“Custou, mas foi, porra!”, exclama Carlão a dado momento. É a síntese perfeita não só para o regresso dos Da Weasel, que por fim se deu este sábado no NOS Alive, quase três anos depois de ter sido anunciado, mas para a reanimação dos festivais de verão e de tudo o que vem com eles. A banda não pisava um palco há 12 anos e fê-lo este fim-de-semana – com vista para a sua adorada Almada e a margem sul, claro -, numa hora e meia condensada de êxitos, gritos, celebrações, envolta numa ânsia coletiva que esgotou o último dia do festival.
Era um concerto de “responsabilidade acrescida”, como os próprios admitiram. Carlão pediu desculpa ao público pelos raros pregos, e teve até de recomeçar uma música quando se enganou nos primeiros versos. Mais de uma década depois, estranho era se não falhasse alguma coisa. “As falhas vão ser todas revistas”, diz Virgul, agradecendo à plateia por proporcionar essa oportunidade. Mas ninguém levou a mal.
O público que recebeu os Da Weasel este sábado soube tomar o seu lugar no coro, enlatados e extasiados, a acompanhar cada tema com a pujança que se exige, numa atuação que encheu o estômago também aos fãs das rimas e álbuns mais obscuros. Para os velhos e para os novos, já que na primeira fila deste concerto encontrávamos fãs que, pela idade e pela década que passou, estavam a ver a doninha ao vivo pela primeira vez.
A julgar pelas estrofes decoradas, pela histeria às primeiras notas e pelo sorriso rasgado, os êxitos dos Da Weasel sobreviveram aos teste do tempo e na era da viralidade, a nova geração pareceu muito satisfeita.
Mas o momento patrocinado por Carlão, Virgul, o baterista Guilherme Silva, o guitarrista Pedro Quaresma, o baixista João Nobre e DJ Glue foi mais do que uma reunião em jeito de festa, mais do que um concerto nostalgia, ou uma viagem pelo tempo. Foi um ‘rebenta a bolha’ a que ninguém ficou indiferente. Se cabia tudo numa hora e meia? Claro que não. Mas ao mesmo tempo não lhes faltou nada.
Ainda antes da entrada em palco, os ecrãs do NOS Alive interromperam a música ambiente e a publicidade para transmitir ‘Da Weasel: Agora e Para Sempre’, com o cunho da rádio Antena3, que a própria banda refere ter sido o ponto de partida. O documentário de animação da autoria de Bruno Martins e realizado e editado por Catarina Peixoto com produção assinada por Filipa Torrado Ramos leva os fãs até a Almada dos anos 90, embalados nas ilustrações de António Piedade, para retratar aquela que tem sido uma viagem feliz, uma história de sucesso com poucas comparações possíveis na indústria musical portuguesa.
Feito o trabalho de casa, é hora de abrir a ‘Loja’.
Foi com a canção do ‘carocho’ (gíria para toxicodependente) que se voltou a evidenciar a estrondosa dinâmica de Virgul e Carlão em palco, sempre na mesma página e com a mesma genica. Não demorou muito até o suor escorrer pela cara, numa corrida infernal para entregar ao público um set condensado mas recheado, pontilhado de nostalgia e também de fúria.
Não há quem os consiga rotular como sendo deste género ou daquele. O leque eclético trouxe a melancolia de ‘Dúia’ ou a mestria de orquestra de ‘Mundos Mudos’, com um aceno ainda a outros temas mais distantes da discografia. No ‘Carrossel’ couberam ainda êxitos mais sonantes como ‘Dialectos de Ternura’ e ‘Toque-Toque’, tema em que Carlão desce à plateia para pegar na filha Joana ao colo. “Os filhos não existiam antes”, recorda-nos. Já se passaram uns aninhos, de facto.
O Passeio Marítimo de Algés teve ainda dose dupla de Manel Cruz, dos Ornatos Violeta, que atuaria mais tarde no Palco Heineken – uma atuação também memorável -, quando ‘Casa (Vem Fazer de Conta)’ o trouxe em versão vídeo aos ecrãs. Aproximando-se o final, nada desejado, vieram êxitos de ‘Re-Tratamento’, aquele álbum que fixou Da Weasel nas nossas playlists e que os tornou efémeros, imunes à passagem do anos. Em palco, os olhos brilhavam, os sorrisos eram inegáveis e ‘Tás na Boa’ foi o tema escolhido para encerrar a cerimónia.
Com um sabor agridoce, ora a ‘olá de novo’, ora a ‘adeus para sempre’, a banda percorreu o corredor central para uma vénia e ovação prolongada, embalada na melodia de ‘A Palavra’, um tema em ode a Bernardo Sassetti. Ficamos por aqui? Ou voltamos para a semana? Não se sabe, mas foi bom.
Pelo palco principal viriam ainda a passar Imagine Dragons e Two Door Cinema Club, duas bandas já conhecidas dos portugueses e dos cartazes nacionais, que irão desculpar o público pela falta de energia (ou quase total desinteresse). É que é difícil recuperar da montanha russa emocional em que os Da Weasel nos colocaram.
Há que fazer ainda uma menção muito honrosa à dimensão alternativa e estonteante que marcou o palco Heineken este sábado, com a atuação de Parcels a rebentar as costuras da tenda. Não é todos os dias que se assiste a um público tão investido num concerto e a aplaudir de forma tão assertiva quanto longa uma atuação num palco secundário. Algo nos diz que não se ficam por aqui.
Já os carros do lixo recolhiam os contentores do recinto e uma grande vaga de gente seguia em direção à saída quando coube ao canadiano CARIBOU encerrar a festa de quatro dias, também no palco Heineken, agora mais espaçoso e arejado. Por pura coincidência ou acaso astral, foi com a elétrica ‘Can’t Do Without You’ que o NOS Alive se despediu do público português, após dois anos de hiato.
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