O primeiro trimestre do ano está concluído e fica marcado por um contexto nacional conturbado. Os próximos meses serão desafiantes e Portugal não pode esquecer os compromissos já assumidos.

Em termos ambientais, Portugal iniciou este ano com a obrigatoriedade da recolha seletiva de biorresíduos e este é, sem dúvida, um grande desafio para o País, mas, simultaneamente, uma oportunidade para contribuir para o cumprimento dos objetivos definidos pelo Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, que assenta na redução de emissões entre 85% e 90% até 2050, face a 2005. Contudo, não tenhamos dúvidas, a obrigatoriedade da recolha seletiva de biorresíduos exige investimento e um esforço acrescido para a atividade das entidades gestoras e para os seus municípios.

São já várias as autarquias que estão a trabalhar ativamente na implementação de medidas, mas ainda há muito caminho a percorrer. Entre os municípios que já fazem recolha seletiva de biorresíduos encontram-se Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra, destacando-se com um projeto pioneiro, que consiste na recolha dos biorresíduos através de um saco verde que permite leitura ótica entre os resíduos indiferenciados, evitando o desperdício, a contaminação e, em última análise, a deposição em aterros. E este último ponto é da maior relevância, face à cada vez menor capacidade disponível da generalidade dos aterros por todo o país.

Recorde-se que se pretende que a partir de 2030 nenhum resíduo adequado para reciclagem ou outro tipo de valorização, seja depositado em aterros e o potencial é enorme: os biorresíduos (alimentares e resíduos verdes) representam cerca de 40% dos resíduos urbanos (RU) produzidos em Portugal Continental, aos quais se juntam o plástico (10%), o papel/cartão (9%) e o vidro (7%), aos quais se juntam outras frações valorizáveis com menor peso, como os metais, as madeiras e os compósitos, bem como os têxteis e os monstros que também deverão se alvo de recolha seletiva até 1 de janeiro de 2025.

Para alcançar os objetivos traçados em termos de neutralidade carbónica e promover um verdadeiro modelo de gestão circular em matéria de resíduos, é necessário investimento e a implementação de diferentes medidas, incluindo a sensibilização da população. É imprescindível que cidadãos, empresas e instituições públicas e privadas reduzam o consumo desnecessário, optando por produtos de maior qualidade e durabilidade e é igualmente importante que pratiquem a separação dos resíduos e adiram ativamente, e cada vez mais, à utilização de produtos mais sustentáveis e recicláveis.

Só em conjunto será possível atingir metas e viver num planeta mais sustentável. Há uma mudança sistémica que requer cooperação entre governos, indústria, sociedade civil e indivíduos, bem como investimento em inovação e tecnologia, porque a gestão eficaz de resíduos e a redução das emissões de carbono são cruciais para a sustentabilidade.

A reciclagem, pese embora tenha um longo caminho a percorrer, tem vindo a ser incrementada e a quantidade de resíduos que são colocados nos ecopontos têm vindo a aumentar de ano para ano, mas não podemos ficar por aqui. A meta a atingir, em 2030, exigirá ação e investimento de todos os intervenientes que não pode ser adiado.