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Crise na Venezuela pode entrar esta semana numa nova fase

Juan Guaidó quer estabelecer contactos com o Comando Sul. A União Europeia não parece ter gostado da ideia, e mesmo internamente, no movimento oposicionista a Maduro, há muitos que não concordam com essa deriva.
13 Maio 2019, 07h35

Juan Guaidó, o líder da oposição na Venezuela, prepara-se esta semana para dar um passo que os analistas consideram sem retorno: após o ataque do regime contra a Assembleia Nacional, à prisão do seu vice-presidente (Edgar Zambrano) e às acusações contra vários deputados, instruiu o seu representante em Washington para estabelecer contactos com o Comando Sul.

“Instruímos o nosso embaixador Carlos Vecchio a encontrar-se imediatamente com os nossos aliados”, disse, antes de mencionar “o Comando Sul” – braço do exército norte-americano responsável pela cooperação de segurança para América Central e do Sul. Guaidó quis assim dar a entender que, quando afirma que tem em aberto a opção militar (pedir uma intervenção armada aos Estados Unidos), não está a usar nenhuma figura de estilo.

Mas as reações não se fizeram esperar – e nem todas foram no sentido que Guaidó pretendia. A União Europeia, pela voz da ‘ministra’ comum dos Negócios Estrangeiros, a italiana Federica Mogherini. Já veio apelar a uma solução pacífica e voltou a afirmar que os 27 não apoiam senão essa opção.

Para Guaidó, a opção militar é uma solução de enorme risco. Não só poderá perder apoios internacionais, como no próprio interior do seu movimento há muitos que não querem as botas dos soldados do exército norte-americano a pisar o solo do seu país. Para mais, a opção pode também ser um travão a que mais venezuelanos se juntem ao movimento anti-regime e desmotivar os elementos das forças armadas venezuelanas a mudarem de campo.

De qualquer modo, disse o dirigente da oposição, o objetivo do encontro entre Vecchio e o Comando Sul é “estabelecer relações diretas em termos de cooperação”. E, sabendo das prováveis críticas, respondeu-lhes mesmo antes de Federica Mogherini ter falado sobre o assunto: “a melhor opção para a Venezuela, e eu digo isso aos nossos aliados da Comunidade Europeia, do Grupo de Lima, aos Estados Unidos, é o que gerar a mudança mais rapidamente”, disse, citado pelos jornais venezuelanos.

Do lado da Casa Branca, o vice-presidente Mike Pence e o secretário de Estado Mike Pompeo não deixaram de garantir que todas as opções estão em cima da mesa. Guaidó tem outro trunfo: “a intervenção na Venezuela já existe: é a penetração do ELN e dos cubanos na Venezuela”.

Entertanto, Guaidó vai somando contactos: “recebemos uma comunicação da diplomacia chinesa qie diz que uma solução está próxima através do grupo de contacto”, disse, sem especificar. Recorde-se que Pequim tem-se mantido ao lado do regime de Maduro e foi um dos primeiros a aceitar a validade das últimas eleições presidenciais – num quadro em que muitos países tiveram muitas dúvidas sobre a forma como decorreu o ato eleitoral.

Os analistas afirmam que Pequim pode estar a pressionar Maduro para que aceite o diálogo com a oposição – mas não há qualquer certeza de que seja isso que está implícito no ‘recado’ oriundo de Pequim.

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