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Costa Silva: “Não podemos ter uma economia saudável com um sistema bancário doente”

O autor do programa que servirá de base ao plano que Portugal terá que entregar em Bruxelas em outubro apontou algumas das condicionantes para uma recuperação económica e social bem sucedida.
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Cristina Bernardo
21 Julho 2020, 12h14

Um sistema bancário resiliente e a criação de instrumentos financeiros do Estado para apoiar empresas viáveis são duas das condicionantes-chave apontadas por António Costa Silva para a execução bem sucedida do programa de recuperação económica e social de Portugal para a próxima década.

“Não podemos ignorar o sistema bancário português. O pior que poderia acontecer é que se depois de todas estas crises, tenhamos uma nova crise bancária. A recuperação do setor bancário é vital. Sou das pessoas que defende que não podemos ter uma economia saudável com um sistema bancário doente”, afirmou o gestor, no encerramento da apresentação pública da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, esta quinta-feira.

O autor do programa que servirá de base ao plano que Portugal terá que entregar em Bruxelas em outubro para aceder a verbas do Fundo de Recuperação, adverte que o sistema bancário português “é muito prejudicado ao nível da concorrência no âmbito da União Europeia. O level playing field é absolutamente fundamental para pelo menos assegurar condições de preservação da rentabilidade mínima dos capitais para ser sustentável”.

Apontou ainda a importância a criação de instrumentos financeiros do Estado, nomeadamente do Banco de Fomento. “Temos que ter um grande instrumento financeiro do Estado, com a capitalização e dimensão adequada. Vamos passar por tempos muito difíceis ao nível da nossa economia e defendo que o Estado, através deste Banco de Fomento, deve subscrever o capital das empresas que sejam rentáveis, mediante certas condições de rentabilidade com um business plan, mas o Estado depois deve ter uma estratégia de saída quando as empresas recuperarem e desenvolverem a sua atividade”, disse.

“O pior que podia acontecer é termos um Estado interventivo na economia portuguesa, não precisamos de um Estado que diga às empresas o que devem fazer, isso compete às empresas, mas precisamos de um Estado muito atento, que tenha esta combinação virtuosa entre Estado e mercado e fundamentalmente que deixe o mercado funcionar tanto quanto possível e o Estado funcionar tanto quanto necessário. Penso que isso é vital para o futuro”, acrescentou.

Considerou ainda que a justiça “tem melhorado”, mas tem ainda espaço para progressos, nomeadamente a justiça económica e fiscal, considerando que o maior desafio é tendencialmente “a gestão e organização dos processos” e identificou ainda como condicionantes para o programa de recuperação alterações na Administração Pública, defendendo nomeadamente um reforço da prestação de contas.

“Se daqui a dez anos, quando olharmos para todo este período, dissermos que fomos capazes de fazer a rede ferroviária e elétrica integrada com Espanha e com a Europa, se formos capazes de fazer o investimento nos portos de Sines e Leixões e que eles atraem crescentemente volume de tráfego mundial e que forma convertidos em plataformas da economia azul. Se conseguirmos dizer que apostámos fortemente na qualificação dos nossos recursos humanos e sobretudo da população portuguesa e que já não somos o pior país da União Europeia em termos da percentagem da população que tem o ensino secundário; se conseguirmos apostar na transição digital, fazê-la na Administração Pública e nas empresas; se conseguirmos  em cima de tudo isso, manter e reforçar o investimento na ciência e na tecnologia e chegarmos a 2030 com 3% do PIB afeto à Ciência e Tecnologia, em cima de tudo isso mantivermos a aposta no Estado Social e reforçarmos toda a inclusão da população mais desfavorecida do país e mais cadenciada dos sistemas produtivos e depois fizermos alguma coisa em termos da reconversão industrial, da reindustrialização do país”, enumerou Costa Silva, a par do reforço do interior, “penso que poderemos então dizer que “valeu a pena”.

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