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Devastação da Amazónia próxima do ponto sem retorno

Novos dados confirmam temores de que a política de Jair Bolsonaro incentiva a extração ilegal de madeira no Brasil, o que coloca cada vez mais em perigo o pulmão do planeta.
25 Julho 2019, 22h35

O desmatamento da Amazónia brasileira subiu acima de três hectares por minuto, de acordo com os últimos dados do governo, empurrando a maior floresta tropical do mundo para mais perto de um ponto a partir do qual já não será possível recuperar. O aumento confirma os temores de que o presidente Jair Bolsonaro tenha dado luz verde à invasão ilegal de terras, extração de madeira e queimadas.

A devastação atingiu em julho (até agora) 1.345 Km2, um terço mais que o registo mensal anterior, segundo a monitorização do satélite Deter B, em órbita desde 2015. “É muito importante continuar repetindo essas preocupações. Há vários pontos de inflexão que não estão longe”, disse Philip Fearnside, professor do Instituto Nacional de Investigação da Amazónia(INIA), citado pelo jornal britânico ‘The Guardian’.

Entre outras consequências, a devastação por interferir na ratificação do maior acordo comercial entre o Brasil e a União Europeia se os legisladores da UE decidirem que o país sul-americano não está a manter o seu lado do acordo – que inclui um compromisso de desacelerar o desmatamento, em linha com o Acordo de Paris.

Os números oficiais do INIA são um constrangimento crescente para Bolsonaro, que tentou dissimulá-los e criticou a atuação do diretos do instituto. No início da semana, o presidente insistiu em que os números deveriam ser exibidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e a ele próprio,  antes de serem divulgados – o que aumentou o receio de que os dados passassem a ser retidos  em vez de atualizados automaticamente online todos os dias, como até agora.

Nos  primeiros sete meses no poder, Bolsonaro, eleito com forte apoio do agronegócio e dos interesses da mineração, agiu rapidamente para enfraquecer os órgãos governamentais responsáveis ​​pela proteção das florestas, segundo a reportagem do mesmo jornal: enfraqueceu a agência responsável pelo meio ambiente e retirou-lhe a independência, colocando-a sob a supervisão do Ministério da Agricultura, liderado pelo líder do lobby agrícola.

Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ernesto Araújo, afirmou que a questão do clima faz parte de um plano marxista global e Bolsonaro e outros ministros criticaram a agência que monitoriza a floresta (Ibama), por impor multas. O governo também removeuvárias proteções para reservas naturais, territórios indígenas e zonas de produção sustentável por povos da floresta e convidou empresários a registar contra-reivindicações de terras dentro dessas áreas.

Após uma redução de 80% na taxa de desmatamento entre 2006 e 2012, sucessivos governos relaxaram as proteções: no ano passado, o desmatamento aumentou 13% para o nível mais alto numa década . Este ano está a caminho de ser muito pior e a tendência está de volta aos dias sombrios do início dos anos 2000.

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