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Crise no sector dos arrendamentos deve ser combatida com norma-travão ou com subsídios?

Proprietários de um lado, inquilinos do outro. No meio, uma barricada que não contribuirá para uma solução do aumento das rendas
17 Setembro 2023, 15h00

Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 9 de setembro, com a edição impressa do Semanário NOVO.

Luís Menezes Leitão, presidente da Associação Lisbonense de Proprietários

Qualquer travão ao aumento das rendas resulta em obrigar os senhorios a subsidiar os inquilinos. E na quebra de um princípio que existe desde 1985, segundo o qual as rendas são atualizadas de acordo com a inflação. Já tivemos valores de inflação muito superiores, nomeadamente na década de 80 do século passado, acima dos 10% – e nunca houve um travão às rendas. A explicação é pura e simplesmente que o governo acaba por gerar pânico no sector da habitação: os proprietários ficam convencidos que vão ser apanhados na armadilha das contas congeladas e acabam por não arrendar os imóveis, ou terminar os contratos quando o podem fazer. O travão
induz a diminuição do número de fogos no mercado. Em consequência disso, há um aumento das rendas. Ou seja, há um efeito contrário ao pretendido. Essa possibilidade é apenas feito por razões ideológicas do Governo, porque em termos de eficácia
resulta em menos imóveis no mercado e em rendas mais caras. Os subsídios aos inquilinos têm vantagens estabelecidos apenas para quem deles precisa – porque se for uma oferta genérica, o resultado é provocar mais inflação. As questões sociais devem resolver-se caso a caso: não se coloca todo um sector económico bloqueado por causa de uma questão social. Naturalmente que somos favoráveis
a que os inquilinos que precisam recebam subsídios, não fazendo sentido subsidiar quem não tem carência efetiva. Uma norma genérica como a norma-travão não resulta.

António Machado, secretário geral da Associação de Inquilinos Lisbonenses

No decénio as rendas novas, naturalmente, aumentaram 60% ou mais. No último ano, as prestações das casas aumentaram entre 50% e 100%. Em muitos casos, os contratos não são renovados porque os senhorios querem aumentar as rendas. A questão que se coloca é portanto esta: atualizar as rendas porquê e para quê? Face ao que se passa no mercado imobiliário e do arrendamento, o travão é zero. Além do apoio aos inquilinos que mais necessitam, que se crie também um apoio aos senhorios – de facto existem senhorios que têm algumas dificuldades – para compensar o não aumento das rendas. Estamos a falar de senhorios individuais de fracos recursos, não de senhorios coletivos ou fundos de investimento. As rendas significam de uma forma geral uma taxa de esforço superior aos 50% – mesmo as mais antigas. Portanto, vamos aumentar o quê? Nem os salários nem as pensões acompanharam os aumentos generalizados. No caso concreto da habitação e do arrendamento, estamos numa situação de calamidade. E as medidas tardam. Do ponto de vista político, se o Governo não aceitar o travão zero, é um problema dele. E estamos a falar de um problema muito sério. A nossa posição tem a ver com uma análise realista. A taxa de esforço que neste momento é em termos médios superior aos 50% não dá margem para qualquer aumento. Daí a insistência da nossa parte para que não haja qualquer atualização das rendas. O que tem a ver com o conhecimento da situação

 

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