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David Cameron: o fantasma da velha Albion está de volta

Estará o Reino Unido interessado numa relação diferente com a União Europeia? É um caminho que já começou e que pode vir a ser um benefício para vários países terceiros
19 Novembro 2023, 13h30

David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido entre maio de 2010 e 13 de julho de 2016, aborreceu-se em determinada altura da sua carreira política das maçadoras invetivas dos conservadores do seu próprio partido e dos arruaceiros que se perfilavam atrás de Nigel Farage (presidente do UKIP na mesma altura) e decidiu acabar de vez com a velha história da possível saída do país da União Europeia. E para o fazer, decidiu perguntar aos seus concidadãos, em referendo, se eles queriam permanecer no bloco ou alternativamente regressar à condição do orgulho solitário que, afinal, tanta glória lhes havia trazido – salvo entre 1939 e 1945, quando tiveram de aceitar poderosa ajuda externa, que John Maynard Keynes foi por diversas vezes ‘mendigar’ a Washington. E se bem pensou, melhor o fez: organizou o referendo, criou o substantivo Brexit (ou alguém o criou por ele), deu uma vista de olhos às sondagens e tratou de sonhar na possibilidade de ser a alternativa britânica à mania de Angela Merkel se achar na posse do bastão de marechala do conservadorismo da União Europeia – qual eixo Paris-Berlim qual quê!

As coisas não se passaram exatamente assim. A acreditar nas crónicas britânicas que à época bastamente misturaram psicologia de caserna com dados estatísticos, os jovens ficaram em casa a divertir-se ou a fazer outra coisa qualquer no dia do referendo, deixando nas mãos dos velhinhos das pequenas cidades e do campo a possibilidade de decidirem o futuro do país – eles que ainda eram do tempo da glória e se achavam herdeiros do rigor da rainha Vitória, uma santa senhora, apenas com o senão da proeminência do buço.

Foi a vingança da Velha Albion (o termos histórico é Perfidious Albion e a sensação que tenho é que Perfidious não se traduz por Velha, mas talvez seja o meu inglês que não é lá grande coisa) e os velhinhos conseguiram impor uma saída que muitos ingleses e galeses anteciparam como desastrosa, muitos escoceses acharam profundamente estúpida e muitos irlandeses apelidaram de assassina (no sentido literal).

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