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Crédito Agrícola passa para número dois do ‘ranking’ dos lucros da banca

Os sete maiores bancos – CGD, BCP, Novo Banco, Santander Totta, BPI, Crédito Agrícola e Montepio – lucraram 359 milhões até março. A Caixa lidera nos lucros e o Crédito Agrícola na rentabilidade, mas compara mal na qualidade da carteira de crédito, sendo a CGD a mais protegida.
Cristina Bernardo
16 Junho 2021, 08h00

Os sete maiores bancos – CGD, BCP, Novo Banco, Santander Totta, Crédito Agrícola e Banco Montepio – registaram 359,5 milhões de euros de lucros no primeiro trimestre de 2021. O valor acumulado dos lucros é penalizado pelos prejuízos de 15,9 milhões de euros do Banco Montepio. Se excluirmos o Banco Montepio, os seis maiores bancos lucraram no seu conjunto 375,4 milhões de euros.

A surpresa é o Grupo Crédito Agrícola ter passado para número dois do ranking dos lucros e número um da rentabilidade.

O Crédito Agrícola apresentou um resultado líquido consolidado de 72,5 milhões de euros no primeiro trimestre, subindo 114,6% face ao período homólogo, e fica assim em segundo lugar no ranking dos resultados líquidos dos bancos, logo após a CGD que registou lucros de 80,7 milhões de euros e acima do Novo Banco que registou os seus primeiros lucros (70,7 milhões de euros).

Com isto, o grupo de caixas vocacionadas para o crédito à agricultura regista a melhor rentabilidade e é o único dos sete maiores bancos a ter um ROE (Return on Equity) – rentabilidade dos capitais próprios –  de dois dígitos, 14,8%. O que compara com os 4,2% da CGD, com os 4% do BCP, com os 7,6% do Novo Banco, com os 2,9% do Santander Totta, e com os 4,7% do BPI.

O sétimo banco, o Banco Montepio foi o único que apresentou prejuízos no primeiro trimestre (de 15,9 milhões) e como tal a rentabilidade é negativa.

“A rentabilidade alcançada pelo Grupo Crédito Agrícola a março de 2021 (14,8% de ROE) espelha os resultados conseguidos nas diferentes componentes do Grupo (Caixas Agrícolas, Caixa Central, companhias de seguros vida e não vida e gestão de ativos e fundos de investimento), sendo de assinalar os contributos positivos de 2,3 milhões de euros da CA Vida e de 1,5 milhões de euros da CA Seguros”, explicou o grupo.

A instituição liderada por Licínio Pina explicou que, para este resultado, o negócio bancário contribuiu com 65,3 milhões de euros (+122,9% face ao período homólogo).

Em termos de composição do produto bancário, a margem financeira cresceu 7,4 milhões de euros (+9,4% face a março de 2020) em relação ao mesmo período em 2020, assim como a margem técnica do negócio segurador, que registou uma variação homóloga de +8,7 milhões de euros (+213,7%).

Em sentido contrário e face ao período homólogo, as comissões líquidas diminuíram 2,5 milhões de euros (-8,4%) e os resultados das operações financeiras reduziram 4,2 milhões de euros (-7,7%).

Segundo o Grupo Crédito Agrícola, nos primeiros três meses de 2021, os resultados registados nos veículos de desinvestimento imobiliário (nomeadamente via desvalorização de unidades de participação) – fundos de reestruturação –  penalizaram os resultados consolidados em -2,3 milhões de euros, “verificando-se uma redução favorável de um milhão de euros face ao valor registado no período homólogo (-3,3 milhões de euros)”.

O grupo CA está ainda bem posicionado no ranking da eficiência, medido pelos custos sobre proveitos. O Cost-to-Income do Crédito Agrícola é de 48,2%, só superado pelo mais eficiente dos bancos, o Santander Totta (com 34,1%) e pelo BCP que regista um rácio de 47%.

Em comunicado, o grupo CA diz que “os custos operacionais observaram uma redução homóloga de 3,8 milhões de euros que reflete, essencialmente, a contenção observada nas rubricas de publicidade, avenças e honorários e outros serviços”.

“A redução dos custos de estrutura e o aumento do produto bancário determinaram uma melhoria de 5,6% no rácio de eficiência que, com referência a março de 2021, se situou em 48,2%”, refere o Crédito Agrícola.

Os bancos menos eficientes, seguem sendo o Banco Montepio com 76,1% e o BPI com 59,1%. A CGD está a meio da tabela com um rácio de eficiência (consolidado) de 50,6%.

BPI com melhor qualidade da carteira de crédito. Crédito Agrícola com pior cobertura de NPL

No que o Crédito Agrícola compara mal com os restantes seis bancos é no rácio de NPL – Non Performing Loans, e na cobertura deste crédito por imparidades.

O grupo liderado por Lícino Pina tem um rácio de crédito malparado de 7,8%, só superado pelos 10,7% do Montepio e 8% do Novo Banco. No entanto em termos de cobertura por imparidades é o pior do ranking. Já que o Banco Montepio tem um rácio de cobertura de 60% e o Novo Banco de 77%.

