O nosso país está a crescer. Pode não parecer quando olhamos para a taxa de crescimento do PIB, mas esse não é o indicador para medir um crescimento qualitativo e, neste caso, geográfico: refiro o crescimento das nossas principais cidades, hoje maiores, mais diversificadas e cosmopolitas. Estas, por sua vez, dão uma nova dimensão a todo o país. Lisboa, neste contexto, é a ex libris portuguesa.

Sabemos a causa que está na origem deste crescimento: o turismo. Porém, será que sabemos quais são as consequências? Como sempre, a discussão gera-se em torno da digladiação entre perspetivas positivas e outras negativas, neste caso alarmistas, que têm ganho forma em torno de um conceito já conhecido (e sentido): a “bolha”. É que as perspetivas negativas refletem, de forma quase focada, uma subida dos preços.

Esta visão desconsidera todo o impacto que tem sido gerado, as oportunidades que foram criadas e as que ainda não foram descobertas, ou reveladas. Um dos impactos é o alargamento das cidades que mais têm sentido este boom turístico. O centro histórico de Lisboa já não se confina apenas à Baixa-Chiado. Hoje inclui toda a zona envolvente que vai desde Santa Apolónia a Santos, com passeios alargados e ciclovias que traçam uma linha harmoniosa, convidativa.

Esta ligação está a alargar-se e um dia vai também integrar Belém, que se está a tornar no hub cultural de LIsboa, unida com a Ajuda, que brevemente terá um dos principais museus da cidade, aquando da conclusão da muito aguardada restauração do Palácio Nacional. É natural que estas zonas – as que se estão a tornar numa extensão contígua do centro histórico, e não um destino isolado, agendado para uma visita pontual no roteiro turístico até hoje tradicional – vejam uma subida inicial dos preços, pois ao passarem para o “centro” da cidade, passam a receber mais pessoas, por períodos mais longos. São novas oportunidades de negócio que se geram, porém é também um alívio à pressão inflacionária que se sente hoje no atual centro lisboeta.

Ou seja, o alargamento do centro cria mais focos de habitação cobiçados por aqueles que não querem viver afastados do “coração” da cidade. Logo, após um primeiro momento caracterizado por uma subida de preços, surge um novo equilíbrio, com o aumento da oferta face à procura. Entretanto, a cidade ficará maior, mais bonita e mais pedonal.

Este não é, contudo, o único fator (positivo) que irá aliviar eventuais pressões inflacionárias no mercado imobiliário português. A reabilitação urbana também tem essa função, ainda que não tenha necessariamente esse objetivo a definir a sua orientação. É que, para além de restaurar, a reabilitação também aumenta o número de focos habitacionais disponíveis em locais que anteriormente apenas serviam para ocupar espaço em zonas prime e assim contribuir para a subida de preços.

Contudo, quando estávamos perante uma bolha imobiliária, em 2008, ninguém se incomodava muito com os prédios abandonados ou em ruínas. Não no sentido de estabelecerem uma ligação entre esses e a subida dos preços que se verificava. Olhava-se apenas para novas construções, em muitos casos feitas em cima do joelho e com créditos altamente especulativos.

Hoje, quer os projetos de reabilitação urbana, quer os projetos de novas construções (em muito menor número) têm uma dose especulativa muito inferior e são, em muitos casos, executados por investidores estrangeiros, ou pelo menos contam com algum capital internacional. Estes não recorrem aos créditos dos nossos bancos e, frequentemente, nem recorrem ao crédito sequer. Logo, o conceito de “bolha”, sempre alicerçado na especulação financeira, não se aplica.

Da mesma forma, quando verificamos que apesar das melhorias nas condições e disponibilidade de concessão de crédito dos nossos bancos, não há a corrida ao crédito que houve no passado, nem as ofertas de crédito por parte dos bancos, que chegavam a ser intrusivas, podemos concluir que não há semelhanças entre a bolha do passado e o crescimento (sustentado) atual. Esse crescimento poderá trazer momentos de subidas desajustadas de preços. No entanto, dado ser mais sustentável e não ter os preceitos que consolidam as “bolhas”, esse crescimento gerará um novo equilíbrio, mais proporcional em relação à grandeza (cultural e estética) das nossas cidades e potenciado naturalmente pela atratividade do nosso país.