Mais de doze anos depois da última greve geral, o país vai paralisar esta quinta-feira, dia 11, em protesto contra o pacote laboral que ainda está a ser debatido na concertação social. Convocada pelas duas centrais sindicais (CGTP e UGT), a greve geral vai ter especial impacto em setores como a educação, com escolas fechadas e crianças a terem de ficar em casa, na saúde, com consultas e cirurgias adiadas, e nos transportes, deixando muitos sem hipótese de se deslocarem.
Contudo, a paralisação não será total e absoluta, uma vez que nos setores que visam a “satisfação de necessidades sociais impreteríveis”, a lei do trabalho determina a “prestação de serviços mínimos indispensáveis”. E assim será. Hospitais, lares e transportes vão funcionar na quinta-feira, embora de forma limitada. Saiba, um a um, quais os serviços mínimos já fixados (e onde não foram, como é o caso do Metro de Lisboa).
Do lado do Governo, a ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, tem acentuado que a paralisação, além de “inoportuna”, é particularmente “gravosa para os trabalhadores, famílias, crianças e quem precisa de ir a uma consulta”, e espera que os serviços mínimos sejam cumpridos. O custo da paralisação é ainda uma incógnita mas estima-se que supere os 700 milhões.
A greve terá impacto ao nível da atividade programada: consultas e cirurgias. Em declarações ao Jornal Económico, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) disse esperar uma grande adesão dos médicos à paralisação e assegurou que, tal como sempre o fizeram, estes profissionais irão cumprir os serviços mínimos que estão estabelecidos.
Estão garantidos os serviços de urgência, assim como tratamentos de quimioterapia, radioterapia e medicina nuclear. Os internamentos, os cuidados paliativos e as mudanças de pensos estão também incluídos nos serviços mínimos. O INEM estará operacional.
Na decisão do Tribunal Arbitral, divulgada no site do Conselho Económico e Social (CES), são detalhados quais os serviços que continuarão a funcionar. De um modo geral, devem estar asseguradas situações de urgência, “assim como todas aquelas situações das quais possa resultar dano irreparável/irreversível ou de difícil reparação, medicamente fundamentadas”. Designadamente:
O Governo publicou um despacho fixando serviços mínimos aos trabalhadores das empresas associadas na Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal – AHRESP, que prestam serviço nas cantinas, refeitórios, fábricas de refeições e bares concessionados. Garantindo assim:
A Santa Casa da Misericórdia também vai assegurar o apoio domiciliário, incluindo a alimentação e os serviços de higiene.
Nos transportes, um dos setores que mais impacto tem numa paralisação, os trabalhadores da Carris, da CP e da Transtejo-Soflusa (barcos) terão de assegurar serviços mínimos. O metro ficou de fora, o que quer dizer que estará encerrado. A empresa contestou a decisão, mas o desfecho desse recurso só será conhecido depois da greve, disse ao JE José Manuel Oliveira, coordenador da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans).
A federação estranhou a decisão do Metropolitano, uma vez que nunca são fixados serviços mínimos nas greves do Metro por razões de segurança. “É um meio de transporte pesado em subsolo e a afluência de muitos passageiros de forma desregulada e descontrolada num dia de greve, a haver um problema qualquer destes, para além de os utentes não ficarem em segurança os nossos trabalhadores também não”, explicou Anabela Carvalheira, dirigente sindical, à Antena 1.
Em todo o caso, afirmou ao JE José Manuel Oliveira, o desfecho do recurso só virá depois da greve. Por outro lado, a Fectrans que vai contestar os acórdãos que determinaram serviços mínimos para a CP/IP, Carris e Transtejo Soflusa.
Começando pela CP – Comboios de Portugal, o Tribunal Arbitral decidiu que devem ser asseguradas “todas as composições que hajam iniciado a marcha devem ser conduzidas ao respetivo destino e estacionadas em condições normais de segurança” bem como todos os comboios que transportem substâncias ou matérias perigosas (em carga ou em vazio), que “devem ser conduzidos ao seu destino”. É também assegurado “o comboio de socorro, sempre que necessário”.
