A atenção obsessiva que muitos meios de comunicação social dedicam à notícia, à análise ou à reportagem dos diversos ataques terroristas que têm acontecido nos últimos anos, tem um efeito de ampliação do horror e do sofrimento, estimula o voyeurismo macabro, produz um aumento da angústia geral nos cidadãos e tem, ainda mais perversamente, um efeito de promoção do próprio terrorismo.

É que aqueles que andam a perpetrar estes ataques sentem-se duplamente motivados: por um lado, pela perspetiva do impacto direto que causam com os mortos e feridos que os seus ataques geram; por outro, enchem-se de uma megalomania doentia com a perspetiva de os seus crimes virarem fenómenos mediáticos.

Numa era de informação sem fronteiras, onde o que mais conta é a mediatização e a viralização, o circo mediático que estes ataques desencadeiam é um reforço positivo para esse terror. Os terroristas que hão-de vir, estimulam-se com as imagens dos ataques anteriores e ficam a fantasiar o orgulho que terão se forem capazes de provocar tamanho impacto na sociedade.

É verdade que os meios de comunicação social não conseguem parar o terrorismo. Mas devem entender que o seu dever de informar não se pode enredar numa competição por audiências que descamba numa obsessão descritiva que, de tanto pormenor e repetição, se torna pornográfica.

É responsabilidade social dos meios de comunicação terem uma contenção no tempo dedicado à divulgação do terror. Aí sim, é preciso pudor. De resto, precisamos, enquanto sociedade, de ter as prioridades alinhadas. Perante estes ataques, temos que:

  1. Dar auxilio às vítimas sobrevivas;
  2. Dar apoio psicológico, logístico e financeiro aos familiares das vítimas;
  3. Prevenir futuros ataques através da atuação articulada dos serviços policiais e de informação (o jornalismo de investigação talvez pudesse dar aqui uma ajuda);
  4. Identificar e combater as anomias sociais que propiciam a gestação de pessoas que se sentem tão desconectadas da sociedade que se tornam fortes candidatos a fazerem o terror a si (como na Baleia Azul) ou aos outros (como nos ataques terroristas).

É neste quadro de prioridades que os meios de comunicação se têm que encaixar e perceber que o seu papel nestas situações, como em muitas outras, é definido em função de um interesse público, não em função dos seus interesses particulares.