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“Dependendo das medidas de contenção, o impacto na economia pode ser devastador”, diz economista

Pedro Brinca, economista e professor na Nova SBE, diz que o mercado imobiliário em Portugal deverá sentir os efeitos, já que “está intrinsecamente” ligado à dinâmica do turismo e pode sofrer um abrandamento pronunciado.
16 Março 2020, 19h59

Pedro Brinca, o economista e professor universitário da Nova SBE, alerta que os efeitos na economia das medidas de contingência do Covid-19 poderão “ser devastadores”. Ao Jornal Económico, antecipa ainda que o turismo e o mercado imobiliário em Portugal deverão sentir uma quebra acentuada como consequência da propagação do Covid-19.

“Portugal é uma pequena economia aberta, ainda que menos aberta que outras pequenas economias abertas como a Holanda, Bélgica ou Irlanda. Em termos de efeitos directos do comércio com a China, apenas 3% das nossas importações vêm de lá e exportamos para lá cerca de 1% do nosso volume total de exportações. A questão é primeiramente a disrupção das cadeias de valor”, refere. Dá o exemplo de empresas como a Riopele, “com baixa exposição direta ao mercado chinês – apesar de o mercado italiano ser um destino importante – com problemas na produção porque os químicos que importa da Alemanha e Suíça, são lá fabricados a partir de componentes oriundos da China”.

“Por outro lado, a grande alavanca do crescimento económico em Portugal nos últimos anos – o turismo – é provável que observe uma contração significativa”, antecipa, recordando que a Tailândia reportou recentemente uma quebra homóloga de 70% do volume de vendas. “Apesar de não sermos um destino principal para os Chineses – que são o maior gastador mundial em turismo – outros destinos irão de certeza sofrer o impacto e por em prática medidas agressivas de vendas que podem ter impacto na procura por Portugal”, acrescenta.

Também o mercado imobiliário deverá sentir os efeitos, já que “está intrinsecamente” ligado à dinâmica do turismo e pode sofrer um abrandamento pronunciado.

“Isto são apenas alguns efeitos a nível de alguns sectores, os primeiros a sofrerem os efeitos da pandemia. Dependendo das medidas de contenção que forem implementadas, o impacto na economia pode ser devastador”, alerta.

O economista sublinha que “a mera decisão de fechar as escolas terá consequências importantíssimas uma vez que isso pode fazer com que os pais também tenham de ficar em casa e o absentismo dispare, com consequências imprevisíveis, mais uma vez pela intrincada rede de interconexões das cadeias de valor”.

Já o condicionamento do acesso a um conjunto de infraestruturas, como transportes públicos, centros comerciais, entre outros podem alimentar também a crise produtiva, conduzindo a uma quebra na procura interna. “Muito do consumo que temos hoje tem uma matriz social – restaurantes, espetáculos”, exemplifica.  “Por outro lado, num clima de incerteza, tipicamente o consumo em geral cai, excluindo eventuais fenómenos de açambarcamento de bens essenciais – a não negligenciar já nos próximos dias”, acrescenta.

“A quebra na procura externa vai depender do que acontece nas outras economias, mas os principais parceiros – Espanha à cabeça – também estão com graves problemas. Estes efeitos combinados podem gerar problemas sérios de cash-flow nas empresas, em particular em Portugal onde as PMEs têm um peso tão elevado. Portugal tem pouca capacidade para lidar com isto de forma isolada, mas pode ser uma oportunidade para as instâncias europeias se afirmarem ainda mais na sua capacidade de resposta a uma crise que vai afectar todos os países membros”, diz o economista, que é um dos subscritores do manifesto que apela à União Europeia uma ação conjunta.

Pedro Brinca diz que “a eventual crise, apesar de potencialmente poder vir a ser bastante acentuada, também se espera que seja de rápida recuperação”, mas “uma vez controlada a pandemia, muito do abrandamento ou mesmo queda da produção anterior pode ser recuperada e espera-se um crescimento acentuado após a situação estar sob controlo”.

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