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De Silicon Valey para Coimbra. Como a tecnologia espacial pode ser aplicada à vida quotidiana

Do lado de lá do Oceano Atlântico, o jovem teve a oportunidade que poucos engenheiros físicos têm. João Pedro Rodrigues desenvolveu máquinas capazes de medir a matéria negra do universo. Agora, depois de ser convidado a regressar a Coimbra, o jovem é um dos responsáveis pelo projeto ‘The Loop Co.’, uma startup portuguesa que se dedica à economia circular, tecnologia e inovação social.
24 Dezembro 2019, 08h10

João Pedro Rodrigues, de 29 anos, foi viver para a apelidada ‘meca’ tecnológica após ter sido convidado para uma experiência profissional no Centro de Aceleração Linear de Stanford, mas voltou para a cidade onde se formou para aplicar os conhecimentos que foi melhorando em Silicon Valley.

Do lado de lá do Atlântico, o jovem coimbrense teve a oportunidade que poucos engenheiros físicos têm. João Pedro Rodrigues desenvolveu máquinas capazes de medir a matéria negra do universo e a velocidade dos átomos. Agora, depois de ser convidado a regressar a Coimbra, o jovem é um dos responsáveis pelo projeto ‘The Loop Co.’, uma startup portuguesa que se dedica à economia circular, tecnologia e inovação social.

O objetivo da ‘The Loop Co.’ é levar a engenharia espacial para simples práticas do dia-a-dia dos cidadãos, em algo que estes nem sempre se apercebem. Em entrevista ao Jornal Económico, João Pedro Rodrigues explica como surgiu a oportunidade de representar Portugal nos Estados Unidos e o que o novo projeto pretende trazer ao universo quotidiano.

Ao JE, o jovem explica que a cooperação começou quando ainda estava em Coimbra, mas que se mudou para os EUA quando “surgiu a oportunidade de ir trabalhar a full time enquanto investigador da Universidade de Stanford”. “Sempre foi uma coisa que eu quis, ter experiências lá fora”, afirma, embora assuma que voltar também tivesse feito parte dos planos, “mas não esperava que fosse tão rápido”.

A empresa mudou de nome para ‘The Loop Co.’ e o rumo, uma vez que antes era um negócio relacionado com livros escolares. “Começámos a desenvolver uma nova área em que temos como objetivo trazer tecnologias, competências e processos que são utilizados em big science para o mercado mais quotidiano e negócios mais próximos do consumidor”, afirma o engenheiro.

De acordo com alguns dados, entre 6% a 9% da economia europeia não funcionaria sem recursos espaciais atuais. Entre os exemplos de algo que não funcionaria sem tecnologia espacial está os dados de observação da Terra, as telecomunicações por satélite e a navegação por satélite, sendo que este último exemplo é a vertente onde a ‘The Loop Co.’ quer entrar no mercado.

João Pedro Rodrigues apresentou ainda o primeiro produto para aplicar nas indústrias: Jacob, uma solução de ‘Internet of Things’. Este é um dispositivo para ser utilizado em obras de grande escala, como são exemplo as estradas ou linhas férreas, uma vez que a distância é um problema entre a gestão de obra e as equipas que estão no local.

“É um wearable que pretende resolver problemas de segurança e higiene no trabalho”, garante o engenheiro ao JE. “Vai detetar acidentes, quedas e vai captar os sinais vitais para perceber se não existe nenhum problema. Qualquer funcionário pode ativar o botão de emergência que permite, em tempo real, captar o acidente para o controlo da obra e planear uma ação rápida”, esclarece.

“É uma indústria que está a mudar”, explica um dos criadores da ‘The Loop Co.’, acrescentando que “até há pouco tempo esta era feita por quatro ou cinco instituições, como a NASA, a Agência Espacial Europeia e a Agência Espacial Chinesa, que eram as únicas que tinham capacidade e dimensão para fazer pesquisa espacial”.

Ainda assim, o engenheiro assume o ‘Jacob’ teve um investimento da Agência Espacial Europeia de 50 mil euros, dentro do programa de incubação “que tem como objetivo fazer a transferência de conhecimento e a aplicação destes recursos espaciais e está a ser desenvolvido por uma das grandes construtoras nacionais, que vai fazer um investimento faseado depois de uma fase piloto” que vai acontecer no início do próximo ano.

Atualmente a equipa conta com apenas 15 pessoas mas, no próximo ano, o objetivo é duplicar o número de colaboradores na empresa. “Temos de crescer para dar resposta a estes projetos que desenvolvemos com outros parceiros porque mantemos uma estratégia de desenvolver e investir em produtos próprios e, ao mesmo tempo, implementar isso com mais segurança e resiliência financeira”, sustenta ao JE.

Questionados sobre se sentem dificuldade por estarem em Coimbra, uma vez que o hub tecnológico se concentra cada vez mais em Lisboa, João Pedro Rodrigues afirma, entre risos, que “a maior dificuldade é as portagens para Lisboa serem caras”. Ainda assim, admite que Coimbra tem vantagens a nível de desenvolvimento e de custo, bem como uma qualidade de vida diferente. “Estamos perto de uma boa fonte de recursos humanos, porque temos uma universidade que garante uma boa formação”, sublinha o jovem formado na cidade dos estudantes.

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