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Covid-19: Coface prevê maior número de insolvências de empresas desde 2009

A empresa especilizada na gestão de crédito prevê ainda recessões em 68 países (contra apenas 11 no ano passado), uma queda do comércio mundial de 4,3% este ano (após uma queda de -0,4% em 2019), e um aumento de 25% das insolvências de empresas a nível mundial (em comparação com a nossa previsão de Janeiro passado, que era de +2%).
8 Abril 2020, 18h35

O barómetro elaborado pela Coface relativo ao primeiro trimestre de 2020, alerta para um súbito aumento global das insolvências das empresas em resultado do impacto do coronavírus, prevendo que esse número supere os níveis de 2009.

“No início, a epidemia Covid-19 na China afetou apenas um número limitado de cadeias de valor – mas desde então, transformou-se numa pandemia global. As suas repercussões criaram um duplo choque – oferta e procura – que está a afetar um grande número de indústrias em todo o mundo. A singularidade desta crise torna inúteis as comparações com as anteriores, uma vez que todas elas tiveram origem financeira (por exemplo, a crise de crédito global de 2008-09, e a grande depressão de 1929)”, explica um comunicado da Coface.

Segundo os responsáveis desta empresa especializada na gestão de crédito, “a questão já não é saber que países e setores de atividade serão afetados por este choque, mas sim que poucos serão poupados.

“O choque pode ser ainda mais violento nas economias emergentes: para além da gestão da pandemia, que lhes será mais difícil, enfrentam também a queda dos preços do petróleo, bem como as saídas de capital, que quadruplicaram em relação aos níveis de 2008. Neste contexto, a Coface prevê que em 2020 se assista à primeira recessão da economia mundial desde 2009, com uma taxa de crescimento de -1,3% (após +2,5% em 2019)”, adianta o referido comunicado.

A Coface prevê ainda recessões em 68 países (contra apenas 11 no ano passado), uma queda do comércio mundial de 4,3% este ano (após uma queda de -0,4% em 2019), e um aumento de 25% das insolvências de empresas a nível mundial (em comparação com a nossa previsão de Janeiro passado, que era de +2%).

“O risco de crédito das empresas será muito elevado, mesmo num cenário ‘optimista’, em que a atividade económica recomeçará gradualmente no terceiro trimestre do ano, e desde que não exista uma segunda vaga da pandemia coronavírus no segundo semestre de 2020. Esta tendência para a insolvência das empresas afetará os Estados Unidos (+39%) e todos os principais países da Europa Ocidental (+18%): Alemanha (+11%), França (+15%), Reino Unido (+33%), Itália (+18%) e Espanha (+22%)”, salientam os responsáveis da Coface.

A empresa especializada na gestão de crédito assinala ainda que “o peso dos riscos incluídos na previsão da diminuição do volume do comércio mundial em 4,3% em 2020, reduziu a sua importância, uma vez que os numerosos anúncios de encerramento de fronteiras não são tidos em conta no modelo de previsão da Coface (modelo baseado nos preços do petróleo, custos de transporte, confiança das empresas transformadoras nos Estados Unidos e as exportações da Coreia como variáveis explicativas)”.

“A longo prazo, a crise da Covid-19 poderá também ter consequências sobre a estrutura das cadeias de valor globais. A principal fonte da vulnerabilidade das empresas, no contexto atual, é a sua forte dependência de um número reduzido de fornecedores, localizados em poucos países, ou mesmo num único país. Por conseguinte, aumentar este número para antecipar possíveis rupturas na cadeia de abastecimento, será agora uma prioridade para as empresas”, aconselha a Coface.

No entender destes especialistas, “para as empresas, as medidas de confinamento repentino tomadas pelos governos em mais de 40 países, para travar a expansão do vírus Covid-19, e que representam mais de metade da população mundial, tiveram consequências imediatas”.

“Estas medidas resultaram num choque de abastecimento, diferente de qualquer outro observado durante as graves crises anteriores. O choque inicial não resultou de uma crise financeira, mas sim da economia real: as pessoas não podem trabalhar, e as empresas estão a sofrer perturbações no fornecimento de bens intermédios. O turismo, a hotelaria, a restauração, o lazer e os transportes são os mais afetados, tal como quase todos os segmentos da distribuição especializada e a maioria dos setores transformadores (excluindo a indústria agroalimentar)”, destaca a Coface.

No sentido inverso, existem outros setores de serviços foram muito menos afetados, como são os casos das telecomunicações, água e saneamento, por exemplo.

“A este choque da oferta vem juntar-se um choque igualmente brutal da procura. Muitos consumidores estão a cancelar ou a adiar as suas despesas em bens e serviços. Além disso, a confiança das famílias está a ser afetada pelo impacto do confinamento. Os bens de consumo duradouros, como os veículos, serão provavelmente dos mais castigados por este choque. Outras despesas, como os têxteis e o vestuário, bem como a eletrónica, deverão também ser reduzidas a quase zero”, alerta a Coface.

A empresa especializada na gestão de crédito assinala que, “no outro extremo do espectro, o consumo de produtos agroalimentares e farmacêuticos, poderá efetivamente beneficiar desta situação excepcional”.

Agravamento das tensões geopolíticas
Em termos de consequências políticas da pandemia, a Coface entende que “a consequência mais óbvia(…), a curto prazo, é o agravamento das tensões geopolíticas já existentes”.

“O risco de uma nova vaga de medidas protecionistas não pode ser excluído, dirigidas especialmente aos setores-chave da nova ordem económica e sanitária (por exemplo, a limitação das exportações de produtos agroalimentares e/ou farmacêuticos, considerados vitais). A continuação da ‘guerra comercial’ EUA-China, que visa setores estratégicos, nomeadamente a eletrónica, continua também a ser uma possibilidade. Esta possibilidade poderia ser reforçada pela campanha presidencial nos Estados Unidos e/ou pelo aumento dos protestos sociais num
destes dois países”, antevê a Coface.

A Coface conta com mais de 70 anos de experiência e uma rede internacional com cerca de 50 mil clientes. Em 2019, empregou 4.250 pessoas e registou um volume de negócios de 1,5 mil milhões de euros.

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