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Deloitte antevê banca em 2025: “Poderá o setor português ter um papel na criação de players de maior dimensão?”

“Poderão existir, em 2025, oportunidades de fusão e aquisição, enquanto alavanca para expandir a carteira de clientes e reforçar a eficiência operacional, defende a Deloitte, sem detalhar casos concretos. “O atual contexto de consolidação observado a nível europeu e os confortáveis níveis de capital dos bancos oferecem uma base sólida para a exploração de oportunidades de M&A”, avança a consultora.
24 Março 2025, 18h26

O ano de 2024 ficará na história como um dos melhores do Setor Bancário Português que ficou acima da média europeia em todas as métricas de rentabilidade. A conclusão é da análise do setor bancário em Portugal feita por Vítor Viana Lopes, Partner e Líder para o setor bancário, da Deloitte.

“O adiamento do processo de descida de taxas de juro, previsto para 2024, combinado com modelos de negócio muito eficientes e com alavancas de geração de valor para além da margem financeira, permitiram níveis de rentabilidades invejáveis”, refere o autor da análise.

Para 2025 as expectativas são positivas apesar do contexto político e económico instável quer no bloco europeu quer a nível global.

“O setor bancário português entra em 2025 com ventos favoráveis podendo contribuir ainda mais para o desenvolvimento do país e fortalecer o seu posicionamento no contexto europeu enquanto setor rentável, sólido e inovador”, defende a Deloitte que acrescenta que “a agenda de crescimento e inovação é clara, pelo que será na criatividade e disciplina de execução que se destacarão”.

A consultora deixa a questão: “poderá o setor português ter um papel na criação players de maior dimensão no contexto de consolidação
bancária europeia?”. De salientar que o Novobanco deverá ir para o mercado este ano. Preferencialmente mas não exclusivamente com um IPO (Oferta Pública Inicial).

O percurso feito pelo setor bancário português nos últimos anos, permite enfrentar 2025 com todos os fundamentais de negócio em trajetória sólida. Nomeadamente a margem financeira “manter-se-á acima da média histórica, apesar da expectável descida das taxas de juro face a 2024, dado o incremento de peso de créditos a taxas fixas ou mistas, uma aceleração da transmissão da descida de taxa de juro nos depósitos por níveis confortáveis de liquidez e o resultado de estratégias de cobertura de risco de taxa de juro”.

O produto gerado por comissionamento continua a ser uma das alavancas de geração de valor dos modelos de negócio da Banca Portuguesa, esperando-se ainda melhorias marginais, refere o Partner da Deloitte.

Por sua vez o custo de risco continuará a beneficiar do bom momento do mercado de trabalho e da expectativa de reduções adicionais nas taxas de juro, “podendo-se observar alguma deterioração da qualidade do crédito em carteiras menos materiais, como o crédito ao consumo, por iniciativas de expansão desta linha de negócio com necessidade de aperfeiçoamento do modelo de aceitação e monitorização de risco de crédito e risco de fraude”, ainda segundo a mesma análise.

A Deloitte prevê que na estrutura de custos, a ambição de eficiência é condicionada por fatores inflacionistas, na medida em que banca continua a ter de investir na sua modernização tecnológica e manter a política de contratação de recursos qualificados, não havendo espaço muito relevante para otimizações radicais de custo no atual modelo operativo.

“Assim esperamos variações moderadas da estrutura de custos que resultem de contenção firme de níveis de  OPEX com manutenção do ritmo de investimento”, sublinha Vítor Viana Lopes.

Do ponto de vista da evolução do balanço, as expectativas da Deloitte para 2025 são positivas nas principais linhas de negócio. Isto é,  “nos segmentos de retalho, a trajetória de descida de taxa de juro, conjugada com a garantia pública a jovens e o défice de oferta de casas impulsionará o Crédito à Habitação, enquanto na captação de recursos antecipamos um maior trade-off com investimentos fora de balanço”, diz a Deloitte. Já nos segmentos de empresas, o novo foco de políticas públicas para o desenvolvimento do tecido empresarial, conjugado com os pacotes de investimento pluri-anuais, e num contexto de crescimento do PIB, “poderá impactar positivamente, apesar do arrefecimento de algumas economias com as quais Portugal tem mais relações comerciais”.

Independentemente do contexto macroeconómico de cada ano, a estratégia de condução do negócio bancário tem tido como enquadramento um conjunto de tendências estruturais que influenciam a agenda dos gestores executivos, salienta a consultora.

O Outlook de Banking & Capital Markets 2025 da Deloitte lança um conjunto de perspetivas sobre estas macro-tendências.

Do conjunto de insights do estudo, a Deloitte destaca cinco tendências que “acreditamos serem relevantes para o Setor Bancário Português”.

A primeira é que bancos aspirem a ser AI-Powered. “A Inteligência Artificial subiu na agenda executiva com a disponibilização massiva de inteligência artificial generativa para o mercado”. Mas, após um ano de investimento, “emerge a perceção de uma sobre-estimação do impacto a curto prazo o que poderá simultaneamente conduzir ao risco de uma sub-estimação da transformação a médio prazo”.

