Estamos praticamente a meio de 2022 e uma conjugação de vários factores está a ter um profundo impacto ao nível da economia e da sociedade.
Por um lado, os efeitos da pandemia ainda se sentem de forma preocupante e, por outro, a invasão da Ucrânia pela Rússia sem um horizonte a curto prazo de chegar a um desenlace, juntamente com a inflação ou a esperada subida das taxas de juro, todos eles condicionam o desenrolar normal da economia. Acresce a vaga de incêndios que estamos a viver, destruindo a floresta, os bens e o património e afectando de forma grave a economia.
Em Portugal, o modelo de criação de valor que sempre prosseguimos está ultrapassado e a aposta de futuro reside nas empresas inovadoras e com forte base tecnológica, as quais deverão ter capacidade de ganhar dimensão global.
Devemos saber aproveitar devidamente o PRR e os Fundos Europeus e apoiar novas soluções associadas ao empreendedorismo, sem deixar de ter a força e a capacidade políticas de reformar o que precisa de ser mudado.
As notícias e os dados recentes que têm sido divulgados deixam-nos preocupados com o andamento do PRR e com o papel do Banco de Fomento. Há urgentemente que monitorizar atentamente a aplicação dos fundos europeus e definir bem a missão do Banco de Fomento, dotando-o de um corpo técnico suficiente, bem preparado e com experiência em banca de investimentos.
Quer o FMI, quer a Comissão Europeia recomendam reformas fiscais e simplificação do sistema fiscal, racionalização da despesa pública corrente, melhoria da legislação relativa às insolvências, aumento de eficiência e eliminação de distorções, revisão do sistema de proteção social e melhoria do ambiente de negócios, de maneira a criar um sistema mais eficiente e preparado para os desafios do presente e do futuro.
A inflação, que a Presidente do Banco Central Europeu (BCE) considerou alguns meses atrás de localizada e transitória, revela-se agora persistente e com tendência para não abrandar a curto prazo. O FED já tomou, em devido tempo, as medidas necessárias para tentar combater este surto inflacionista, nomeadamente através duma subida das taxas de juro. O BCE, por seu lado, anuncia agora ir fazê-lo em julho mas, apesar de ainda não ter subido os juros directores, a dívida pública dos Estados membros da zona euro já tem implícita uma taxa de juro mais elevada e as empresas enfrentam custos de financiamento mais altos, devido às taxas de inflação e à esperada normalização da política monetária.
Tudo isto condiciona o crescimento económico, o que relativamente a Portugal é vital. Como muitas vezes temos apontado, ao longo dos anos, precisamos de crescimento económico sustentado durante um período consistente para convergirmos com a média europeia ou mesmo ultrapassá-la. A previsão para o curto prazo é encorajadora, mas os dados que se apontam para os anos seguintes são um aviso para executarmos as reformas indispensáveis que acima referimos, aplicar devidamente os fundos disponíveis e imprimir um ritmo de crescimento sustentado que permita olhar o futuro com esperança, ambição e atitude empreendedora.
Este artigo é publicado no âmbito da rubrica “Barómetro”, do Boletim Económico de Verão do JE, parte integrante da edição impressa de dia 22 de julho.