Ao fim de oito anos de taxas de juro Euribor negativas, estas referências regressaram a valores positivos, na expectativa da subida de taxas pelo Banco Central Europeu (BCE), que se concretizou a 21 de Julho, de modo mais intenso do que o esperado.
Neste momento, espera-se que as taxas Euribor estabilizem em torno dos 1,5% em meados de 2023, mas os mercados financeiros têm feito previsões altamente voláteis para o nível a que estes referenciais deverão estabilizar, tendo chegado a atingir os 3%.
Para as quase 1,5 milhões de famílias com crédito à habitação indexado às Euribor, isto significa um aumento significativo da prestação, que depende muito das condições concretas de cada contrato. Para elas, aqui vão quatro recomendações.
Em primeiro lugar, sugiro que contactem o vosso banco e peçam simulações das prestações para o caso da Euribor vir a subir para 2% e 3%. É possível que estes valores não venham a ser atingidos tão cedo, mas será preferível saber com grande antecedência o que pode vir aí, para não serem apanhados de surpresa, sem preparação, nem psicológica nem financeira.
Em segundo lugar, recomendo que tentem renegociar o “spread” do vosso empréstimo. O “spread” ou diferencial é suposto reflectir o risco específico do vosso contrato e soma-se à taxa Euribor do prazo que escolheram, tipicamente de seis meses. Se tiverem o crédito há vários anos é possível que aquele risco tenha diminuído, quer porque já pagaram uma parte significativa do empréstimo, quer porque se registou uma forte subida do preço das casas. Em alguns casos, poderão ter começado por dever 90% do valor da casa mas agora o crédito remanescente representar apenas 50% do valor de mercado do imóvel, pelo que o risco seria muito menor, justificando uma redução do “spread”.
Em terceiro lugar, se, ainda assim, a subida na prestação vos parecer difícil de compatibilizar com o vosso orçamento familiar, poderão tentar alargar o prazo do empréstimo. Dependendo das condições oferecidas pelo vosso banco, poderão considerar que será preferível maiores sacrifícios no presente do que prolongar a dívida por mais anos.
A quarta recomendação destina-se apenas aos casos mais difíceis, em que poderão mesmo pedir uma renegociação da subida da prestação, para esta não subir tão depressa. Se as famílias estiverem em dificuldade, o banco é legalmente obrigado a fazer uma proposta, uma alteração legislativa relativamente recente.
Antes de tomarem grandes decisões, será importante saber quais os aumentos salariais previstos para 2023, sobre os quais impende uma elevada incógnita, porque a inflação de 2022 foi muito superior ao esperado.
Aliás, esta surpresa na inflação até pode vir a reduzir o valor dos empréstimos em termos reais, embora os resultados práticos desta redução dependam, no imediato, da evolução dos salários reais e do valor dos imóveis. No entanto, até à estabilização dos preços da energia e da inflação, talvez só em 2024, o mais provável é que haja uma redução dos salários reais.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.