A polémica audição de Joe Berardo no Parlamento conseguiu unir a esquerda e a direita em Portugal nas críticas ao empresário. A audição no âmbito da segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos ficou marcada por frases como “eu pessoalmente não tenho dívidas”.
Segundo uma auditoria da EY à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD), o banco público tinha em 2015 uma exposição a Joe Berardo e à Metalgest, uma empresa do universo Berardo, num total de 321 milhões de euros.
A 22 de abril, a Lusa avançou que um processo conjunto da Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco e BCP contra o empresário deu entrada na justiça. A ação para cobrança de uma dívida total de 962 milhões de euros, tem como executados Joe Berardo e mais três empresas ligadas a si: a Fundação José Berardo – Instituição Particular de Solidariedade Social, a empresa Metalgest- Sociedade de Gestão e a empresa Moagens Associadas, SA.
Marisa Matias: “Riso de Berardo é o melhor retrato da elite medíocre e parasitária”
O Bloco de Esquerda foi o primeiro a dar o tiro de partida quando a eurodeputada Marisa Matias lançou duras críticas ao empresário um dia depois da audição na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos na sexta-feira 10 de maio.
“Por falar em irresponsáveis, ontem o país teve a oportunidade de ver um deles, em direto, na Assembleia da República. O riso de Berardo, quando confrontado com a sua delinquência financeira, é o melhor retrato da elite medíocre e parasitária”, disse Marisa Matias no sábado, 11 de maio, num comício no Porto, citada pela TVI 24.
António Costa: Joe Berardo tem de “pagar à Caixa o que deve”
Já o primeiro-ministro aproveitou o debate quinzenal na segunda-feira para constatar que o país está “chocado” com o “desplante” com que Joe Berardo respondeu na comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos. António Costa disse esperar que a “justiça funcione”, destacando que “não há nenhuma razão para que a Caixa Geral de Depósitos perdoe qualquer tipo de crédito”.
“O país está seguramente chocado pelo desplante com que Joe Berardo respondeu na semana passada nesta Assembleia da República. Não me competindo a mim, aqui, falar sobre as anteriores gestões da Caixa, o que lhe posso dizer é que a atual gestão da Caixa, nomeada por este Governo, acionou Joe Berardo para pagar à Caixa o que deve”, declarou António Costa no Parlamento na segunda-feira, 13 de maio.
Marcelo Rebelo de Sousa: Berardo tem de ter “noção da sua responsabilidade”
O Presidente da República não se alongou muito sobre a audição de Joe Berardo no Parlamento, limitando-se a pedir mais responsabilidade ao empresário.
“A responsabilidade é maior quanto maior for o relevo de quem desempenhou ou desempenha posições de destaque na vida portuguesa. Todos os outros olham para essas pessoas com maior atenção e com maior exigência de responsabilidade. Isto significa que têm de ter a noção da sua responsabilidade perante a comunidade”, disse Marcelo Rebelo de Sousa na segunda-feira.
PSD: “Berardo não era tóxico quando foi instrumental para tomar conta do BCP”
Por sua vez, Paulo Rangel aproveitou a audição de Joe Berardo para recordar os governos socialistas de José Sócrates.
“Agora dizem que foi um produto tóxico [Joe Berardo], mas quando foi instrumental para tomar conta do BCP, o produto não era tóxico. Nessa altura, estavam ministros que ainda hoje estão no Governo de António Costa”, disse o cabeça de lista do PSD às eleições europeias, citado pelo Expresso.
Joe Berardo é “uma invenção de uma conjuntura político-económica em que havia um Governo que queria controlar a banca e o usou a ele”, acusou o social-democrata num comício em Santa Maria da Feira na segunda-feira à noite.
PCP: Audição de Berardo foi um “escândalo”
Jerónimo de Sousa considerou que a audição parlamentar de Joe Berardo foi um “escândalo”. Numa intervenção na Casa do Alentejo, em Lisboa, na segunda-feira à noite, o secretário-geral do PCP acusou o empresário de “desfaçatez”, segundo o Observador.
CDS: Declarações de Berardo são um “desrespeito pelos portugueses”
Cecília Meireles considerou que as afirmações do empresário são uma “desfaçatez completa” e um “desrespeito pelos portugueses”.
A deputada afirmou que os “créditos mais problemáticos” para a Caixa Geral de Depósitos foram feitos durante os governos de José Sócrates, de acordo com a Lusa.
A centrista também destacou que a coleção Berardo está hoje exposta no Centro Cultural de Belém em Lisboa devido a um “protocolo com o Estado”, assinado durante um governo de Sócrates.
Marques Mendes: Berardo “esteve a gozar” no Parlamento
Já no domingo, o comentador Marques Mendes considerou que o empresário “esteve a gozar” com os portugueses e que a audição foi um “momento lamentável”.
“Não tem respeito pelos milhões que entraram nos bancos devido a si e a pessoas como si. Não tem vergonha. Ele vir dizer que não tem dívida e tem ajudado os bancos é de quem não tem lata”, criticou o antigo líder do PSD na SIC.
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