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Dados do emprego dos EUA castigaram bolsas, mas ajudam a baixar custo da dívida soberana

Os dados do emprego mostraram que o mercado laboral norte-americano está a arrefecer e isso cria expetativa de que desta forma seja mais fácil fazer descer os níveis de inflação, e, por conseguinte, possa levar a Fed a descer taxas de juro. O efeito foi visível na descida das yields de dívida soberana.
EUA
epa12355547 A member of the public passes the US Department of Labor in Washington DC, USA, 05 September 2025. The latest US Labor market report was released on 05 September showing 22,000 jobs were added to the US economy in August and also the unemployment rate rose to 4.3 percent. EPA/WILL OLIVER
8 Setembro 2025, 07h00

Na sexta-feira as bolsas europeias inverteram o sentimento da abertura e encerraram em baixa, após a revelação de que a economia norte-americana criou menos postos de trabalho que o previsto em agosto. Wall Street também fechou em queda.

Por outro lado, os preços do petróleo também caíram e acabaram por derrubar as ações do setor energético.

Devido ao ambiente adverso, o BCP e a Galp lideraram as quedas na praça lisboeta na sexta-feira.

Do outro lado do Atlântico, na semana passada, “o S&P500 atingiu novos máximos, ultrapassando a marca dos 6.527 pontos, num momento em que os índices americanos continuam a desconsiderar os aparentes riscos subjacentes”, destacou Henrique Valente, analista da ActivTrades Europe.

Na sexta-feira os mercados foram impactados negativamente pela divulgação dos dados do emprego dos EUA que mostraram que o mercado laboral norte-americano está a arrefecer e isso cria expetativa de que desta forma seja mais fácil fazer descer os níveis de inflação, e, por conseguinte, possa levar a Fed a descer taxas de juro.

Evidências claras de que o mercado laboral norte-americano está a abrandar pressionaram as ações em Wall Street e sustentam as obrigações soberanas, perante receios de que a Reserva Federal seja forçada a agir rapidamente para travar uma maior fraqueza, dizem os analistas.

“O efeito foi visível na descida das yields de dívida soberana e inicialmente até jogou a favor dos mercados de ações, mas essa descida penalizou o setor da banca e parece ter gerado receios económicos”, referiu a MTrader na sua análise.

O relatório de emprego da ADP mostrou empregos privados mais fracos, alimentando preocupações com o mercado de trabalho.

O relatório da ADP indica que foram criados apenas 54 mil empregos em agosto nos EUA e os novos pedidos de subsídio de desemprego avançaram para máximos de 10 semanas. O índice ISM para o setor dos serviços avançou para máximos de seis meses, superando as estimativas, mas a componente do emprego agravou a tendência negativa.

Os investidores veem agora um corte de juros de 25 pontos base quase certo na reunião da Fed em setembro e apostam em até três cortes este ano.

O período de dados laborais mais fraco desde a pandemia suporta a descida do dólar e o alívio das yields das obrigações de curto prazo. O euro aprecia 0,58% para 1,1717 dólares. O dólar mais fraco favorece as exportações dos Estados Unidos. É um facto que Donald Trump tem defendido um dólar mais fraco como forma de tentar estimular as exportações da maior economia do mundo, diminuindo assim o défice comercial dos EUA.

Por sua vez, os juros da dívida dos Estados Unidos a 10 anos recuam 8,55 pontos base para 4,07%, abaixo dos juros da dívida do Reino Unido no mesmo prazo que está nos 4,64% (a dívida britânica a 30 anos está nos 5,5%).

É como se Trump estivesse a jogar as peças de um xadrez com vista ao arrefecimento da economia, equivalente ao nosso período de austeridade, para equilibrar as contas públicas.

O “The Washington Post” escreveu que “as polémicas tarifas de Trump são agora uma bênção financeira, protegendo os EUA da liquidação do mercado obrigacionista global”, citando analistas.

