Três dias depois do início da greve dos motoristas de matérias perigosas, já há fábricas de produtos alimentares que estão a fechar as portas devido à falta de subprodutos necessários à produção de produtos como óleo, azeite, papas para bebés, bolachas, entre outros produtos. Em causa está a falta de matérias primas como como o metanol, soda cáustica e ácido fosfórico que estas indústrias necessitam para manter a produção, revelou ao Jornal Económico fonte do sector.
“Já há fábricas da indústria alimentar a fechar por causa da greve dos motoristas de matérias perigosas. Não por falta de combustíveis, mas devido à falta de produtos químicos que são utilizados nas fábricas de produtos alimentares”, revelou ao JE fonte do sector. Segundo a mesma fonte, está em causa a falta de produtos químicos como o metanol, soda cáustica e ácido fosfórico que são necessários na produção de determinados produtos alimentares seja na limpeza e higiene ou para incluir no processo produtivo de alimentes como óleo, azeite ou ainda, entre outros, papas lácteas e bolachas.
O Jornal Económico tentou falar com o director geral da Federação das Indústria Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA), mas até ao momento ainda não foi possível.
O encerramento de fábricas é mais uma das consequências da greve convocada pelo Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e que se iniciou nesta segunda-feira às 00:00 por um período indeterminado para reivindicar o reconhecimento da categoria profissional específica, subsídio de risco pago ao mês (em vez de ser ao dia), revisão salarial, e também o fim dos pagamentos de ajudas de custo “de forma ilegal”, que prejudicam os trabalhadores, por exemplo, em momentos de baixa.
Esta paralisação já levou à falta de combustível em mais de 1.500 postos de abastecimento no país. E ao alerta das empresas de transportes rodoviários que estão também “já nos limites” devido à falta de combustível, admitiu esta terça-feira o presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros (ANTROP), António Cabaço.
Após a requisição civil, os militares da GNR mantiveram-se de prevenção em vários pontos do país para que os camiões com combustível pudessem abastecer e sair dos parques sem afetarem a circulação rodoviária. Nesta terça-feira, a PSP e GNR foram mobilizadas para garantir o transporte de combustível em Matosinhos e Aveiras de Cima. As duas saídas de camiões em direção aos aeroportos foram marcadas por momentos de tensão.
A greve deixou o aeroporto de Faro sem ser abastecido desde segunda-feira e o de Lisboa desde hoje, com a ANA a admitir “disrupções operacionais”.
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) apelou, por sua vez, aos cidadãos para que deem prioridade aos veículos de emergência médica nos postos de abastecimento, explicando que todas as viaturas foram atestadas de manhã.
A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) já considerou que a greve dos motoristas de matérias perigosas que se encontra em curso e que está a provocar sérios problemas no abastecimento de combustíveis irá trazer um impacto negativo ao Turismo e à economia nacional, sobretudo na semana da Páscoa, época tradicionalmente muito procurada pelos portugueses para gozo de férias.
Decretada crise energética
Nesta terça-feira, 16 de Abril, o Governo declarou “situação de alerta” de crise energética devido à greve nacional dos motoristas de matérias perigosas, implementando medidas excecionais para garantir os abastecimentos. Objetivo: acautelar de imediato níveis mínimos nos postos de abastecimento, de forma a garantir o abastecimento de serviços essenciais, designadamente para forças e serviços de segurança, assim como emergência médica, proteção e socorro”.
Entre as implementadas pelo Governo está a convocação das empresas e dos trabalhadores dos setores público e privado que estejam “habilitados a apoiar as operações de abastecimento de combustíveis necessárias”.
O cenário de crise assegura níveis mínimos de combustível nos postos para polícias, bombeiros e serviços de emergência. Numa tentativa de mediar o conflito, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, convocou ontem uma reunião de emergência com o SNMMP e a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), as duas estruturas que estão em guerra nesta paralisação. O encontro terminou às 23h00 sem qualquer avanço.
A greve vai continuar nos próximos dias, tendo o governo e os sindicatos esclarecido quais os moldes em que vão ser exercidos os serviços mínimos, tendo já o primeiro-ministro admitido hoje que estes poderão vir a ser alargados para além da Grande Lisboa e Grande Porto.
Indústrias de vestuário em risco de fechar
Além das indústria alimentar, a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção (ANIVEC/APIV) manifesta também a sua “maior preocupação” perante os efeitos que estão a decorrer da greve dos motoristas de matérias perigosas. “O impacto negativo no setor do vestuário e na economia nacional está a causar danos catastróficos”, assegura, realçando que os prejuízos desta greve “são manifestos”. A ANIVEC/APIV recorda que o setor do vestuário é por excelência um setor de trabalho intensivo, eminentemente exportador, empregando atualmente mais de 110.000 trabalhadores, distribuídos por cerca de mais de 5.000 empresas, que na sua maioria, cerca de 95%, empregam menos de 50 trabalhadores.
“Ora, tal greve acarreta o bloqueamento dos transportes dos trabalhadores e suas famílias, bem como o cumprimento dos prazos de entrega das encomendas, provocando nalguns casos a perda do cliente, causando assim incomensuráveis prejuízos ao sector do vestuário”, conclui, dando conta que tal bloqueio, a manter-se, “certamente” causará o encerramento de algumas empresas. E deixando o apelo a um entendimento ”rápido e sensato das partes envolvidas”.
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