[weglot_switcher]

Cortes de financiamento dos EUA vão prejudicar os direitos humanos em África

Em 2022, todos os países africanos receberam, de alguma forma, ajuda dos EUA, variando entre 125 milhões e 500 milhões de dólares (entre 120 e 482 milhões de euros) e “uma retirada total ou parcial prejudicaria o progresso económico e exacerbaria a pobreza, agravando as crises humanitárias”, salientou.
6 Fevereiro 2025, 13h31

Uma investigação do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) indicou hoje que a suspensão das atividades da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) pode aumentar o risco das violações dos direitos humanos, nomeadamente em Moçambique.

A interrupção do financiamento da USAID, imposta pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, pode aumentar o risco das violações dos direitos humanos e diminuir a confiança dos cidadãos nos seus governos, deixando os países mais vulneráveis a um extremismo ainda mais violento, indicou o investigador Kelly Stone no artigo.

“Os grupos terroristas exploram frequentemente os baixos níveis de confiança dos cidadãos, os abusos das forças de segurança e a pobreza e exclusão subjacentes como principais instrumentos de recrutamento. As consequências potenciais são alarmantes, especialmente nos países da África Ocidental, Somália e Moçambique, onde os grupos extremistas violentos causam uma violência generalizada”, lamentou Stone.

Em 2024, os programas de apoio à democracia, aos direitos humanos, à governação e à segurança representavam 10% do pacote de ajuda a África proposto pela USAID, no valor de oito mil milhões de dólares (cerca de sete mil milhões de euros), exemplificou.

“Os principais beneficiários da ajuda não-humanitária dos EUA foram a Nigéria (600 milhões de euros), Moçambique (544 milhões de euros), Tanzânia (540 milhões de euros), Uganda (539 milhões de euros) e Quénia (494 milhões de euros)”, enumerou.

Em 2022, todos os países africanos receberam, de alguma forma, ajuda dos EUA, variando entre 125 milhões e 500 milhões de dólares (entre 120 e 482 milhões de euros) e “uma retirada total ou parcial prejudicaria o progresso económico e exacerbaria a pobreza, agravando as crises humanitárias”, salientou.

Assim, a cessação de ajuda a África “poderá criar um vazio que os rebeldes poderão explorar e comprometer a segurança”, mas também pode aumentar a influência de regimes autoritários – como a China e a Rússia – no continente, disse.

“Isto poderia restringir o acesso dos EUA aos mercados emergentes, levando à perda de oportunidades comerciais numa região repleta de potencial e promovendo o desenvolvimento de políticas que contrariam os interesses dos EUA”, alertou.

No entanto, a política atual de Trump vê este tipo de ajuda externa como “uma despesa desnecessária”, frisou.

O abandono do papel dos EUA em África interromperia iniciativas vitais de desenvolvimento, agravaria a instabilidade e a pobreza e perturbaria os alinhamentos geopolíticos, disse

“Considerando que Trump não visitou África uma única vez durante o seu primeiro mandato e fez declarações depreciativas sobre o continente, a sua ignorância sobre África não surpreende”, criticou.

Nos primeiros dias do seu segundo mandato, Trump suspendeu toda a ajuda internacional durante 90 dias, com exceção dos programas humanitários alimentares e da ajuda militar a Israel e ao Egito.

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, será o novo diretor interino da USAID, que acusou de estar “completamente desprovida de capacidade de resposta”, criticando a “insubordinação” naquele organismo.

A USAID – cuja página ‘online’ desapareceu no sábado sem explicação – tem sido uma das agências federais mais visadas pela nova administração norte-americana.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.