O melhor dos sete bancos, em termos de qualidade da carteira de crédito é o BPI com um rácio de NPL de 1,5% e uma cobertura por imparidades de 88%. Segue-se o Santander com um rácio de NPL de 2,6% e a CGD com um rácio de 2,8%. Sendo a cobertura por imparidades de 60,6% e 95,8%, respetivamente. O banco liderado por Paulo Macedo lidera em termos de cobertura do malparado com imparidades.

O Grupo Crédito Agrícola, que foi o último dos sete bancos a apresentar os resultados trimestrais, refere que “em termos de qualidade da carteira de crédito do Grupo Crédito Agrícola, o rácio bruto de NPL em março de 2021 situava-se em 7,8%, registando uma evolução favorável face aos 8,1% verificados no final de 2020”, realçou o grupo que assegura que “tem vindo a dar continuidade a uma gestão sã e prudente, indispensável no atual contexto macroeconómico, refletida em imparidades de NPL acumuladas a março de 2021 de 306 milhões de euros, valor que confere um nível de cobertura de NPL por imparidades de NPL de 35,8% e uma cobertura de NPL por imparidades de NPL e colaterais de 128,6% e de 87,6%, considerando o limite de exposição por contrato, custos de recuperação e haircuts“.

O custo do risco do Grupo Crédito Agrícola em março era de 0,11%, segundo o banco. Ou seja um dos melhores do mercado.

O Crédito Agrícola anunciou no trimestre que as imparidades e provisões alcançaram 6,9 milhões de euros, “evidenciando uma redução em termos homólogos de 20,7 milhões de euros, justificada essencialmente por: 18,2 milhões de euros de provisões genéricas constituídas no primeiro trimestre de 2020 para cobertura, ao longo de 2020, de riscos relacionados com ativos imobiliários e carteira de crédito; uma diminuição de 10 milhões de euros nas imparidades de títulos de dívida face ao trimestre homólogo, decorrente da atualização dos cenários macroeconómicos e consequente desagravamento de PD e LGD [estimativa de probabilidade de incumprimento e  estimativa de perda dado o incumprimento, respetivamente]; e em sentido contrário, pelo aumento das imparidades da carteira de crédito, em 6,8 milhões de euros e pelo aumento das imparidades de outros ativos em 0,7 milhões de euros relacionadas, essencialmente, com imóveis por recuperação de crédito, face ao primeiro trimestre de 2020”.

Receitas: Novo Banco foi o que mais cresceu. BCP e Santander lideram em volume

No que toca ao produto bancário (que inclui a margem financeira, as comissões e os resultados de operações financeiras) o banco que registou maior subida anual foi o Novo Banco (+157%) para 273,5 milhões. Mas o maior volume continua a verificar-se no BCP (588,8 milhões de euros) e no Santander Totta (420,8 milhões).

O maior banco português (CGD) teve um produto bancário de 380 milhões de euros, devido à queda de 11,5% da margem financeira (os juros baixos a penalizar a conta de resultados) para 232,6 milhões.

O Crédito Agrícola reportou receitas de 180,5 milhões e euros, perto do BPI (185,5 milhões). O banco mutualista Montepio está no fim da tabela com um produto bancário de 84,7 milhões.

No que toca à evolução de receita da margem financeira, o melhor dos sete é o Novo Banco, com uma subida de 12% para 145,7 milhões. Seguindo-se o Crédito Agrícola que registou uma subida da receita com margem de juros de 9,4% para 85,9 milhões.

Já a receita de comissões caiu em três dos setes bancos (Novo Banco, Crédito Agrícola e Montepio), manteve-se no Santander e subiu na CGD, BCP e BPI (este liderou a subida com 5,5%).

Em termos de rácio de capital o Novo Banco caiu para o fim da tabela com a decisão do Governo de congelar 112 milhões de euros da chamada de capital de 429 milhões que aprovou em Conselho de Ministros, à espera de uma avaliação independente a uma cobertura de risco de taxa de juro.

O Governo condicionou o pagamento de 112 milhões de euros até que sejam esclarecidas dúvidas que foram levantadas pela auditoria da Deloitte e que estão relacionadas com “a opção do Novo Banco de não aplicar a política de contabilidade de cobertura aos instrumentos financeiros derivados contratados para cobrir risco de taxa de juro resultante da exposição a obrigações de dívida soberana de longo prazo”.

O rácio de capital core (CET1) do Novo Banco está em 10,9% logo seguido do Montepio com 11,3%. O mais bem capitalizado é o Santander com um rácio de CET1 (fully loaded) de 20,1%, seguindo-se o Crédito Agrícola com 18,3%. Muito perto do rácio da CGD de 18%. De resto o BPI tem um rácio de CET1 de 14,4% e o BCP de apenas 12,2%.

Em termos de balanço, o banco que regista a maior evolução da carteira de crédito (bruto) foi também o grupo Crédito Agrícola (+7%), seguido do BPI que reportou uma evolução de 6,2%. Aqui só o Novo Banco registou uma ligeira queda de 0,9%.

Nos recursos de clientes (incluindo depósitos) a maior subida é do Crédito Agrícola com uma variação anual de 14,4%.

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