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Descarbonização incentiva mudanças nos negócios

Transportes e logística são dos sectores mais pressionados a mudar para cumprir objetivos ambientais, o que passa pela utilização de meios de transporte menos poluentes, mas também pela gestão e pela digitalização, o que requer investimento.
24 Junho 2021, 07h30

Os sectores da logística e dos transportes vão estar sob pressão acrescida por causa das metas definidas pela União Europeia (UE) para a descarbonização, que prevêem uma redução de 55 % dos gases com efeito de estufa até 2030 e a neutralidade carbónica em 2050. No estudo “Net-Zero Portugal – Caminhos de Portugal para a descarbonização”, feito pela McKinsey & Company com a colaboração do BCSD Portugal e apresentado esta semana, é referido que Portugal necessita de acelerar em 20% as tendências recentes de descarbonização para atingir os objetivos fixados para o final da década, num processo que antevêem liderado pelos sectores eletroprodutor e dos veículos elétricos, até 2030, com os transportes mais pesados e a indústria a terem maior peso na transição a partir daí.

“O sector dos transportes é responsável por um quarto do total de emissões de gases com efeitos de estufa na Europa, representando o transporte rodoviário mais de 70% desse volume de emissões. O Green Deal prevê uma diminuição das emissões em 90% até 2050, criando assim desafios importantes para a logística portuguesa, uma vez que o transporte rodoviário é o modo mais utilizado em Portugal, quer no âmbito particular (B2C), quer ao nível empresarial (B2B)”, explica ao Jornal Económico (JE) Fernando Mascarenhas, partner de Advisory da consultora KPMG, que coordenou o estudo feito com a Aplog sobre o sector da logística. “O transporte por modo rodoviário é o mais fiável e flexível, sendo o único que assegura o porta-a-porta, mostrando-se muito competitivo em distâncias curtas/médias, até 400/500 quilómetros e, por isso, o que melhor se coaduna com as dimensões do país”, acrescenta.

 

Revolução ferroviária
Para o governo, a ferrovia é a prioridade (ver texto neste Especial), que o primeiro-ministro, António Costa, define como uma “revolução no transporte de mercadorias”, não só pela capacidade de carga do meio de transporte, especialmente nas ligações externas, como pelo menor impacto ambiental.

“Sabemos que a descarbonização dos transportes é um dos pilares essenciais desta mudança, uma vez que os transportes são responsáveis por 25% do total das emissões de gases com efeito de estufa na UE-27, o segundo sector mais poluente. Para resolver este problema, é necessária uma alteração profunda da tipologia dos transportes utilizados hoje, fazendo com que transportes movidos por energias limpas ganhem quota de mercado. Ora o transporte ferroviário, por ser movido a energia elétrica, terá um papel insubstituível neste desafio que queremos vencer”, afirmou ao JE o secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado.

Os especialistas consideram que existe potencial de transferência de carga para modos menos poluentes, como o marítimo e o ferroviário, em particular nos fluxos de exportação, mas Fernando Mascarenhas considera que a solução terá de passar muito pela “descarbonização e utilização mais eficiente do modo rodoviário, suportada em várias vertentes de intervenção”, nomeadamente pela substituição das frotas de veículos com motores de combustão interna para veículos elétricos ou com motores de células de combustível. “A inovação tecnológica e a extensão da rede de abastecimento tornarão estas soluções comercialmente, economicamente e operacionalmente viáveis durante esta década, dando resposta direta à questão da emissão unitária”, diz.

A isto junta-se a digitalização dos transportes, em particular na mobilidade autónoma e nos sistemas inteligentes de gestão, assim como a “partilha otimizada de recursos, logísticos e de transporte, e pelo uso de meios rodoviários alternativos, em particular no last mile, onde a espectativa de crescimento é mais significativa atendendo ao peso crescente dos canais digitais”, refere ainda Mascarenhas.

“Estas intervenções exigem das empresas capacidade de investimento e competências tecnológicas significativa, o que, atendendo à atomização do sector nacional de transportes, poderão ser barreiras críticas para atingir estes objetivos, caso não se venham a articular os necessários apoios ao investimento, à inovação e à capacitação das empresas”, avisa, no entanto.

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