António Costa Silva pede que seja repensado o modelo capitalista e o seu modo predatório dos recursos do planeta, defendendo uma maior preocupação com a economia circular e a sustentabilidade, bem como uma renaturalização que aproxima a sociedade da natureza. O presidente da Comissão de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) destacou o papel que Portugal pode assumir numa Europa mais autossuficiente em termos energéticos e na pesquisa oceânica, onde as oportunidades de desenvolvimento económico são vastas.
A ideia foi manifestada esta quarta-feira, no primeiro debate do ciclo quinzenal “Pensar a Economia”, que será organizado pelo Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal (IDEFF) da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa com o apoio da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e da Ordem dos Economistas, além do Jornal Económico como media partner.
Costa Silva referiu o impacto que tem tido o atual modelo de produção no planeta, criticando o “egoísmo das gerações atuais”, que preferem fugir aos custos imediatos do combate à ameaça climática, onde os benefícios surgem só mais tarde, bem como os “free-riders” que, não contribuindo para uma melhoria efetiva da sustentabilidade da economia, beneficiam com os esforços dos restantes Estados.
“As partículas de carbono têm o mesmo dano marginal no planeta onde quer se sejam produzidas”, lembrou o antigo presidente da Partex e autor do livro ‘Portugal e o Mundo numa Encruzilhada – Para Onde Vamos no Século XXI?’, defendendo um imposto global sobre as emissões de gases com efeitos de estufa.
Por outro lado, Costa Silva deixou uma crítica à estratégia da UE de penalizar “o gás ao mesmo nível que penalizamos o carvão ou o gás natural”, algo que contribuiu para a fragilidade atual do mercado energético face ao conflito aberto pela Rússia na Ucrânia. Olhando para cortes recentes nos últimos 15 anos ao abastecimento europeu pela Rússia, o autor do esboço para o PRR discordou também da estratégia alemã de se fornecer diretamente a Moscovo, “passando por cima dos Estados bálticos” e deixando adivinhar uma “liderança alemã da UE que pode não ser muito favorável aos países do Sul”.
Olhando exclusivamente para a vertente económica, o antigo presidente da Partex destaca que o dinheiro em circulação no mundo passou, “nos sete anos que se seguiram à crise global financeira, dos 25 biliões de dólares para os 60”, ao mesmo tempo que a dívida acumulada do planeta já ultrapassou os 250 biliões, ou seja, três vezes mais o produto mundial.
“Se deixamos que a classe média entre em erosão vamos ter cada vez mais problemas no funcionamento das nossas sociedades”, afirmou, lembrando o aumento das desigualdades no mundo e defendendo a passagem “do capitalismo dos acionistas para o capitalismo dos stakeholders”.
A intervenção de Costa Silva seguiu-se a um comentário inicial por Paulo Macedo, presidente executivo da CGD, de Eduardo Paz Ferreira, presidente do IDEFF, e António Rebelo de Sousa, economista que dissecou o conflito na Ucrânia e as possíveis implicações na política monetária europeia.
“Um aumento das taxas de juro na mesma proporção que o aumento da inflação vai provocar uma crise recessiva muito grande na economia europeia e também na portuguesa, obviamente”, considera António Rebelo de Sousa.
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