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DBRS diz que as fusões bancárias transfronteiras dentro da Europa continuam a enfrentar barreiras

Na opinião da DBRS, para que a expansão significativa das fusões transfronteiriças aconteça, algumas barreiras regulatórias na Europa teriam que ser reduzidas.
13 Fevereiro 2018, 14h38

A DBRS Ratings Limited (DBRS) publicou esta semana um comentário intitulado “Pan-European Banking: Crossing Borders Remains Hard”, onde aborda um tema que tem sido muito discutido no espaço europeu: as fusões entre bancos europeus.
A agência de rating considera a consolidação transfronteiriça bem sucedida um desafio para o setor bancário europeu e ainda  é preciso criar um terreno fértil para a formação de bancos pan-europeus. A DBRS considera ainda que as M&A (mergers and adquisition) transfronteiriças podem apresentar uma oportunidade  para bancos mais fortes que são experientes na integração de bancos adquiridos (por exemplo o Santander), e que provavelmente poderão desempenhar um papel no futuro. Mas há obstáculos a ser ultrapassados, nomeadamente ao nível da uniformização da legislação bancária.

A DBRS lembra que os reguladores bancários europeus fizeram recentemente comentários defendendo o aumento da consolidação bancária transfronteiriça a nível europeu, agora que os elementos-chave da União Bancária estão em vigor. Em particular, expressaram uma visão de que as fusões transfronteiriças poderiam levar a uma maior diversificação do risco e beneficiar o desenvolvimento dos mercados de capitais europeus.

Autoridades reguladoras defendem a consolidação transfronteiriça

Não é novidade que o BCE defende a criação de grandes grupos bancários dentro da zona euro. Na península ibérica, por exemplo, as entidades europeias (BCE e DG Comp) tudo fizeram para que os bancos resolvidos fossem comprados por outros europeus. Agora a DBRS vem subscrever essa interpretação dos acontecimentos.

Diz a agência que após a crise financeira, as autoridades reguladoras da Europa trabalharam para melhorar os requisitos prudenciais dos bancos, para  reforçar a proteção dos depositantes e criar um conjunto de regras para facilitar a gestão dos bancos que foram alvo de medidas de Resolução.

“Nas discussões recentes e num documento de maio de 2017 intitulado ‘Integração financeira na Europa’, a Comissão Europeia tem defendido as fusões e aquisições bancárias transfronteiriças. Na sua opinião, a consolidação avançada entre os bancos europeus poderia levar a um mercado bancário mais harmonizado, podia ajudar a resolver o excesso de capacidade do setor bancário,  e a aumentar a diversificação do risco e a partilha de riscos dentro da União Bancária”, cita a DBRS.

Assim a DBRS considera que as fusões e aquisições transfronteiriças podem representar uma oportunidade para bancos mais fortes que são especializados na integração de aquisições. Isto dado o baixo desempenho experimentado pelo sistema bancário europeu nos anos pós-crise, uma vez que a persistência de baixas taxas de juros pressionou as margens de juros líquidas e as economias fracas restringiram a procura de crédito. No entanto, muitos bancos teriam de conseguir realizar sinergias de tais operações transfronteiriças, o que se torna um desafio dado que não conseguiram fazê-lo na história recente, diz a agência.

Alguns grupos bancários pan-europeus estão bem estabelecidos, mas as fusões e aquisições transfronteiriças continuam relativamente raras. Em vez disso, a maioria dos bancos está focado em melhorar as suas operações existentes (crescimento orgânico).

Persistem obstáculos às fusões cross-border

Os bancos com capital suficiente para fazer aquisições enfrentam dificuldades inerentes na obtenção de sinergias nas aquisições transfronteiriças  quando comparado com as sinergias de aquisições domésticas. A DBRS considera que a expansão pan-europeia no setor bancário permaneceu ocasional devido à dificuldade em identificar sinergias transfronteiriças. De fato as sinergias na expansão transfronteiriça são mais limitadas quando comparadas às sinergias decorrentes da consolidação doméstica e, portanto, a DBRS considera que a consolidação no mercado vai continuar a prevalecer sobre a consolidação transfronteiriça.

Além disso, como um dos obstáculos à expansão das fusões cross-border, está ainda o facto de muitos bancos recordarem o impacto adverso das aquisições transfronteiriças que contribuíram para a extinção de grandes grupos bancários na última crise.

Muitos bancos da Europa e, em especial, grandes grupos capazes de se aventurar em aquisições transfronteiriças não possuem o capital necessário para expandir ainda mais as sua operações, pois a sua prioridade é cumprir os requisitos regulatórios crescentes e o peso dos risco crescentes. Além disso, não há nenhum incentivo particular
para apoiar as fusões transfronteiriças sob a perspectiva de um investidor, dado que as aquisições geralmente geram goodwill . O quadros regulatório de capital europeu não incorpora o goodwill, o que torna as aquisições transfronteiras menos atrativas para os acionistas do que a consolidação das operações existentes (crescimento orgânico).

O “goodwill” reconhecido no Balanço resulta da diferença positiva entre o custo de aquisição de uma concentração de atividades empresariais e os justos valores dos ativos identificáveis, passivos e passivos contingentes assumidos e é um custo que tem de ser amortizado ao longo de um determinado período.

Na opinião da DBRS, para que a expansão significativa das fusões transfronteiriças aconteça, algumas barreiras regulatórias na Europa teriam que ser reduzidas.

Embora as fusões e aquisições continuem a ser uma oportunidade viável para algumas instituições, isso poderá ser facilitado por uma maior harmonização dos requisitos operacionais regulatórios, como a regulamentação bancária, o seguro único de depósitos e as regras comuns para produtos e financiamentos. Embora tenham sido feitos progressos com a União Bancária, a aplicação interna dos requisitos de liquidez e capital levou a variações dentro da União Europeia, diz a agência de rating.