Além disso, há serviços mínimos para os comboios de:
A CP alertou que haverá perturbações na circulação de comboios na quinta-feira, mas que poderá haver impactos quer antes, esta quarta-feira, quer depois, sexta-feira.
“Os clientes que já tenham bilhetes adquiridos para viajar em comboios dos serviços Alfa Pendular, Intercidades, Internacional, InterRegional e Regional, a CP permitirá o reembolso, no valor total do bilhete adquirido, ou a sua troca gratuita para outro comboio da mesma categoria e na mesma classe”, informa a empresa em comunicado.
Na Carris, em Lisboa, os serviços mínimos incluem, por exemplo, o funcionamento do transporte para cidadãos com mobilidade reduzida e o funcionamento das seguintes carreiras, em que se especifica o número de viagens que devem fazer durante o período da greve. Abrangidas neste leque estão as carreiras n.º 703 (129 viagens); 708 (115 viagens); 717 (162 viagens); 726 (128 viagens); 735 (162 viagens); 736 (165 viagens); 738 (85 viagens); 751 (165 viagens); 755 (128 viagens); 758 (182 viagens); 760 (120 viagens) e 767 (160 viagens).
No acórdão é referido que cabe à Fectrans “identificar os trabalhadores adstritos ao cumprimento dos serviços mínimos até 24 horas antes do início da greve”; se o não fizer, avisa-se, tal faculdade deverá ser exercida pela empresa.
Para os trabalhadores da Transtejo Soflusa (TTSL), o Tribunal Arbitral decidiu que devem ser asseguradas, de manhã, entre as 6h e as 9h30, e ao final do dia, entre as 18h30 e as 20h, 25% dos barcos. Além disso, devem ser assegurados os “serviços necessários à segurança e manutenção do equipamento e instalações da TTSL em todas as vertentes em que, por força da greve, tais necessidades se verifiquem, incluindo, designadamente, os serviços de natureza urgente e de socorro, bem como os necessários à segurança do terminal ou de algum navio, nos termos definidos no pré-aviso”.
Tal como na Carris, devem os representantes dos sindicatos que declararam a greve “designar os trabalhadores necessários para assegurar os serviços fixados e informar do facto o empregador, até 24 horas antes do início do período de greve, devendo a TTSL fazê-lo, caso não seja atempadamente informada desta designação”.
O acórdão termina assinalando que “o recurso ao trabalho de aderentes à greve só é lícito se estes serviços mínimos não puderem ser assegurados por trabalhadores não aderentes nas condições normais da sua prestação de trabalho”.
A Norte, não foram decretados serviços mínimos para a STCP. O metro do Porto, que serve sete municípios da Área Metropolitana, alertou que vai ter a sua operação “fortemente condicionada durante todo o dia da greve como também na noite da véspera”.
Na quarta-feira, as últimas partidas em toda a rede realizar-se-ão entre as 22h00 e as 23h00, sendo que durante o dia o serviço mantém-se com horários e frequências inalterados. Já no dia da greve geral, “apenas haverá operação na linha Amarela, entre as estações do Hospital de São João e de Santo Ovídio [Vila Nova de Gaia] e no tronco comum, entre Campanhã e a Senhora da Hora [Matosinhos]”. Em ambos os casos, acrescentou, “haverá uma frequência de dois veículos por hora e por sentido, das 06h00 à 01h00, acrescida de um reforço de mais dois veículos por hora e por sentido entre as 07h00 e as 20h00”.
Na quinta-feira, dia da paralisação, “não haverá serviço nas linhas Azul (A), Vermelha (B), Verde (C), Violeta (E) e Laranja (F)”, avisou a Metro do Porto.
Já em Coimbra, o metrobus funciona com o serviço completo, mas vários outros transportes são reduzidos a serviços mínimos.
Na aviação, o tribunal decretou que devem ser assegurados todos os voos de regresso à base de Lisboa e Porto, todos os voos de emergência e todos os voos de Estado.
