Já não restam ilusões de uma recuperação económica em V. O que nos espera é uma lenta retoma em U, com os efeitos da crise a estenderem-se para lá de 2020. É, de resto, no próximo ano que o impacto da pandemia sobre as empresas e as famílias será maior, à medida que terminarem os apoios públicos e as linhas de crédito e moratórias começarem a ser pagas.
O emprego vai ser certamente um dos indicadores mais penalizados neste ano e no próximo. A taxa de desemprego deverá rondar os 10%, em resultado da forte contração da economia motivada pela crise pandémica (prevê-se uma queda do PIB de quase 7% em 2020). Estão a perder-se muitos dos empregos criados nos últimos anos, em particular no sector do turismo, um dos mais fustigados pela pandemia. Trata-se, em larga medida, de empregos precários e pouco qualificados, logo mais vulneráveis às flutuações da conjuntura económica.
Perante a brutal destruição de empregos causada pela pandemia (só no 2.º trimestre deste ano desapareceram 135 mil empregos), não creio que a resposta esteja numa maior rigidez do mercado de trabalho ou em limitações à autonomia das empresas na gestão de pessoal. A solução para a preservação e criação de emprego não passa por mais restrições ao ajustamento laboral das empresas, mas sim por estímulos ao investimento, à competitividade e à internacionalização.
Parece-me também que a retração do mercado de trabalho deve ser aproveitada para uma maior adequação das competências profissionais às necessidades das empresas, através de políticas e programas de qualificação do capital humano. A inatividade imposta pela pandemia pode ser uma oportunidade para (re)qualificar importantes franjas da população ativa, designadamente com vista a preparar a inadiável transição digital da nossa economia.
As empresas têm de incorporar tecnologias digitais nas suas cadeias de valor, de modo a melhorarem a eficiência interna, a ganharem competitividade internacional, a acompanharem os novos hábitos de consumo e a estreitarem as relações com os clientes. Mas, para que isso aconteça, necessitam de capital humano com competências digitais, um recurso que, como sabemos, escasseia em Portugal. Por conseguinte, há que apostar em programas de formação tendo em vista quer a promoção da literacia e inclusão digital, quer a qualificação digital especializada.
A necessidade de acelerar a transição digital é ainda mais premente nas micro e pequenas empresas, com baixa ou nenhuma intensidade tecnológica. Por isso, os programas de capacitação digital devem incidir principalmente nos pequenos negócios low tech, aproveitando a quebra de atividade que essas empresas estão a conhecer fruto da pandemia. Seria uma forma de preservar o emprego e, ao mesmo tempo, preparar as micro e pequenas empresas para as exigências da economia moderna.
Independentemente do atual contexto de crise, as competências digitais são um fator crítico de integração profissional, dado o impacto das TIC no mercado de trabalho. As profissões mais rotineiras, menos especializadas e que não exigem conhecimento ou criatividade tendem a desaparecer ou de ser substituídas por tecnologias. E há, ao invés, um conjunto de novas profissões a emergir ligadas ao software, ao e-commerce, à inteligência artificial, às redes sociais, ao big data… Ou seja, as oportunidades profissionais estão hoje fortemente dependentes das competências digitais.