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“Contra factos não há argumentos”

Com alguns meses de investigação, análise de números e de dados, observação das medidas aplicadas pelos diferentes países e a sua eficácia, já é possível retirar ou pelo menos observar o surgimento de alguns indícios ou conclusões, particularmente relevantes acerca da transmissão ou mitigação deste vírus “que não nos larga”.
19 Agosto 2020, 07h15

Nas últimas semanas têm surgido várias controvérsias sobre aquilo que é o assunto do momento (há já alguns meses diga-se de passagem!), ou seja, o COVID-19. Mais precisamente, questionam-se se as estratégias utilizadas para a sua prevenção/remediação, tal como o uso de máscaras, o distanciamento social, a necessidade de desinfeção quase constante, entre muitas outras diretrizes que têm surgido, serão eficazes ou apenas um incómodo desnecessário ao quotidiano de todos nós. As opiniões dividem-se, como já é hábito em qualquer assunto, por isso mesmo hoje fui à procura de casos de sucesso e do que o mundo da ciência nos diz sobre este assunto.

Com alguns meses de investigação, análise de números e de dados, observação das medidas aplicadas pelos diferentes países e a sua eficácia, já é possível retirar ou pelo menos observar o surgimento de alguns indícios ou conclusões, particularmente relevantes acerca da transmissão ou mitigação deste vírus “que não nos larga”. Vejamos o caso da Nova Zelândia. Este país reportou, até à data, um dos números mais baixos de casos, mas o que fez este país para o conseguir? Segundo notícias e dados reportados, a Nova Zelândia instaurou o confinamento obrigatório extremamente rápido, quando tinha apenas cerca de uma centena de casos ativos. Os seus cidadãos respeitaram as restrições impostas e os viajantes internacionais cumpriram 14 dias de quarentena obrigatória. Cerca de 5 semanas após a implementação destas (e outras tantas) medidas restritivas o número de casos começou a diminuir (Baker, Wilson, & Anglemyer, 2020). Até há bem pouco tempo a Nova Zelândia tinha estado cerca de 100 dias sem nenhum caso novo, algo inédito quando comparado com os restantes países do mundo, porém voltaram a surgir recentemente novos casos na cidade de Auckland. O surgimento destes novos casos levou de imediato esta cidade a um novo estado de confinamento obrigatório e as mesmas precauções utilizadas logo no início desta pandemia, que se mostraram eficazes, estão a ser colocadas em prática para evitar a propagação do vírus nesta cidade e no país. Experts referem que as estratégias implementadas na Nova Zelândia, como seja, o confinamento atempado, o respeito dos cidadãos no cumprimento das restrições, a realização de testes em massa, o rastreio e a vigilância de contactos, uma boa comunicação governamental, tudo isto (e muitas outras medidas) aliado a decisões rápidas, baseadas na ciência, têm sido elementos para o sucesso na forma de lidar com o COVID-19 (Millher & Landsverk, 2020).

Mas a investigação tem também trazido algumas “luzes” sobre a eficácia das diferentes estratégias adotadas. Estudos como o de Panovska-Griffiths, Kerr, Stuart, Mistry, Klein e Viner (2020) confirmam que a realização de testes, um rastreio e vigilância eficaz, assim como o confinamento são estratégias que podem prevenir uma nova “onda” de COVID-19, particularmente com o aproximar do início do ano escolar. Noutro estudo, Leffler, Ing, Lykins, Hogan, McKeow e Grzybowsi (2020) referem que a existência de regulamentações e políticas que suportam o uso de máscara, assim como o controlo de viagens, estão associadas a uma menor mortalidade. Lyu e Wehby (2020) numa outra investigação mencionam que o uso de máscaras em espaços públicos pode ajudar a mitigar a propagação do vírus e  Mitze, Kosfeld, Rode & Walde (2020) num estudo realizado na Alemanha concluíram que o uso de máscara reduziu o ritmo de crescimento diário das infeções reportadas em cerca de 40%. Estudos em Oxford (Mills, Rahal, & Akimova, 2020) também revelam que, para além do distanciamento social e da higienização das mãos, o uso de máscara, deve fazer parte das políticas, referindo que não será apenas uma única medida que será eficaz, mas será a combinação de várias medidas que contribuirão para a redução do risco de transmissão.

Martin Luther King Jr. afirmou que a “educação deve habilitar cada indivíduo a examinar minuciosamente e a ponderar as evidências, discernir o verdadeiro do falso, o real do irreal e os fatos da ficção”. Apesar de sempre existir uma margem para o erro, parece-me, pois, que “contra factos não há argumentos”. Por isso já é tempo de todos cumprirmos a nossa parte, para que esta nossa história faça rapidamente parte apenas dos livros de História.

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