O setor bancário português abraçou esta nova vaga tecnológica, no entanto, “apesar de se observarem casos muito interessantes, continuou a investir apenas com base no potencial, não havendo ainda nenhuma experiência com escala e que seja game changer”.

“Acreditamos que durante 2025, o setor bancário português continuará a investir em AI com vista a manter um padrão de inovação tecnológica e encontrar domínios que possam entregar mais valor nomeadamente, o aumento de eficiência em matérias de back-office, tanto nas áreas de tecnologia (desenvolvimento, migração, teste) como nos processos de Operações (leitura e interpretação de documentos, emissão de contratos, gestão de conhecimento interno)”. Mas também, o “aumento de eficiência em algumas atividades de Inbound de Clientes, nomeadamente Gestão de reclamações (análise e pré-preenchimento de respostas), substituição de algumas componentes de help-desk (eg: confirmação de transações)”.

“Entendemos que a agenda de 2025 terá mais espaço para iniciativas, de caráter plurianual, que incluam AI enquanto ferramenta de migração de plataformas legacy de gestão operacional ou de dados para novas tecnologias. Esta matéria ganhou relevância na medida em que a dívida técnica dos sistemas de informação e repositórios informacionais constitui cada vez mais um obstáculo à transformação e à exponenciação da utilidade da AI no setor”, escreve a Deloitte na sua análise.

A médio prazo, a inteligência artificial poderá transformar de forma profunda a operação de um banco tal como a conhecemos hoje, defende a consultora. O atendimento ao cliente poderá ser uma das áreas mais impactadas pela GenAI, com a adoção de assistentes virtuais com capacidades avançadas de diálogo em voz, texto ou vídeo.

“Os canais digitais poderão ser muito diferentes do que conhecemos hoje, com uma experiência de utilização baseada em diálogos de voz e com informação a ser apresentada de forma dinâmica baseada nesse mesmo diálogo. O potencial desta tecnologia é impressionante, proporcionando uma interação mais imersiva”, lê-se no estudo.

A segunda tendência que a Deloitte acredita ser relevante para o Setor Bancário Português é a de “Expandir o potencial de valor da base de clientes”.

“As várias iniciativas comerciais observadas no mercado resultaram sobretudo em ganhos marginais de quota permitindo em alguns casos uma alteração do posicionamento competitivo, ainda que com custos de curto prazo não desprezíveis. Assim sendo, entendemos que estratégias baseadas em aumento da oferta e aumento da profundidade da relação com os clientes, ganharão mais peso na agenda do próximo ano”, defende a Deloitte.

Isto através de mais produtos, maior profundidade de relacionamento com o banco, numa abordagem de fidelização “que permita ao cliente usufruir de benefícios em produtos não financeiros de parceiros ou produtos do próprio banco”.

Os bancos vão abordar de forma mais especializada nichos ou clusters de clientes com necessidades específicas (e.g. microempresas com perfil digital, subsetores empresariais de elevado potencial e necessidades específicas, residentes não habituais ou nómadas digitais,
imigrantes e comunidades estrangeiras, séniores, etc.).

A Deloitte acredita que os bancos vão continuar a investir na jornada da micro personalização, traduzindo o conhecimento acumulado sobre cada cliente (bibliotecas de centenas de eventos que são trigger para o banco poder ter um diálogo relevante) em interações contextualizadas, no momento certo, no canal adequado e com a mensagem e conteúdo que faz sentido para aquele cliente, naquele momento.

Crescimento nos segmentos menos explorados

Esta é a terceira tendência apontada pela Deloitte. “Esperamos em 2025 uma intensificação de iniciativas focadas em crescimento da base de clientes, com maior foco em segmentos menos explorados ou com maior potencial de valorização a médio prazo”, diz a consultora.

A consultora refere-se ao posicionamento mais próximo da necessidade de financiamento “com foco sobretudo no crescimento de não clientes, implicando trabalhar em parceria com outro tipo de entidades não financeiras”.

“A sofisticação da oferta para segmentos seniores, agregando serviços complementares à oferta bancária tradicional de poupança, proteção e reforma (e.g. downsizing habitação, oferta saúde, serviços domiciliários, etc)”, está aqui incluído.

Também faz parte desta terceira tendência o “reforço da aposta no segmento de expatriados e residentes não habituais – melhoria de jornadas que permitam captar estes clientes numa fase inicial e prévia à mudança, através de protocolos com players dos países origem (e.g. sociedades de advogados, consultoras fiscais, sociedades gestoras de património, brokers real estate, bancos, etc). Adaptação da
proposta de valor para clusters / comunidades com maior representatividade (e.g. perfil do gestor, língua, parcerias, etc)”.

A banca deverá apostar mais no segmento de micro e pequenas empresas, “combinando o desenvolvimento de ofertas digitais padronizadas e simples com um reforço da capacidade de advisory através de modelos de serviço que conciliam a proximidade física – gestores de negócios nos balcões – com gestores à distância especializados sectorialmente”.

