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Covid-19: “Metade dos pais não considera seguro o regresso à escola”, revela Deco

Inquérito da Deco Proteste revela: metade dos pais não considera seguro o regresso à escola em tempos de pandemia. Se pudessem escolher, adianta associação, o modelo de aulas misto (presencial e à distância) é o que reuniria mais adeptos.
22 Outubro 2020, 18h00

A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) revela os resultados de um inquérito realizado por esta associação que conclui que metade dos encarregados de educação considerou o regresso às aulas inseguro quando considerado o potencial risco de contaminação por covid-19. Conclusões de inquérito surgem numa altura em que a Direção Geral de Saúde (DGS) avançou que foram reportados 449 casos até esta terça-feira, 20 de outubro, sendo que ainda não estão todos os alunos de Erasmus contabilizados na lista.

“De acordo com a análise dos dados recolhidos pelo nosso inquérito, um sentimento de completa insegurança foi revelado por 13% dos pais e houve 36% que consideraram que o regresso foi “algo inseguro”. Por outro lado, 43% dos inquiridos consideraram que foi «algo seguro» voltar à escola e 8% viram inclusivamente o regresso como «muito seguro»”, revela a Deco Proteste.

Segundo a Deco, a reorganização do espaço escolar e reforço das medidas de higiene e distanciamento social foram algumas das alterações “mais visíveis” no regresso às aulas em setembro passado. E foi para perceber de que forma se sentiram seguros ao deixar as suas crianças e jovens voltar à escola em período de pandemia que a Deco Proteste realizou, entre 25 e 29 de setembro, um inquérito junto de pais e encarregados de educação com crianças e jovens da primária ao secundário.

Sobre o sentimento de segurança no regresso às aulas, a Deco assinala que “os pais estão divididos”, apesar das medidas da DGS que foram implementadas para controlo da transmissão em contexto escolar.

“As orientações para o regresso às aulas eram conhecidas e foram bastante debatidas nas semanas que antecederam a abertura das escolas: iria haver uma nova organização das salas de aula, com as secretárias afastadas – sempre que possível com mais de um metro de distância –, e ordem para ventilar ao máximo, ou seja, portas e janelas abertas (sempre que tal fosse viável)”, recorda a associação.

Na lista de orientações, a Deco recorda que foi ainda sinalizado que seria reforçada a limpeza e desinfeção dos espaços, nomeadamente das secretárias e das casas de banho, havendo a disponibilização de água e sabão e dispensadores de álcool-gel para os alunos poderem lavar as mãos convenientemente ou higienizá-las, sempre que necessário.

Além disso, prossegue, “correram pelas televisões imagens de professores e auxiliares a preparar corredores e circuitos de circulação nas escolas, marcando o chão com setas e sinais de sentido proibido. Sabia-se que os alunos iriam ser desincentivados de estar em grupo”, concluindo que eram também conhecidas as recomendações para o uso de máscara por professores, educadores, auxiliares, alunos a partir do 5.º ano, encarregados de educação e fornecedores e outros elementos externos à escola.

“Mas terá sido isto suficiente para os pais se terem sentido seguros?”, questiona a Deco, dando conta que o  inquérito realizado revela que “as opiniões se dividem” com , 43% dos inquiridos consideraram que foi “algo seguro” e cerca de metade (49%) a revelar um sentimento de completa insegurança  ou “algo inseguro”.

Sentimento de segurança é maior nas escolas privadas

Segundo o inquérito da Deco Proteste, a percentagem de pais que disseram sentir-se seguros quanto ao eventual risco de contaminação é superior quando as crianças estudam em escolas privadas (66%).

“Nas escolas públicas, o grau de segurança sentido pelos encarregados de educação diminui à medida que o grau de escolaridade dos alunos vai avançando. Também no ensino público, a percentagem de pais que sentiram maior segurança é ligeiramente mais alta no Centro do País (55%)”, explica.

De acordo com a associação, também a adaptação é “mais fácil” às novas regras no privado. E dá conta aqui das recomendações para não abraçar os amigos; necessidade de usar máscara, durante as aulas e os intervalos, para os alunos a partir do 5.º ano; recomendações para higienizar as mãos com frequência; ou a necessidade de seguir o percurso definido para o circuito dentro do espaço escolar.

