Neste sentido, o presidente da JM refere que a sua empresa é “o único retalhista alimentar com notação A- que corresponde ao nível máximo”. Uma das questões incontornáveis para Soares dos Santos é a da responsabilidade social: “temos 20 milhões de euros investidos em programas de responsabilidade social, com 3587 tratamentos do programa SOS Dentista em Portugal”, refere

Neste enquadramento, Soares dos Santos reconhece ter sido “notável o desempenho a todos os níveis” da JM em 2019, em que os lucros cresceram 7,9% face ao ano anterior, ascendendo a 433 milhões de euros, com destaque para o desempenho das vendas consolidadas, que ascenderam a 18,63 mil milhões de euros, mais 7,5% que o valor registado no ano passado. Já o EBITDA teve um crescimento da ordem dos 8,9%, aumentando para 1,045 mil milhões de euros, ultrapassando pela primeira vez a fasquia consolidada dos mil milhões de euros. A respetiva margem subiu para 5,6%. A nível internacional, o grupo JM confirma a “redução das perdas de EBITDA da marca ARA”, na Colômbia, e ainda o “breakeven do EBITDA da Hebe”, a rede de produtos de saúde que a JM tem na Polónia. A JM vai distribuir um valor de dividendo da ordem dos 216,8 milhões de euros relativo ao exercício de 2019.

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