“Esqueçam a justificação económica, as tarifas, inicialmente uma causa de preocupação para os mercados financeiros, são agora vistas como um elemento crucial para a estabilidade financeira de Washington. Esta mudança de perspetiva ajudou os EUA a evitar o pior da recente liquidação do mercado de obrigações do governo, noticiou o The Washington Post.

França está também sob os olhos do mercado esta segunda-feira. O primeiro-ministro francês, François Bayrou submeterá, esta segunda-feira dia  8 de setembro, o seu governo a um voto de confiança na Assembleia Nacional, na sequência da sua declaração de política geral sobre as orientações orçamentais. O impasse centra-se no orçamento de 2026, que prevê cortes de 44 mil milhões de euros para reduzir o défice de 5,8% do PIB para 4,6%. Se a moção for rejeitada, o que acontece pela primeira vez na Quinta República, o governo será obrigado a demitir-se.

Por outro lado, a OPEP+ que inclui a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, para além da Rússia e de outros aliados, vai aumentar ainda mais a produção de petróleo a partir de outubro, Os contratos futuros do petróleo Brent fecharam a cotar nos 65,50 dólares por barril na sexta-feira.

A aliança OPEP+, liderada pela Arábia Saudita e pela Rússia, acordou este domingo um novo aumento na produção de petróleo bruto para outubro, de 137.000 barris por dia.

“Perante um panorama económico global estável e fundamentos de mercado considerados sólidos, refletidos nos baixos inventários de petróleo bruto, os oito países participantes decidiram aplicar um ajuste (aumento) da produção de 137 mil barris por dia”, informou a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em comunicado.

A decisão foi tomada numa teleconferência pelos ministros da Energia da Arábia Saudita, Rússia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Cazaquistão, Argélia e Omã.

Estes oito países-chave da OPEP+ reverteram assim os cortes na sua produção que aplicaram voluntariamente em 2023.

Outra commodity, o ouro, foi negociado perto de níveis recorde na sexta-feira. O preço do ouro registou na sexta-feira um novo máximo histórico, aproximando-se dos 3.600 dólares, após a publicação dos dados sobre o emprego nos Estados Unidos (EUA) em agosto.

Ricardo Evangelista, CEO da ActivTrades Europe, explica que as pressões sobre o dólar sustentam a estabilidade do ouro. “A perspetiva para o metal precioso mantém-se positiva, sustentada pelas expectativas de cortes nas taxas de juro da Reserva Federal, que pressionam o dólar, bem como por uma procura acrescida de ativos de refúgio, alimentada pela incerteza em torno das tarifas, pelos receios de interferência política na Reserva Federal e pela persistente turbulência geopolítica”, diz.

“O metal precioso continua apoiado pelas expectativas de flexibilização monetária e pela procura contínua de ativos de refúgio no meio da incerteza global”, diz, por sua vez, Bas Kooijman CEO e Asset Manager da DHF Capital.

As tensões geopolíticas continuaram a sustentar os fluxos de ativos de refúgio. A Rússia rejeitou as garantias de segurança ocidentais para a Ucrânia por considerar que se traduzem, na prática, em pôr no terreno tropas da NATO (tradicional inimiga da Rússia) às portas do país liderado por Putin, o que o Kremlim tem sempre dito ter estado na origem da guerra.

Este domingo houve um  ataque da Rússia à capital da Ucrânia, que atingiu o edifício principal do governo ucraniano, e que implicou a investida de 805 drones e mísseis. Do lado oposta a Ucrânia atacou o oleoduto Druzhba em Bryansk, na Rússia, apesar do pedido do primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico a Volodymyr Zelensky, num encontro bilateral, para que não o fizesse, avança a Reuters.

No Médio Oriente, Israel continua os ataques a Gaza.

Donald Trump prepara-se para visitar a Coreia do Sul no fim de outubro na cimeira da Asia-Pacific Economic Cooperation, onde irá encontrar-se com Xi Jiping e provavelmente com o presidente da Coreia do Norte Kim Jong Un.

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