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CP: Maquinistas e revisores querem ajuda para lidar com suicídios na ferrovia

Entre 2006 e 2015, foram colhidas por comboios 801 pessoas, 492 das quais registadas como suicídio e as restantes 309 foram registadas como acidentes, sobretudo em passagens de nível.
Jose Manuel Ribeiro / Reuters
24 Julho 2017, 13h53

Os maquinistas e revisores dos transportes férreos exigem à CP – Comboios de Portugal que tome medidas para prevenir os suicídios na ferrovia portuguesa e minimizar o trauma de quem conduz os veículos. Dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes mostram que em menos de dez anos, entre 2006 e 2015, foram colhidas por comboios 801 pessoas, 492 das quais registadas como suicídio e as restantes 309 foram registadas como acidentes, sobretudo em passagens de nível.

“São segundos que nunca mais acabam. E em que não se pode fazer mais nada porque já accionámos os travões de emergência e temos que deixar que a inércia cumpra a sua função. Sente-se uma perplexidade e uma impotência enormes”, conta o maquinista da CP Sérgio Fonseca ao jornal ‘Público‘. “Por norma, não olho para a cara deles”.

Ao contrário do que acontece em países como o Reino Unido ou a Roménia, em Portugal os maquinistas e revisores dos comboios não são preparados nem formados “para uma condução eventualmente traumática”. “Fazer parte do processo da morte de alguém não faz parte da nossa profissão. As pessoas não são preparadas para isso”, explica ao jornal Sérgio Fonseca, sublinhando a importância da formação para as questões do suicídio e do trauma e da aposta em primeiros socorros psicológicos.

No momento do embate, Sérgio Fonseca recorda “dois estrondos inacreditáveis”: “A pancada frontal e os rodados a passar por cima do corpo com o maquinista a sentir aquilo tudo a partir”. Nunca se esquece. Especialmente porque estes “participantes involuntários no suicídio” são muitas vezes obrigados a regressar ao local do acidente vezes sem conta. Uma investigação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto fala numa taxa de stress pós-traumático a rondar os 32% entre os maquinistas.

Depois do atropelamento, “o maquinista até pode alegar que está bem, mas pode estar induzido pelo choque”, alerta Sérgio Fonseca. “A CP, enquanto entidade patronal, tem que avaliar a pessoa para ter a certeza de que ela está apta para conduzir um comboio”, afirma, sugerindo um acompanhamento psicológico imediato e nos dias a seguir ao acidente.

Sérgio Fonseca assinala ainda a importância de sinalizar os espaços onde os suícidios são mais frequentes, por norma “gares abandonadas e locais mal iluminados ou abandonados”, e aprender a detectar padrões de comportamento, como o deambular pela linha e o facto de as vítimas usarem frequentemente pijama.

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