Paralelamente, e por acordo entre a TAP e os sindicatos aderentes à greve (SITAVA – Sindicato dos Trabalhadores da AVIAÇÃO e Aeroportos o SITEMA – Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves o SIMA – Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins e o SNPVAC – Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil para os trabalhadores da TAP – Transportes Aéreos Portugueses S.A), foram assegurados três voos de ida e volta para os Açores e dois para a Madeira, e um voo de ida e volta para os seguintes países: Bélgica, Luxemburgo, Reino Unido, Alemanha, Suíça, França, Cabo Verde e Guiné-Bissau.
Estão ainda contemplados três voos de ida de volta para o Brasil e dois para os EUA. O acordo, divulgado na página da Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) e pode ser consultado na íntegra aqui.
Por causa da greve, a TAP decidiu cancelar os voos do dia 11 e começou a contactar os clientes com a ‘oferta’ de alternativas. “Se o passageiro quiser proativamente antecipar ou adiar o seu voo desse dia para os três dias antes ou depois, poderá fazê-lo, sem custos” no site e aplicação da TAP ou nas agências de viagens, informa a companhia.
No caso da Sata Internacional, o acordo foi com o Sitava – Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos e com o Sitema.
Foram acordados nove voos da companhia, abrangendo ligações entre o Continente e as Regiões Autónomas e ligações internas entre ilhas. A SPdH alcançou um acordo com o Sitava e o Sima, depois de ter apresentado uma proposta para assistência a 30% dos voos das companhias suas clientes.
A empresa de handling irá assistir os voos contemplados nos serviços mínimos da TAP e Sata, mais um voo de ida e volta para a Alemanha, operado pela Lufthansa. Assegura ainda a assistência aos voos de regresso à base e cuja partida tenha ocorrido antes do início da greve.
Sem acordo, o Governo determinou que os trabalhadores da easyJet e o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) devem prestar, como serviços mínimos os seguintes voos de ligação:
Noutro despacho governamental é fixado que a Ryanair deve prestar na quinta-feira, como serviços mínimos os seguintes voos de ligação:
A REN acordou com os vários sindicatos – Sindicato Nacional da Indústria e da Energia (Sindel), do Sindicato dos Trabalhadores do Setor de Serviços (Sitese) e da Federação Intersindical das Indústria Metalúrgicas, Químicas, Elétricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas (Fiequimetal) – serviços mínimos para o dia da greve que “sejam os necessários e suficientes para garantir a atividade tal como é desempenhada em dias de fim de semana ou feriado”.
Para tal, deverão comparecer ao serviço os “trabalhadores que se mostrem necessários para garantir a atividade nesses períodos, nomeadamente todos os trabalhadores que estejam escalados de acordo com o regime de turno e de disponibilidade”.
No caso da Petrogal não houve acordo, o que levou o Governo a emitir um despacho a definir serviços mínimos. “No período de greve abrangido pelos avisos prévios de greve da FIEQUIMETAL, da FEPCES, da FETESE, da CGTP-IN e da UGT, as referidas associações sindicais e os trabalhadores que adiram à greve devem, na Refinaria de Sines, nos Terminais de Sines e de Leixões, na Sigás e nos Parques de Expedições da Pergás, Logístico de Matosinhos, da CLC_Aveiras, de Sines e Tanquisado, no Parque Eólico do Vale Grande e nos Parques Fotovoltaicos de Alcoutim” devem “assegurar a prestação dos serviços mínimos indispensáveis”, pode ler-se no documento.
Que especifica de seguida, entre a vasta lista de itens, deve ser assegurado o “fornecimento de combustível de aviação para voos essenciais ou de serviços mínimos, nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, e na Madeira e Açores”; a manutenção de equipamentos em situações que afetem as condições de segurança e a salvaguarda do ambiente, incluindo sistemas de informação e o funcionamento mínimo, de acordo com os respetivos manuais de operação e requisitos técnicos de interoperabilidade das diversas unidades, das Fábricas I, II e III da Refinaria de Sines.
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