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Contratação de médicos cubanos é sinal da incapacidade de fixar médicos no SNS, diz Mariana Mortágua

O Jornal de Notícias avança na edição de hoje que o Governo português está a preparar a contratação de 300 médicos cubanos para o SNS, tendo já pedido parecer sobre o processo de reconhecimento de qualificações ao Conselho de Escolas Médicas Portuguesas e à Ordem dos Médicos.
5 Julho 2023, 15h00

A líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, considerou hoje que a contratação de 300 médicos cubanos “é um sinal da emergência da incapacidade” do Governo em fixar os clínicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O Jornal de Notícias avança na edição de hoje que o Governo português está a preparar a contratação de 300 médicos cubanos para o SNS, tendo já pedido parecer sobre o processo de reconhecimento de qualificações ao Conselho de Escolas Médicas Portuguesas e à Ordem dos Médicos.

Comentando esta notícia, à margem da concentração que juntou hoje cerca de 150 médicos em frente ao Hospital Santa Maria, em Lisboa, no primeiro de dois dias de greve convocada pela Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Maria Mortágua afirmou que também é um sinal “da desistência” do Governo para fixar profissionais de saúde.

“É óbvio que, quando há falta de médicos, não há nenhum problema em que possam vir profissionais de outros países complementar o SNS. O problema é que há falta de médicos, porque o Governo é incapaz de dar aos médicos portugueses, aos médicos que se formaram em Portugal, condições para cá ficarem”, lamentou.

Mariana Mortágua salientou que “nunca emigraram tantos médicos como agora”, porque os jovens formam-se no SNS, mas depois não têm condições para ficar.

“Depois para colmatar a falta de médicos, vai-se tapando esses buracos com contratações de fora, com tarefeiros, com contratação a privados”, lamentou, avisando que é “a destruição do SNS que está em causa”.

Para a líder bloquista, “chega a ser desesperante que o Governo não queira perceber qual é o fim da estrada que está a ser percorrida a uma velocidade estonteante”.

Instada a comentar as declarações do primeiro-ministro, António Costa, que afirmou, comentando a greve dos médicos: “Cada um tem as suas razões. Eu aqui não sou do sindicato dos médicos”, mas presidente “sindicato dos portugueses”, Mariana Mortágua afirmou que o chefe do Governo “tentou criar uma divisão entre os portugueses e os médicos”.

“Eu penso que essa é uma lógica errada. Não se pode, nem se deve colocar os profissionais contra os utentes, porque os médicos estão aqui a lutar por um SNS para todos os utentes”, uma vez que sabem que, faltando profissionais, “não se consegue responder a todas as pessoas”.

Por outro lado, salientou, “os utentes e os portugueses sabem que precisam de ter um SNS e, por isso, apoiam os médicos que fazem greve”.

Para Mariana Mortágua, o que não pode acontecer é que “o Governo continue a sacrificar o SNS no altar da obsessão das almofadas financeiras, dos excedentes orçamentais”.

“Como se explica um país que está em excedente orçamental, que tem consecutivamente almofadas orçamentais, e depois consegue dizer na cara aos profissionais do SNS que trabalham horas extraordinárias sem fim, que não pode aumentar os salários base, nem dar uma contrapartida pela exclusividade”, questionou.

Para ultrapassar esta situação, deixou “uma proposta muito simples”: “40% de majoração salarial para os médicos que decidam ficar em exclusividade, mas sem aumento das horas extraordinárias”.

“É uma proposta muito simples para resolver um problema difícil e que está a criar uma situação de emergência no país”, rematou.

Presente da concentração, o dirigente do PCP Bernardino Soares disse à Lusa que “o Governo está a fazer tudo para entregar cada vez mais cuidados de saúde e recursos públicos ao setor privado”.

“Estamos à porta de um hospital que, sem as obras, estarem perto de começar, já está a mandar grávidas para o setor privado”, disse, considerando que este é “um bom exemplo” do que está a acontecer e que “não serve a população”.

“O Governo fala agora em dedicação plena dos médicos, mas com condições que mais valia chamar-lhe exploração plena (…) ninguém aceita esta situação. Os médicos com certeza não aceitam”, disse Bernardino Soares.

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