“Foram tantas as medidas impostas aos alunos no regresso às aulas, que a pergunta se impôs: como se adaptaram? Em 65% dos casos, os pais inquiridos consideraram que a adaptação dos seus filhos ao novo ambiente da escola foi fácil: 48% responderam que foi “algo fácil” e 17%, “muito fácil”, explica.

Quanto à adaptação ao novo ambiente escolar, o inquérito revela algumas diferenças entre ensino público e privado. “É de 78% a percentagem dos encarregados de educação de alunos em escolas privadas cuja adaptação ao novo ambiente escolar foi fácil. Houve até 43% que responderam que os seus filhos se adaptaram de uma forma “muito fácil”. À medida que o grau de escolaridade vai avançando, a percentagem de casos em que os pais consideraram a adaptação como “muito fácil” vai diminuindo”, conclui a Deco Proteste.

Para as escolas públicas, acrescentam a percentagem de pais que consideram que o processo de adaptação foi “muito fácil” é ligeiramente mais elevada no Norte e no Centro do País (16% e 15%, respetivamente) do que em Lisboa e Vale do Tejo (8%).

Ensino presencial ou à distância?

De acordo com o inquérito, a Deco Proteste conclui que ”se lhes tivesse sido dada a hipótese de escolher, metade dos encarregados de educação teria optado por um modelo misto para o regresso às aulas (com uma parte de ensino presencial, nas instalações da escola, e uma parte em casa)”. O inquérito revela uma percentagem de 41% que teria optado sempre por aulas presenciais para os seus filhos e apenas 9% sempre por aulas à distância.

Quando questionados “se pudesse optar, que modelo de ensino escolheria?”, os dados do inquérito revelam que a opção pelo modelo misto de ensino é de 56% para pais com crianças que estudam em escolas públicas. Apenas 22% dos encarregados de educação com alunos no setor privado têm esta preferência. Também no ensino secundário, 66% dos pais teriam escolhido o modelo de ensino misto.

Nas escolas públicas, segundo a Deco Proteste, a maioria dos pais (51%) escolheria um modelo misto de ensino na primária, no segundo ciclo (5.º e 6.º anos – 52%) e no ensino secundário (10.º, 11.º e 12.º anos – 73%). No terceiro ciclo (7.º, 8.º e 9.º anos), a escolha, diz, “recairia pelo modelo de aulas presenciais, na escola, o tempo todo: 54% das respostas apontaram neste sentido”

A Deco dá conta de que o inquérito foi realizado entre 25 e 29 de setembro, tendo sido enviado um questionário via e-mail a uma amostra da população portuguesa adulta entre os 25 e os 74 anos. Os inquiridos, com crianças a frequentar do 1.º ao 12.º ano, explica, puderam responder referindo-se a um máximo de três crianças. No total, recebemos 358 respostas válidas, que refletem a experiência dos encarregados de educação com um total de 509 crianças. As respostas foram ponderadas de acordo com a região do País e as habilitações literárias dos inquiridos, por forma a refletirem a realidade nacional.

Segundo a associação, a maioria dos alunos dos agregados familiares inquiridos estudam em escolas públicas (80%), sendo que 37% frequentam a primária, 16% o segundo ciclo (5.º e 6.º anos) e 20% o terceiro ciclo (7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade). No secundário (10.º, 11.º e 12.º anos) estão 27% dos estudantes mencionados neste estudo.

DGS revela existência de 49 surtos de Covid-19 em escolas

A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, revelou esta quarta-feira, 21 de outubro, que existem 49 surtos ativos em escolas, creches e em estabelecimentos de ensino superior, tendo sido reportados 449 casos até ao dia 20 de outubro, sendo que “ainda não estão todos os alunos de Erasmus” contabilizados na lista.

Num balanço realizado anteriormente, no início do mês, a diretora-geral da Saúde contabilizava 23 surtos ativos com 136 casos positivos, um aumento de 230% em menos de um mês. Ainda assim, Graça Freitas aponta que “o início do ano letivo tem um saldo bastante positivo”.

Esta terça-feira, a Fenprof divulgou a lista de 332 estabelecimentos públicos e privados onde existem ou existiram casos de covid-19. Estrutura sindical dos professores diz que casos de Covid-19 quase triplicou, em pouco mais de uma semana. E ameaça recorrer aos tribunais para ter acesso a lista atualizada de situações de Covid-19 nas escolas, com indicação do número de pessoas infetadas e procedimentos adotadas, dado não ter recebido resposta do Ministério da Educação.

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