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Desafios e Perspetivas para 2020

Perante a conjuntura nacional e internacional, a RAM está desafiada a abraçar medidas que sejam simultaneamente de animação da atividade económica, captação de fundos europeus e criação de emprego, enquanto investe em capital humano e na continuação do abatimento gradual da dívida regional.
6 Janeiro 2020, 07h15

Perspetiva global: Quando se iniciar a tentativa de normalização da política monetária nos EUA com o fim das políticas não convencionais e do Quantitative Easing (QE), essa tendência provavelmente será seguida pela Europa, o que resultará numa diminuição da liquidez a nível global. A combinação dessa política monetária mais restritiva com o estímulo fiscal que já está em vigor implicará a continuação das subidas das taxas de juro a longo prazo iniciadas em agosto de 2019, o que irá apreciar o dólar (USD), aumentar o défice da sua Balança de Transações Correntes e arrastar a economia para um aumento da carga fiscal. Esta conjugação de efeitos culminará numa estagnação da economia americana. Mantendo-se as tensões comerciais, a sobrevalorização gritante que se verifica atualmente nos ativos financeiros, e havendo um abrandamento da atividade económica nos BRICS e na Europa, seguir-se-á uma correção dos preços dos ativos financeiros, o que poderá ocorrer sob a forma de um crash no 2.º semestre de 2020 (ou 1.º de 2021), com a agravante de que na próxima crise os instrumentos de política monetária dos bancos centrais serão mais restritos do que na anterior.

Perspetiva nacional: Face à perspetiva pessimista global que acima descrevo, sou também pessimista quanto à perspetiva económica de Portugal para o período posterior ao desencadear da crise global, uma vez que Portugal se encontra numa situação de fragilidades diversas. A mais preocupante de todas as fragilidades é da parte do Estado, que tem a 6.ª maior dívida pública do mundo (em proporção do PIB), apesar de também a dos agregados domésticos (15.ª maior do mundo) e das empresas (17.ª maior do mundo) também serem muito preocupantes. A dívida externa de Portugal é a 13.ª maior do mundo. Todo este pano de fundo de endividamento excessivo e altamente dependente do exterior torna Portugal particularmente vulnerável a crises globais. Outra grande preocupação, que é simultaneamente causa e efeito de tanto endividamento, é a falta de formação de capital. A falta de manutenção de capital físico, como no caso das infraestruturas públicas, chega a ser chocante em rubricas como o transporte ferroviário, em que 62% da via férrea encontra-se em mau estado ou requer atenção. Também em termos de capital humano a evolução tem sido muito preocupante, como se conclui pela estatística da OCDE que põe Portugal como o 4.º país que mais perdeu alunos do ensino superior em termos proporcionais desde 2010. O endividamento excessivo e a descapitalização deixam Portugal numa perspetiva de vulnerabilidade a involuções profundas da produção de riqueza, do emprego e dos rendimentos reais, nomeadamente por contágio de crises e recessões da conjuntura internacional.

Desafios regionais: Perante a conjuntura nacional e internacional, a Região Autónoma da Madeira (RAM) está desafiada a abraçar medidas que sejam simultaneamente de animação da atividade económica, captação de fundos europeus e criação de emprego, enquanto investe em capital humano e na continuação do abatimento gradual da dívida regional. Neste cenário, são prioritárias campanhas de promoção e sensibilização para estilos de vida saudável e uso de transportes públicos, bem como políticas de conversão do setor agrícola para métodos ambientalmente mais sustentáveis, investimento forte na ciência e inovação tecnológica, luta contra o abandono escolar, e reabilitação urbana.

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