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Cresce a contestação ao Montijo: mais oito especialistas contra o aeroporto

Estes contestatários do aeroporto no Montijo, entre os quais vários engenheiros com currículos firmados, apresentam a alternativa de Alverca, no mouchão da Póvoa, para construir o aeroporto alternativo à Portela, com um custo estimado de 150 milhões de euros e com capacidade para absorver 75% do tráfego, incluindo os voos de longo curso, porque a pista teria uma extensão de 4.200 metros e uma largura de 75 metros.
11 Fevereiro 2020, 09h17

Apesar de a APA – Agência Portuguesa do Ambiente ter dado ‘luz verde’ condicionada na sua DIA – Declaração de Impacto Ambiental, definitiva, mas condicionada, ao projeto, está a crescer a contestação em torno do aeroporto pretendido para o Montijo.

Ontem, dia 10 de fevereiro, foi a vez de um conjunto de engenheiros, especialistas em transportes, lançarem um apelo público para “o imperativo de se corrigir um erro”, como escreveram no seu artigo conjunto publicado no jornal ‘Público’.

Os oito signatários deste artigo sublinham que “a proposta da Vinci consiste em construir no Montijo uma pista de dimensões reduzidas e que apresenta sérias limitações de segurança na aterragem”, acrescentando que “esta pista de pequenas dimensões obriga a manter a maioria do tráfego na Portela (- 75% do total, incluindo o longo curso), o que afeta a saúde de mais de 300 mil pessoas na zona de Lisboa e Loures devido ao ruído e gases poluentes emitidos, e aumenta o risco de acidentes sobre áreas densamente povoadas”.

António Carmona Rodrigues, engenheiro civil, professor da UNL – Universidade Nova de Lisboa, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa; Ricardo Reis, professor da Universidade Católica; Fernando Nunes da Silva, engenheiro civil, urbanista, professor do IST – Instituto Superior Técnico; António Segadães Tavares, engenheiro civil, autor dos projetos premiados da ampliação do aeroporto da Madeira e o Pavilhão de Portugal da Expo’ 98, entre outros; Luís Póvoa Janeiro, professor da Universidade Católica; José Furtado, engenheiro civil, especialista em planeamento estratégico de infraestruturas de transportes; António Gonçalves Henriques, engenheiro civil, professor do IST, ex-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente; e Rui Vallejo de Carvalho, professor da Universidade Católica Portuguesa, são os autores deste artigo contestatário da opção do novo aeroporto de Lisboa no Montijo.

“A extensão mínima de pista hoje em dia recomendada na aterragem em aeroportos para voos de médio curso é de 2.450 metros. Esta é a extensão que tem a pista de Faro e que, por exemplo, o Governo francês impôs recentemente ao aeroporto de Nantes (concessão também Vinci). Com uma faixa RESA (‘Runway End Safety Area’) superior a 300 metros, as aeronaves devem ter no mínimo uma distância disponível superior a 2.750 metros antes de embater num obstáculo ou cair. A pista que se propõe construir no Montijo tem uma distância total de aterragem de 2.140 metros, o que fica muito aquém do necessário”, denunciam os autores deste artigo.

Estes especialistas chamam a atenção: “os acidentes no fim de pista são os mais frequentes e não surgem apenas por uma razão”. E insistem: “os acidentes ocorridos recentemente com aviões de médio curso deveriam fazer soar um alarme sobre a proposta da Vinci para a nova pista no aeroporto do Montijo e lembrar-nos dos riscos que estas pistas representam (…)”.

“A pista do Montijo está limitada em comprimento a norte e a sul. A norte, devido ao muro de suporte que será necessário construir para manter o uso da estrada militar. A sul, devido à superfície livre de obstáculos necessária no canal navegável. Mesmo que a pista crescesse para sul, a soleira de aterragem não se poderia mover, continuando a 900 metros do bordo do canal, para preservar uma altura livre de 18 metros na aproximação das aeronaves (tal como em Veneza). O caso do Montijo é ainda mais exigente devido às dimensões em altura das embarcações que navegam no canal”, assinalando que o regulamento ICAO (‘International Standards and Recomended Practices – anexo 14), é claro sobre esta matéria no seu artigo 10.1.1: ‘Mobile objects (vehicles on roads, trains, etc.) at least within that portion of the approach area within 1.200 m longitudanilly from the threshold’.

Os oito especialistas signatários deste artigo garantem que, “na proposta da Vinci, o Montijo terá uma pista com uma distância de segurança na aterragem de 2.140 metros até ao ano de 2062 (termo da concessão da Vinci), o que representa um défice de segurança inaceitável numa pista onde se querem movimentar 17 milhões de passageiros em aeronaves maiores, transportando em média 200 passageiros (atualmente 130)”.

“Esta pista terá ‘grosso modo’, um custo direto de 130 milhões de euros (65 milhões indicado no estudo de impacto ambiental mais a substituição do aterro por plataforma de betão sobre estacas). O custo da pista e da mudança militar significa um total de 250 milhões de euros numa pista com menos 330 metros de distância de segurança na aterragem que a pequena pista do aeroporto de Ponta Delgada”, asseguram estes especialistas.

Estes contestatários do aeroporto no Montijo  apresentam a alternativa de Alverca, no mouchão da Póvoa, para construir o aeroporto alternativo à Portela, com um custo estimado de 150 milhões de euros e com capacidade para absorver 75% do tráfego, incluindo os voos de longo curso, porque a pista teria uma extensão de 4.200 metros e uma largura de 75 metros.

“Com a solução que propõe a Vinci, quem assumirá a responsabilidade se ocorrer um acidente de fim de pista no Montijo, ou no último quilómetro antes de aterrar na Portela? Será quem propõe a solução, quem a defende, quem a aprova, ou seremos todos nós que fomos coniventes?”, questionam estes oito especialistas.

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