A subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE), com reflexo nas taxas Euribor, aumentou os encargos com a habitação, “encolhendo” os orçamentos das famílias e deixando menos margem para satisfazer outras necessidades do dia-a-dia. Para responder a estas despesas, como fazer obras em casa, ir de férias ou substituir um eletrodoméstico, os portugueses estão a procurar mais crédito pessoal para outras finalidades.
O montante de novos contratos de crédito ao consumo cresceu 9% entre janeiro e julho, com as famílias a pedirem um valor recorde de 4,85 mil milhões de euros em empréstimos para o consumo, quando comparado com o mesmo período do ano passado, à boleia sobretudo do sector automóvel, de acordo com os cálculos do Jornal Económico (JE) com base nos dados mais recentes divulgados pelo Banco de Portugal. Em 2023, tinha descido 0,2% face ao ano anterior.
Enquanto o crédito pessoal para as finalidades de educação, saúde e energias renováveis recuou 0,8%para 79,6 milhões de euros, no acumulado dos primeiros sete meses deste ano, em termos homólogos, o mesmo não aconteceu nos outros créditos pessoais. O montante contratado subiu 6,6% para 2,1 mil milhões, quando tinha descido 7% em 2023 face a 2022.
“Por terem de canalizar um valor mais elevado para o crédito da casa, há outros custos do dia-a-dia que já não são suportados pelo salário e as famílias têm de recorrer a crédito”, afirma Duarte Gomes Pereira, secretário-geral da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC) ao JE, explicando que “se eu precisar de fazer face a custos que não seja o automóvel ou educação ou saúde, entram para aqui [outros créditos pessoais]. Se tiver de substituir um eletrodoméstico, se tiver de fazer obras em casa, entram nos outros créditos”, que também podem incluir crédito consolidado.
Apesar deste aumento da procura por crédito ao consumo, o responsável pela associação que representa as financeiras em Portugal afasta quaisquer receios em torno de uma subida do incumprimento. Duarte Gomes Pereira reforça que a taxa de crédito malparado nos empréstimos ao consumo situa-se, atualmente, nos 2,6%, a taxa mais baixa em mais de duas décadas. Isto num período em que a taxa de desemprego também não tem aumentado, o que revela um mercado laboral sólido e permite às famílias continuarem a pagar as suas dívidas junto do sector financeiro.
Peso da casa começa a “encolher”
O crescimento do crédito pessoal acontece num período marcado pela subida das taxas de juro. Uma vez que, em Portugal, quase 90% dos créditos à habitação, que representam a maior despesa das famílias, estão indexados a taxas variáveis, as Euribor, o rendimento disponível das famílias portuguesas acaba por ser mais sensível à evolução das taxas. Nesse sentido, o orçamento tem vindo a diminuir nos últimos dois anos à boleia da política monetária do BCE para tentar travar a inflação.
Este cenário está agora a mudar. O banco central liderado por Christine Lagarde fez o primeiro corte das taxas no início do verão e não deverá ficar por aqui, com o mercado à espera de mais um corte no encontro agendado para outubro. Uma perspetiva que ganhou força depois de dados económicos, mais concretamente os chamados índices de gestores de compras, nos setores dos serviços e industrial, terem apontado esta segunda-feira para uma forte quebra da atividade em setembro.
Esta descida já se está a refletir nas Euribor. A taxa a seis meses, que passou em janeiro a ser a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável e que esteve acima de 4% durante alguns meses no ano passado, situa-se agora nos 3,212%. No prazo a 12 meses, a Euribor está nos 2,902%, um novo mínimo desde o final de 2022.
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