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DBRS alerta para fracas receitas e instabilidade de ‘governance’ do Banco Montepio

“Em nossa opinião, são necessárias ações adicionais para fortalecer a governance do banco, o controle de riscos e a posição competitiva”, defende a agência de rating. No que se refere ao capital, a DBRS destaca as moderadas almofadas de capital sobre os requisitos mínimos regulatórios
18 Dezembro 2019, 14h06

Os lucros continuam a ser afetados por receitas fracas, bem como por elevadas provisões e imparidades, diz a agência de rating numa nota com data de 17 de dezembro a que o Jornal Económico teve acesso.

A DBRS manteve o rating atribuído em setembro ao Banco Montepio de BB, enquanto emissor de longo prazo. O mesmo rating é atribuído à capacidade de avaliação intrínseca (Intrinsic Assessment) do banco. Já o rating de emissor de curto prazo manteve-se em R-4.

Mas a questão mais importante é a tendência negativa do rating de longo prazo do Banco Montepio, que a DBRS justifica com as fracas receitas e elevados custos com imparidades.

“O rating de emissor de Longo Prazo do Banco em BB reflete os recentes progressos realizados pelo Banco Montepio na redução dos ativos problemáticos através de alienações, bem como os buffers de capital que subiram após a emissão de 100 milhões de euros em dívida subordinada e que foi realizada em abril de 2019″, diz a DBRS.

No entanto, alerta a DBRS, a tendência negativa reflete os riscos da fraca rentabilidade continuada do banco num ambiente difícil, com pressão persistente nas receitas devido a taxas de juros mais baixas e a uma elevada competitividade, além da pressão para reduzir o elevado stock de malparado.

“Além disso, em nossa opinião, o Banco continua a enfrentar instabilidade na governance corporativa e a apresentar desafios no que toca ao seu plano de reestruturação”, adverte a agência.

O perfil de risco do banco é para a DBRS caracterizado por um elevado stock, embora em queda, de ativos com desempenho insatisfatório.

A DBRS adianta ainda que os depósitos são a principal fonte de financiamento do banco e que permanecem estáveis desde 2017. O acesso ao financiamento no mercado  é caro para o Montepio, acrescenta.

Num mercado altamente competitivo, o Banco Montepio manteve a sua posição no mercado de depósitos em Portugal, enquanto sua quota de mercado no crédito tem descido constantemente. No final de 2018, o Banco tinha uma quota de mercado total de cerca de 6% para empréstimos e depósitos, diz a DBRS.

“Em nossa opinião, são necessárias ações adicionais para fortalecer a governance do banco, o controle de riscos e a posição competitiva”, defende a agência de rating.

No que se refere ao capital, a DBRS destaca as moderadas almofadas de capital sobre os requisitos mínimos regulatórios impostos pela entidade de supervisão, a fraca contribuição dos lucros retidos e a alta dependência do principal acionista. O banco é controlado em 99,9% pela Associação Mutualista Montepio Geral.

A DBRS diz ainda que “o montante de capital caiu ligeiramente devido ao impacto desfavorável das obrigações relacionadas com o fundo de pensões, refletindo menores taxas de desconto. Por outro lado, a posição de capital beneficiou do aumento da reserva de justo valor na carteira de títulos soberanos”. De acordo com a decisão do Processo de Revisão e Avaliação da Supervisão (SREP) do Banco de Portugal, o Banco Montepio deve manter para 2019 um CET1 mínimo de 10,1% e o Capital Total de 13,6%, diz a DBRS.

“A rentabilidade do Banco provavelmente permanecerá fraca principalmente como resultado de receitas mais fracas e elevados custos de qualidade de ativos”, argumenta a DBRS. Nos nove meses, o Banco Montepio reportou um lucro líquido de 17,7 milhões de euros, que compara com 22,4 milhões no período homólogo, refletindo também uma carga tributária mais alta e uma menor contribuição de operações descontinuadas (Finibanco Angola). Esses fatores foram parcialmente compensados por maiores receitas financeiras da venda de títulos de títulos soberanos (44 milhões de euros nos nove meses de 2019) e menores custos operacionais”, explica a DBRS.

Até setembro, a receita líquida de juros (margem) do Banco caiu cerca de 5% para 180 milhões principalmente devido à combinação de taxas de juros mais baixas, e queda dos volumes de crédito, diminuindo o risco. A DBRS refere que as comissões permaneceram em geral estáveis, apoiadas por uma tendência positiva nas taxas de serviços de pagamento, que compensou o declínio nas comissões relacionadas com a atividade de concessão de crédito.

Os custos operacionais caíram 5%, no entanto, o  rácio cost-to-income, com base nas receitas principais, permaneceu alto, em 71%. Ao mesmo tempo, o grande stock de exposições não produtivas (NPEs) continuou a impactar no custo do risco do Banco.

A DBRS inclui ainda nos riscos para os resultados futuros do banco a recente multa da Autoridade da Concorrência de 13 milhões que está a ser contestada.

A DBRS detalha ainda que o Banco Montepio avançou na redução do seu stock de ativos problemáticos, principalmente através de alienações. No período recente, o Banco concluiu a venda de duas carteiras de NPE (Atlas I e II). A primeira carteira, alienada em 2018, era composta por empréstimos garantidos e não garantidos, incluindo posições dentro e fora do balanço, pelo valor total de 239 milhões. O segundo portefólio, o Atlas 2, foi vendido em julho de 2019 e incluiu exposições “on e off balance“, no valor total de 321 milhões de euros.

Com a combinação de alienações e com write-offs o stock bruto de malparado do Banco, excluindo títulos de dívida, diminuiu cerca de 31%  num ano para 1,5 mil milhões de euros no final de setembro de 2019. O rácio de NPL bruto caiu de 12,9% para 11,1% em 2018. Já o rácio e NPE (Non Performing Exposure), que inclui títulos e garantias, ficou em 12,5%, abaixo dos 14,3% em 2018. Apesar dessa redução, a qualidade dos ativos do Banco permanece muito mais fraca que a média europeia, alerta a DBRS.

A cobertura total de NPE por provisões foi reportada em 48% em setembro, abaixo dos 50% no ano de 2018. Esses níveis continuam abaixo da média dos bancos portugueses, também ao incluir o valor do colateral (81,6%), constata a agência de rating canadiana.

“Considerando a fraca rentabilidade do banco e a baixa cobertura de capital em relação aos requisitos mínimos de SREP, esperamos que o Banco Montepio seja capaz de reduzir ainda mais seus NPEs gradualmente. De acordo com o plano atual do Banco, espera-se que o rácio de NPE caia abaixo de 5% em 2023, devido a curas e a recuperações mais elevadas, bem como a alienações selecionadas de NPE”, avisa a DBRS.

Fundado em 1844, o Banco Montepio é o sexto maior banco em Portugal com 19 mil milhões de euros em ativos totais de acordo com os números de setembro de 2019.

Em setembro de 2019, o banco possuía uma rede de 353 agências, das quais 329 em Portugal e 24 em Angola através do Finibanco Angola.

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