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“Coronavírus é uma epidemia chinesa, mas os seus efeitos económicos sentem-se a nível mundial”, diz Peter Villax

A China tem 99% dos doentes com coronavirus. Só 1% estão no resto do mundo. Mas “os efeitos económicos desta doença sentem-se a nível mundial”, alertou o administrador da Hovione, Peter Villax, no debate sobre o coronavírus e as consequências para a economia e para o mundo, promovido pela SEDES em Lisboa.
Peter Villax na SEDES
Peter Villax na SEDES
11 Fevereiro 2020, 01h05

O coronavírus “é uma epidemia chinesa”, explicou o empresário Peter Villax, esta segunda-feira, 10 de fevereiro, em Lisboa, admitindo que os efeitos económicos deste problema serão sentidos a nível mundial. O vice-presidente da Farma e Inovação e Chairman da Hovione Capital participou na última edição dos debates “Fim de tarde na SEDES com quem sabe”, abordando o tema “Coronavirus e o impacto na sociedade”.

Peter Villax explicou que 72% dos casos de pessoas infetadas com o coronavírus “2019-n-CoV” (que é a designação científica do vírus) estão circunscritos à província chinesa de Hubei. No resto da China estão 27% dos doentes e apenas 1% no resto do mundo. No entanto, esta situação “tem consequências económicas muito graves para a China, decorrentes dos bloqueios da mobilidade das pessoas entre várias áreas do território chinês, o que implica que não produzam, não distribuam produtos, nem vendam, nem consumam e os impactos do coronavírus na China projetam-se sobre a economia mundial, afetando todas as áreas, desde a produção à logística, passando pela distribuição e pelo consumo”, refere Peter Villax. Entre os sectores afetados encontram-se “os medicamentos, os produtos alimentares, as bebidas, o turismo, os transportes e os centros de lazer”, diz o empresário.

“A doença ainda está numa fase de crescimento e o número de casos novos ainda deverá aumentar até atingir a estabilização, mas temos de perceber que estamos a analisar uma epidemia chinesa, centrada na Província de Hubei”, comentou Peter Villax.

“Este coronavírus tem um longo período de incubação, o que dificulta o controlo da epidemia, mas em contrapartida tem uma taxa de mortalidade relativamente baixa e, além disso, tem uma presença verdadeiramente residual no resto do mundo”, adianta o empresário.

“A próxima semana vai ser muito importante para entender a dimensão deste problema, porque a epidemia atingirá um pico, coincidente com os chineses que vão regressar das férias de festejo do seu Ano Novo”, refere Peter Villax. “Apesar dos problemas existentes em Hubei, esta epidemia caminha rapidamente para o controlo, embora ainda esteja na fase de crescimento, porque a verdade é que há indicadores que provam que a taxa de crescimento de novos casos está a baixar e que a taxa de crescimento dos casos de recuperação é superior à taxa de crescimento de novos casos”, comenta o empresário.

Por isso, Peter Villax considera que “se as tendências atuais se mantiverem, podemos esperar o pico da epidemia na próxima semana, mesmo admitindo como variável imponderável o regresso das férias do Ano Novo”.

Peter Villax critica a ênfase excessiva que a informação televisiva tem vindo a dar ao tema do coronavírus, destacando sempre os mortos registados. “Vi aberturas de telejornais com 89 mortos confirmados, o que apenas beneficia as empresas que vendem máscaras respiratórias, pois sei que há perspetiva de serem vendidos 500 milhões de máscaras”, refere Peter Villax, adiantando que teve contactos para vender máscaras em Singapura e Hong Kong.

Esta crise do coronavírus coloca questões para o futuro, que Peter Villax considera serem decisivas, sobretudo a de saber como vai a China reagir aos mercados de animais vivos – sendo admissível que possa proibir este tipo de mercados –, pois “é nestes mercados que começam quase todas as epidemias na China”, refere.

Além disso, “a China tem um sistema político com 70 anos, mas que “ainda tem dificuldade em gerir más notícias”, considera Peter Villax, referindo-se à incomodidade sentida pela China em relação aos médicos que detetaram a existência deste coronavírus. Finalmente, Peter Villax lançou à sociedade o debate de saber “de que forma é que podemos ter uma comunicação social em que o dever de informar não amplifique os problemas”.

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