Temos muitas nuvens no horizonte. A guerra comercial EUA-China reaqueceu este agosto. Para os produtores europeus agravam-se as consequências, com os de automóveis à frente: a Peugeot-Citroen viu a procura dos seus carros na China cair 62%, muito acima dos pouco mais de 12% de queda do mercado chinês, o que põe em causa as suas fábricas no país e a aliança com a Dongfeng – as perdas em 2018 terão chegado aos 300 milhões de euros. A Ford viu as vendas diminuírem mais de 25%, menos mas igualmente grave.

No Reino Unido, a chegada de Boris Johnson ao 10 de Downing Street pôs na mesa a saída da União Europeia sem acordo e, portanto, acentuou as incertezas no País: pela primeira vez em mais de três anos o crescimento foi negativo no segundo trimestre do ano, em 0,2%, depois dos 0,5% de aumento no primeiro trimestre. O Banco de Inglaterra reviu para baixo as suas previsões para 2019 e 2020, embora pouco: de 1,6% e 1,5 para 1,3% nos dois anos.

Como o Reino Unido deixa a União em outubro (“vai ou racha”, Boris dixit), a questão em aberto é dupla: primeiro, se a União recua no backstop, o que serve à perfeição a Boris, que teria esta vitória logo no início da governação; segundo, se na saída sem acordo o Parlamento britânico terá coragem de o mandar para casa, pouco provável porque a haver eleições antecipadas, estas não vão acontecer antes de 1 de novembro, depois da “saída”.

Não é Boris que está a preparar o cenário de eleições, é Dominic Cummings, o estratega da ‘Vote Leave’ e atual conselheiro especial de Boris Johnson, e que parece apostar numa campanha ‘Povo contra Políticos’ (ou Boris vs. Parlamento). Portanto, um segundo “take back control”, tirando partido da imagem de força de Boris e da de fraqueza do Parlamento, depois da gestão política do Brexit. Boris estará para durar…

Em Itália, Salvini está a conseguir o milagre de juntar contra ele o Movimento 5 Estrelas, seu parceiro de governo, e o Partido Democrata de Renzi. A originalidade de Salvini vai ao ponto de pôr uma moção de censura ao seu próprio primeiro-ministro para provocar eleições, que ele está certo de ganhar forte dos seus 39% nas sondagens – o que Bonafede, ministro da Justiça e próximo de Di Maio, classificou de traição.

A bolsa italiana caiu 2,5%. Salvini reclama plenos poderes, ou seja, temos um novo ditador em potência, que promete governar contra a Europa se for preciso, e se há país que precisa da Europa é a Itália. Isto ilustra bem os riscos do populismo, que alastra de novo: na Alemanha, fruto dos atentados dos últimos dias, a AfD está à frente das sondagens para as eleições em Brandeburgo e na Saxónia.

Adivinha-se, pois, um Verão quente. Seria bom se chovesse um pouco, para não aquecer de mais.