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Crise do Irão: Estados Unidos e União Europeia em rota de colisão

Espanha retirou um navio de guerra de um ‘comboio’ norte-americano que seguiu para o Golfo Pérsico. O governo diz que os seus compromissos são com a União Europeia e com a NATO, não com os Estados Unidos.
  • Morteza Nikoubazl / Reuters
15 Maio 2019, 07h42

A tensão entre a União Europeia e os Estados Unidos a propósito do dossiê do Irão e do Acordo Nuclear de que os norte-americanos se desvincularam continua a aumentar, depois de ficar claro que os dois blocos não se entendem.

Desta vez, foi a Espanha a abrir as hostilidades (ou a encerrá-las, dependendo dos pontos de vista): a ministra da Defesa em funções, do governo socialista, Margarita Robles, ordenou a retirada temporária da fragata espanhola “Méndez Núñez” (F-104), com 215 marinheiros a bordo, do grupo de combate liderado pelo porta-aviões “USS Abraham Lincoln”.

O grupo já cruzou o estreito de Bab el Mandeb, que liga o Mar Vermelho ao Oceano Índico, e prepara-se para entra no estreito de Ormuz, porta de acesso marítimo ao Golfo Pérsico, mas já não contará com o navio espanhol.

Segundo a imprensa espanhola, a integração do navio no grupo de combate (onde a embarcação espanhola era a única não norte-americana) foi planeada há pelo menos um ano, para melhorar a interoperabilidade e o treino conjunto. Deveria durar seis meses, entre abril e outubro, e aportar a São Diego (Califórnia) depois de ter atravessado o Mediterrâneo, o Mar Vermelho, o Oceano Índico, o Mar da China e o Pacífico.

Como é evidente, dos planos não fazia parte nenhuma ida ao Golfo Pérsico, para mais numa situação em que o ‘comboio’ compostos por 85 embarcações (entre um cruzador lança-mísseis, três destroyers e um navio de logística, além de um submarino) deu entrada naquela zona como forma de pressionar os iranianos a voltarem a sentar-se à mesa das negociações para aceitarem um novo acordo mais à medida da estratégia norte-americana e israelita para a região.

Durante uma visita recente à base aérea de Morón de la Frontera (Sevilha), onde operam as forças norte-americanas, Margarita Robles destacou que, em relação à crise iraniana, “o compromisso da Espanha é com a União Europeia e as organizações internacionais, e é aí que vamos sempre adotar posições comuns”.

A ministra destacou ainda, citada pelos jornais, que os compromissos de Espanha são, para além daqueles que tem com a União, com a NATO – e a evolução da frota norte-americana para o Golfo Pérsico não tem nada a ver com aquela organização.

No início de maio, Teerão anunciou que deixaria de cumprir dois dos compromissos assumidos no acordo nuclear com as grandes potências. Trump anunciou de seguida novas sanções, mas a União – apesar de se queixar de uma espécie de chantagem por parte do regime iraniano, que pediu aos 27 apoio mais determinado – não se mostrou disponível para ir atrás dos norte-americanos.

Espanha fez saber que o seu navio “Méndez Núñez” permanecerá na área, mas sem entrar no Golfo. O objetivo é voltar a acompanhar o ‘comboio’ norte-americano quando este regressar à rota que estava previamente acordada.

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