A DBRS observa que “a implementação de um fundo europeu de garantia de depósitos poderá facilitar a expansão em termos de financiamento (funding), especialmente se os depósitos forem fungíveis em diferentes países”, diz a análise.
Embora alguns bancos tenham aumentado a sua presença em toda a Europa, as aquisições realizadas nos últimos anos foram principalmente por questões de oportunidade, com os bancos maiores de mercados mais maduros a adquirir bancos menores em países fortemente impactados pela crise, diz a DBRS.

Na verdade, os bancos na Europa geralmente estiveram mais focados nos últimos anos na resolução de problemas domésticos, como exposições a crédito e ativos improdutivos e, portanto, mais orientados para a consolidação doméstica do que a expansão transfronteiriça.

No entanto, os bancos franceses, por exemplo já estão a expandir as suas instituições de crédito especializado e a sua atividade de financiamento ao consumo para fora de França, pois operar no mercado interno foi se tornando mais difícil pelas leis relativas ao crédito ao consumidor.

Outro exemplo citado pela DBRS é o banco norueguês Nordea que iniciou sua re-domiciliação para a Finlândia, e já tem uma presença estabelecida lá, colocando-o em condições equitativas no que diz respeito à regulamentação com outros bancos da UE.

Os bancos que arriscaram fazer uma fusão transfronteiriça importaram um modelo de negócios bem-sucedido em certas atividades, e alcançaram economias de escala que facilitou as aquisições noutros países europeus ou permitiu mesmo que se tornassem líderes de mercado em determinadas áreas. A DBRS identificou cinco grupos bancários europeus que considera pan-europeus: BNP Paribas; Banco Santander; ING Bank NV; e Société Générale e Unicredit Group, que não é avaliado pela DBRS.

A DBRS vê esses grupos como exemplos úteis de bancos que já se expandiram no exterior usando os seus pontos fortes e aponta-os como prováveis potenciais jogadores no futuro.

Com uma forte presença em Espanha, Reino Unido, Alemanha, Portugal e Polónia e uma presença menor na maioria dos países europeus, o Santander conseguiu expandir-se devido ao seu modelo de negócio composto por entidades autónomas com fortes quotas de mercado (Santander UK, Santander Consumer Finanças) e que são capazes de atingir uma participação de mercado de 10%. Além disso, o Santander tem sido bem sucedido na sua expansão através da utilização dos mesmos sistemas operacionais, gestão de riscos e marca global reconhecida internacionalmente, diz a DBRS.

A agência elenca outros exemplos de bancos bem sucedidos em fusões cross-border. O suíço Banco Société Générale diversificou-se em serviços especializados (auto, leasing, retalho, empresas) que também permitiram desenvolver sua presença na Europa Central e Oriental (CEE), principalmente na República Checa e na Rússia, bem como no Reino Unido e na Itália.

O francês BNP Paribas mostrou sucesso nas suas aquisições transfronteiriças, através da exportação dos seus conhecimentos de banca de retalho e banca de empresas para suas entidades adquiridas: a aquisição da Fortis foi importante para estabelecer o BNP Paribas como um banco importante na Bélgica e fortalecer a posição do banco em serviços bancários corporativos e valores mobiliários ( Fortis e BNL).

O holandês ING, tendo se especializado em banca de retalho e banca de empresas, e encontrou um modelo de negócios que pode ser facilmente implementado em diferentes países.

Finalmente, o italiano Unicredit conquistou, ao longo dos anos, uma forte quota de mercado na Alemanha e na Europa Oriental e desenvolveu os seus conhecimentos nesse foco regional.

Isto é, a DBRS defende as fusões bancárias cross-border  e diz mesmo que são um fator positivo na mediação do rating do crédito. “A expansão pan-europeia pode ser ‘crédit positive’ na medida em que permite que os grupos bancários ampliem as suas marcas com mais diversificação através de diferentes negócios e partilha de riscos, além de aproveitar os conhecimentos existentes em diferentes setores. A DBRS também vê a consolidação transfronteiriça como tendo sentido quando o banco adquirente entra num novo mercado com uma experiência específica em determinada atividade”, conclui.

 

Fusões cross-border de bancos europeus:

– Banco Santander (Espanha) comprou o britânico Alliance & Leicester Plc (United Kingdom Mortgage lender) em outubro de 2008 por 1,5 mil milhões de euros.

– BNP Paribas (França) comprou o belga Fortis Bank SA/NV (Belgium Universal bank & Insurance) em maio de  2009 por 8,7  mil milhões de euros.

– Banco Santander (Espanha) comprou o polaco Bank Zachodni WBK (Poland Universal bank) em março de 2011 por 3 mil milhões de euros.

– Banco Santander (Espanha) comprou o polaco Kredyt Bank (Poland Retail and commercial bank ) em janeiro de 2013 por mil milhões de euros.

– BNP Paribas (França) comprou o polaco Bank Gospodarki Zywnosciowej (Poland Retail and commercial bank) em setembro de 2014 por  mil milhões de euros.

– Banco de Sabadell (Espanha) comprou o britânico TSB Banking Group Plc (United Kingdom Retail and commercial bank) em agosto de 2015 por 2,4 mil milhões de euros.

– CaixaBank  ficou com 84,5% do português BPI na Oferta Pública de Aquisição concluída a 8 de fevereiro de 2017, tendo investido 644,5 milhões de euros no reforço da participação dos 45,5% que já detinham para os 84,5%.

– Banco Santander (Espanha) comprou o polaco Deutsche Bank Polska (Poland Retail and Private Banking ) em dezembro de 2017 por 305 milhões de euros.

Fonte: DBRS e Jornal Económico

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