As Jornadas Mundiais da Juventude, que trouxeram a Portugal cerca de 1,5 milhões de peregrinos de todo mundo, ficaram marcadas por várias polémicas, como o facto de o Estado português, ao contrário de outros países, ter pagado a despesa do evento religioso, fechando até os olhos ao princípio da laicidade; tê-lo feito através de vários ajustes diretos, que vão ter de ser escrutinados e os casos de abusos sexuais na Igreja, silenciados durante anos.

Sobre este último tema, recordo que o PAN propôs a revisão da concordata entre a Santa Sé e o Estado Português, para levantar o sigilo confessional e para que fosse possível assegurar a indemnização das vítimas de crimes sexuais. Mas as polémicas não devem retirar importância às várias mensagens que o Papa Francisco deixou.

Desde logo, não se demitiu de colocar o dedo na ferida, reunindo com vítimas de abusos sexuais e falando abertamente sobre este flagelo. Condenou os abusos e assumiu a responsabilidade como líder da instituição, prometendo uma posição de “tolerância zero” para com os agressores. Palavras que, bem sabemos, tem gerado desconforto dentro da própria Igreja.

Sendo estas umas jornadas da juventude o Papa convocou à reflexão e inquietação dos jovens! Em resposta ao ódio, à intolerância e discriminação, sublinhou que ‘’todos são filhos de Deus’’, um passo importante na abertura da igreja a todas as pessoas, incluindo à comunidade LGBTQIA+.

Mas estas Jornadas ficam marcadas pelo desafio à ação dos governantes no combate às alterações climáticas. As menções à crise climática e à proteção da nossa casa comum, o Planeta, foram inúmeras, tal como o faz na sua Encíclica Laudato Sí. Encíclica na qual, não podemos deixar de referir, afirma que “é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais”

Numa altura em que vemos o país a continuar a ser fustigado pelos incêndios, porque não se aposta na prevenção ou em que o Governo anunciou o abate de 1821 sobreiros para construção de um parque eólico, entre tantos outros exemplos, impõe-se a pergunta: será que ouviram mesmo todas estas mensagens?

Os apelos do Papa Francisco não devem ficar pela espuma dos dias! Cabe ao Governo e também a cada um de nós “desinquietarmo-nos”, pois “não estamos no mundo para servir os nossos interesses, mas ir ao encontro de quem precisa de nós”, como lembrou o Papa Francisco. As pessoas, os animais e o Planeta, precisam de todos!

Senão ‘’Como podemos dizer que acreditamos nos jovens, se não lhes dermos um espaço sadio para construir o seu futuro?”. Desinquietemo-nos, por um futuro melhor.