Na sexta-feira as bolsas europeias inverteram o sentimento da abertura e encerraram em baixa, após a revelação de que a economia norte-americana criou menos postos de trabalho que o previsto em agosto. Wall Street também fechou em queda.
Por outro lado, os preços do petróleo também caíram e acabaram por derrubar as ações do setor energético.
Devido ao ambiente adverso, o BCP e a Galp lideraram as quedas na praça lisboeta na sexta-feira.
Do outro lado do Atlântico, na semana passada, “o S&P500 atingiu novos máximos, ultrapassando a marca dos 6.527 pontos, num momento em que os índices americanos continuam a desconsiderar os aparentes riscos subjacentes”, destacou Henrique Valente, analista da ActivTrades Europe.
Na sexta-feira os mercados foram impactados negativamente pela divulgação dos dados do emprego dos EUA que mostraram que o mercado laboral norte-americano está a arrefecer e isso cria expetativa de que desta forma seja mais fácil fazer descer os níveis de inflação, e, por conseguinte, possa levar a Fed a descer taxas de juro.
Evidências claras de que o mercado laboral norte-americano está a abrandar pressionaram as ações em Wall Street e sustentam as obrigações soberanas, perante receios de que a Reserva Federal seja forçada a agir rapidamente para travar uma maior fraqueza, dizem os analistas.
“O efeito foi visível na descida das yields de dívida soberana e inicialmente até jogou a favor dos mercados de ações, mas essa descida penalizou o setor da banca e parece ter gerado receios económicos”, referiu a MTrader na sua análise.
O relatório de emprego da ADP mostrou empregos privados mais fracos, alimentando preocupações com o mercado de trabalho.
O relatório da ADP indica que foram criados apenas 54 mil empregos em agosto nos EUA e os novos pedidos de subsídio de desemprego avançaram para máximos de 10 semanas. O índice ISM para o setor dos serviços avançou para máximos de seis meses, superando as estimativas, mas a componente do emprego agravou a tendência negativa.
Os investidores veem agora um corte de juros de 25 pontos base quase certo na reunião da Fed em setembro e apostam em até três cortes este ano.
O período de dados laborais mais fraco desde a pandemia suporta a descida do dólar e o alívio das yields das obrigações de curto prazo. O euro aprecia 0,58% para 1,1717 dólares. O dólar mais fraco favorece as exportações dos Estados Unidos. É um facto que Donald Trump tem defendido um dólar mais fraco como forma de tentar estimular as exportações da maior economia do mundo, diminuindo assim o défice comercial dos EUA.
Por sua vez, os juros da dívida dos Estados Unidos a 10 anos recuam 8,55 pontos base para 4,07%, abaixo dos juros da dívida do Reino Unido no mesmo prazo que está nos 4,64% (a dívida britânica a 30 anos está nos 5,5%).
É como se Trump estivesse a jogar as peças de um xadrez com vista ao arrefecimento da economia, equivalente ao nosso período de austeridade, para equilibrar as contas públicas.
O “The Washington Post” escreveu que “as polémicas tarifas de Trump são agora uma bênção financeira, protegendo os EUA da liquidação do mercado obrigacionista global”, citando analistas.
“Esqueçam a justificação económica, as tarifas, inicialmente uma causa de preocupação para os mercados financeiros, são agora vistas como um elemento crucial para a estabilidade financeira de Washington. Esta mudança de perspetiva ajudou os EUA a evitar o pior da recente liquidação do mercado de obrigações do governo, noticiou o The Washington Post.
França está também sob os olhos do mercado esta segunda-feira. O primeiro-ministro francês, François Bayrou submeterá, esta segunda-feira dia 8 de setembro, o seu governo a um voto de confiança na Assembleia Nacional, na sequência da sua declaração de política geral sobre as orientações orçamentais. O impasse centra-se no orçamento de 2026, que prevê cortes de 44 mil milhões de euros para reduzir o défice de 5,8% do PIB para 4,6%. Se a moção for rejeitada, o que acontece pela primeira vez na Quinta República, o governo será obrigado a demitir-se.
Por outro lado, a OPEP+ que inclui a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, para além da Rússia e de outros aliados, vai aumentar ainda mais a produção de petróleo a partir de outubro, Os contratos futuros do petróleo Brent fecharam a cotar nos 65,50 dólares por barril na sexta-feira.
A aliança OPEP+, liderada pela Arábia Saudita e pela Rússia, acordou este domingo um novo aumento na produção de petróleo bruto para outubro, de 137.000 barris por dia.
“Perante um panorama económico global estável e fundamentos de mercado considerados sólidos, refletidos nos baixos inventários de petróleo bruto, os oito países participantes decidiram aplicar um ajuste (aumento) da produção de 137 mil barris por dia”, informou a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em comunicado.
A decisão foi tomada numa teleconferência pelos ministros da Energia da Arábia Saudita, Rússia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Cazaquistão, Argélia e Omã.
Estes oito países-chave da OPEP+ reverteram assim os cortes na sua produção que aplicaram voluntariamente em 2023.
Outra commodity, o ouro, foi negociado perto de níveis recorde na sexta-feira. O preço do ouro registou na sexta-feira um novo máximo histórico, aproximando-se dos 3.600 dólares, após a publicação dos dados sobre o emprego nos Estados Unidos (EUA) em agosto.
Ricardo Evangelista, CEO da ActivTrades Europe, explica que as pressões sobre o dólar sustentam a estabilidade do ouro. “A perspetiva para o metal precioso mantém-se positiva, sustentada pelas expectativas de cortes nas taxas de juro da Reserva Federal, que pressionam o dólar, bem como por uma procura acrescida de ativos de refúgio, alimentada pela incerteza em torno das tarifas, pelos receios de interferência política na Reserva Federal e pela persistente turbulência geopolítica”, diz.
“O metal precioso continua apoiado pelas expectativas de flexibilização monetária e pela procura contínua de ativos de refúgio no meio da incerteza global”, diz, por sua vez, Bas Kooijman CEO e Asset Manager da DHF Capital.
As tensões geopolíticas continuaram a sustentar os fluxos de ativos de refúgio. A Rússia rejeitou as garantias de segurança ocidentais para a Ucrânia por considerar que se traduzem, na prática, em pôr no terreno tropas da NATO (tradicional inimiga da Rússia) às portas do país liderado por Putin, o que o Kremlim tem sempre dito ter estado na origem da guerra.
Este domingo houve um ataque da Rússia à capital da Ucrânia, que atingiu o edifício principal do governo ucraniano, e que implicou a investida de 805 drones e mísseis. Do lado oposta a Ucrânia atacou o oleoduto Druzhba em Bryansk, na Rússia, apesar do pedido do primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico a Volodymyr Zelensky, num encontro bilateral, para que não o fizesse, avança a Reuters.
No Médio Oriente, Israel continua os ataques a Gaza.
Donald Trump prepara-se para visitar a Coreia do Sul no fim de outubro na cimeira da Asia-Pacific Economic Cooperation, onde irá encontrar-se com Xi Jiping e provavelmente com o presidente da Coreia do Norte Kim Jong Un.
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