A Deloitte aposta no enfoque nas oportunidades de financiamento de clientes e projetos em face do “expectável reforço muito expressivo dos níveis de investimento publico e privado previstos para 2025 e 2026”.

A aposta o alargamento da oferta bancassurance de Saúde, capitalizando no crescimento que este ramo tem apresentado nos últimos anos em Portugal, é outra das tendências do ano, segundo a Deloitte.

Oportunidades de M&A enquanto alavanca de crescimento

Adicionalmente, poderão existir, em 2025, oportunidades de fusão e aquisição, enquanto alavanca para expandir a carteira de clientes e reforçar a eficiência operacional, defende a Deloitte, sem detalhar casos concretos.

“O atual contexto de consolidação observado a nível europeu e os confortáveis níveis de capital dos bancos oferecem uma base sólida para a exploração de oportunidades de M&A”, avança a consultora.

A banca irá querer alcançar uma estrutura sustentável de custos este ano, sendo esta a quarta grande tendência para 2025 apontada pelo estudo. “O Setor Bancário opera num trade-off entre satisfação e segurança de cliente, sendo esta materializada em processos de gestão de risco e de cumprimento regulamentar. Assim sendo, o Cost of Serve do setor continua a ser uma variável crítica e com tendência para aumentar, tendo em conta a abordagem regulatória vigente no contexto europeu”, defende a Deloitte.

Neste contexto, “o setor bancário português assume-se como um dos mais eficientes da Europa, contribuindo para este efeito um quadro salarial favorável, mas também um processo consistente e continuado de captura de eficiência”.

No entanto, alerta o estudo, a pressão de subida de salários do capital humano necessário para a transformação e a necessidade continuada de investimento adicionam pressão na estrutura de custos.

Considerando este desafio a Deloitte espera em 2025 um alargamento de mecanismos de remuneração variável indexada a objetivos comerciais como medida de incremento de produtividade versus incremento do quadro de colaboradores; e o aumento de automação, incluindo a utilização de AI, para substituir processos repetitivos e sem valor acrescentado.

Ainda na linha de alcançar uma estrutura sustentável de custos, a Deloitte prevê “a continuidade do investimento em funcionalidades de self-banking 24 por 7, libertando colaboradores de tarefas administrativas”; a “integração nas novas jornadas digitais de processo de controlo de risco mais fortes para minimização futura de custos de remediação ou de incremento de custos de segunda e terceira linhas de controlo”; a “revisão de estruturas de custo tecnológico otimizando a arquitetura tecnológica”; e a “otimização do equilíbrio cloud vs prem assim como dos consumos em Cloud”.

“Por outro lado, impera a necessidade de aumento de escala para diluir o Cost to Serve em operações de maior dimensão. Pelo que a consolidação, enquanto resposta a uma estrutura sustentável de custos, continua a ser um elemento da agenda que poderá ser observado em 2025”, defende a Deloitte.

A última das cinco tendências apontada é o facto de a “agenda supervisora regressar aos desafios estruturais”.

Aqui a Deloitte detalha que embora a perspetiva de grandes novas iniciativas regulatórias a serem introduzidas no curto prazo pareça baixa, os bancos continuarão a enfrentar vagas de remediação e a responder a expectativas regulatórias em evolução.

“O workload de componentes regulatórias em curso continua elevado nomeadamente em matérias de cumprimento com CRR/CRD (adoção ainda limitada de modelos avançados de risco de crédito, necessidade de melhoria ao IRRBB), DORA, Crime Financeiros, entre outros”, realça a consultora.

Mas, em 2025 a pressão do supervisor será para que os bancos, bem capitalizados e com rentabilidade relevante, voltem a investir em matérias consideradas estruturais, defende Vítor Viana Lopes. “Entendemos que esta tendência será muito visível em matérias como Gestão de Dados e Resiliência. Adicionalmente é de destacar o reforço de preocupação com Cultura de Risco e Governo Interno”, sublinha.

A Deloitte aposta ainda na “gestão de dados”, apontando a tendência de reforço do governo de dados, investimento na rastreabilidade integral dos dados usados na gestão de risco e reporte e foco na garantia de qualidade”, que implicam “investimentos elevados, obrigando a estratégias de execução bem desenhadas. Por outro lado, trata-se de investimentos que podem ser sinérgicos para os pontos de
agenda de negócio”.

No que toca à cultura de Risco e Governo Interno – os órgãos de administração e Governo estão sob pressão para “demonstrar que conduzem o banco de uma forma ágil, efetiva e forward looking sendo que a disponibilização de informação correta, relevante e tempestiva constitui uma peça crítica”, segundo a mesma análise.

Adicionalmente, existe a expectativa que os órgãos de administração e governo sejam muito mais ativos no desenvolvimento de uma cultura de risco e o consigam demonstrar.

A Deloitte destaca ainda que a EBA fortaleceu os mecanismos de penalização por incumprimentos regulatórios o que constitui uma ferramenta de pressão efetiva para a implementação de programas estruturais de resolução de debilidades percecionadas pelo Supervisor.

 

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