O contexto de recuperação económica mundial a que assistimos em 2017 parece estar a esmorecer este ano, em particular na Ásia e na Europa, que perderam força, divergindo dos EUA e contribuindo para um cenário global menos sincronizado. O arrefecimento da economia chinesa, a fraqueza das commodities, em especial dos metais, e a força do dólar são os três fatores que parecem estar a conduzir a este enfraquecimento.

Certos indicadores sugerem que a economia chinesa pode estar a abrandar mais do que aparenta: embora no segundo trimestre, tenha crescido apenas menos 0,1 ponto percentual do que nos primeiros três meses do ano, dados recentes, como as vendas a retalho e as exportações mensais, indicam que a desaceleração no atual trimestre poderá intensificar-se.

Em paralelo, os preços das commodities têm vindo a cair, com particular expressão no petróleo e nos metais industriais (os metais perderam cerca de 14% do valor em junho e julho), sinalizando um enfraquecimento da atividade industrial.

Adicionalmente e porque o dólar é, por excelência, a moeda das transações financeiras e comerciais a nível global, um dólar mais forte (leia-se mais caro) afeta os mais diversos países. A recente valorização tem contribuído para o esmagamento das condições financeiras, inclusive para o encarecimento da dívida denominada em dólares, e para uma maior pressão sobre o crescimento do comércio global.

Crescimento global em linha com 2017

Mas apesar dos referidos fatores, a nossa análise sugere que o abrandamento a que assistimos é temporário mais do que estrutural: uma correção mais do que uma retração.

Dizemo-lo porque os indicadores de atividade de curto prazo se mantêm estáveis, com os índices de gestores de compras sem variações significativas tanto nos mercados desenvolvidos como nos emergentes e com o nosso indicador de atividade do G7 (baseado na conjugação de pesquisas nacionais) a revelar um crescimento igualmente saudável.

Além dos três referidos fatores estarem interligados entre si, há algumas nuances que podem ajudar a justificar esta leitura mais positiva, como é o caso dos metais industriais, em que alguma da fraqueza no preço dos metais estará relacionada com a entrada em vigor das novas taxas sobre a importação do aço e alumínio: muitas empresas terão aumentado as suas encomendas antes das tarifas se fazerem sentir (1 de junho) e acumulado inventário. O facto de reduzirem agora a compra de matérias-primas não significa uma diminuição linear na produção. Talvez por isso, as carteiras de encomendas, o emprego e a confiança continuem a mostrar-se robustos, indicando que a procura se manterá.

Neste sentido, o nosso cenário central para 2018 continua a antecipar um crescimento global de 3,4% (3,3% em 2017), prevendo que, à exceção da China, Japão e Reino Unido, o saldo do crescimento se mantenha positivo. O maior risco deste cenário vem das tensões no comércio internacional, que poderão escalar com consequências na atividade.

Ainda assim, as nossas previsões apontam atualmente para crescimentos de 2,9% nos EUA, de 2,4% na zona euro e de perto de 5% nas economias emergentes. Neste último caso, o abrandamento chinês (prevemos 6,6% face a 6,8% em 2017) é contrabalançado por recuperações nos restantes BRICs. Já os receios em torno do Brexit fazem prever um abrandamento para 1,4% no Reino Unido (1,8% em 2017), enquanto a inflação no Japão, alavancada pelo custo do petróleo, deverá travar o crescimento para 1,3% (1,7% em 2017).