45 anos de um país inclinado à esquerda deixa uma herança pesada: uma democracia frágil, uma rede de corrupção activa e forte e um atraso em termos políticos face ao resto da Europa.

Na semana das eleições espanholas e da revolta contra um ditador na Venezuela, este facto é visível na comunicação social e nas redes. Os mesmos que, em Portugal, não hesitam em usar expressões como “extrema-direita” e “fascista” a tudo o que provenha da direita, não sentem pudor em apoiar o Bloco de Esquerda, um partido de extrema-esquerda, da mesma forma que aceitam que o PCP defenda que a Coreia do Norte e outros regimes totalitários são democracias.

Há dias, o cabeça de lista da CDU às Eleições Europeias, João Ferreira, explicava o programa e ideal de Europa do partido – revogação do Tratado Orçamental, da União Bancária, do Pacto de Estabilidade, desmantelamento da União Económica e Monetária e o fim dos tratados militares – ao jornal “Expresso”. Cereja no topo do bolo? A saída do euro, obviamente. E finaliza com chave de ouro à pergunta “a Coreia do Norte é uma democracia?”, isto é, com a visão primária do PCP, que, afinal, não tem “uma visão da democracia como podendo ser imposta aos povos contra a sua vontade”.

Sim, esta resposta foi dada, está impressa num jornal. Portanto, a UE é um demónio não democrático mas a Coreia do Norte e Cuba já passam no crivo. Apertado pelo jornalista, a custo lá balbuciou que a democracia avançada, na concepção do PCP, afasta-se da ‘democracia’ praticada na Coreia do Norte. E o que é a “democracia avançada”? Ninguém sabe mas a julgar por esta entrevista deverá situar-se algures entre a Venezuela e a “experiência” (palavras do próprio) da Coreia do Norte.

Se dou mais destaque a esta entrevista do que um pensamento crítico saudável deveria dar, é por ser um tratado do expoente máximo da loucura em que deixámos o nosso país afundar-se. Todos os lares portugueses deveriam emoldurar esta poesia comunista e pendurá-la na parede para celebrar o facto de os dinossauros ainda não estarem extintos.

A realidade é algo que raramente interfere nas propostas do PCP na altura de angariar votos. O que é importa é continuar a acreditar e a difundir que o euro é uma catástrofe e a Europa o monstro que nos vai devorar. O que a CDU e o seu cabeça de lista não explicam, nem conseguiriam, é de que forma Portugal, o segundo país dos 28 Estados-membros que mais depende da União Europeia em termos de financiamento, poderia abandonar o euro sem consequências devastadoras para a economia nacional.

Do total de transferências da Comissão Europeia para os Estados-membros, 101.771 milhões de euros, 7,3% foi entregue a Portugal. Um valor elevado que os sucessivos governos não souberam gerir e aplicar de forma rigorosa a bem da nossa economia. É aqui que reside o verdadeiro problema.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.